Qual a pegada de carbono de um portfólio de investimentos? A pergunta é crucial para entender a responsabilidade dos gestores de recursos, que financiam a economia real, no processo de aquecimento global — e para direcionar capital para uma economia de baixo carbono. A questão é que fazer esse cálculo não é uma tarefa simples.
Uma nova ferramenta lançada pela iniciativa Investidores Pelo Clima (IPC) em parceria com a startup Deep quer facilitar o cálculo. Gratuita e aberta para todos, ela permite que as instituições financeiras tenham acesso a uma primeira estimativa de risco climático em suas carteiras de investimento.
A plataforma faz a operacionalização da metodologia do Partnership for Carbon Accounting Financials (PCAF), compromisso global para descarbonização dos portfólios de investimento.
“O PCAF já trouxe o caminho de como medir emissões financiadas, mas ele pode não ser tão simples à primeira vista. Nosso intuito foi facilitar esse processo com uma ferramenta intuitiva”, afirma Marina Briant, gerente de programas da Nint, que lidera o IPC com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS).
Lançada inicialmente no fim do ano passado, a ferramenta acaba de ser enriquecida por dados fornecidos pela Deep, que desenvolve plataformas de software com soluções que ajudam na contabilização de métricas ESG pelas empresas.
No banco de dados, estão disponíveis dados de emissões de gases de efeito-estufa de mais de 400 empresas, contra 300 na versão inicial. Uma das principais novidades é que a ferramenta conta agora com dados também de empresas de capital fechado e não apenas daquelas que são listadas em bolsa.
As informações são obtidas de registros públicos de emissão de gases de efeito-estufa e diretamente dos relatórios de sustentabilidade das empresas – cujas informações nem sempre são apresentadas da mesma maneira, o que torna difícil de organizá-las e padronizá-las.
“As bases de dados de emissões de gases de efeito-estufa disponíveis normalmente são de fora do país e não têm tantas empresas brasileiras ou contêm dados mais defasados”, afirma Carlos Novak, gerente de novos negócios da Deep.
A plataforma permite que o usuário use as informações do IPC e também inclua outras manualmente, caso tenha uma empresa no portfólio que não conste na base de dados. Para as companhias em que não há nenhum tipo de dado disponível, podem ser usadas aproximações com base em médias setoriais. O IPC tem uma ferramenta própria para fazer essas proxies também, em conformidade com o PCAF.
A metodologia do PCAF exige que os gestores coloquem as informações de escopo 1 e 2 — que envolve as emissões diretas e advindas do uso de energia — das empresas que estão no portfólio. O uso de dados do escopo 3, que envolve a cadeia de fornecimento e as emissões de dióxido de carbono no uso dos produtos, são opcionais.
“Medir as emissões financiadas é o primeiro passo para os gestores traçarem metas e se comprometem com a descarbonização dos portfólios”, afirma Briant.
Ela lembra que, além da pressão de consumidores e investidores, têm crescido a pressão regulatória. O Banco Central brasileiro já apertou as regras para divulgação de riscos climáticos.
A iniciativa Investidores pelo Clima já reúne 48 investidores profissionais brasileiros, que administram ao todo R$ 2,5 trilhões. Mas a aderência a metodologias como o PCAF ainda é baixa no mercado brasileiro, mostra estudo feito pela Nint.
A Nint é uma das investidoras da Deep ESG, que recebeu uma rodada de investimento de R$ 9 milhões no ano passado.