Como a Vivo está descarbonizando seus fornecedores

Preferência na contratação e adiantamento de pagamento a quem se comprometer com metas de corte de CO2 estão entre as políticas avaliadas pela empresa

Helmeted asian male engineer works in the field with a telecommunication tower that controls cellular electrical installations to inspect and maintain 5G networks installed on high-rise buildings.
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Uma das primeiras empresas brasileiras a assumir compromissos de redução de gases de efeito estufa, em 2015, tão logo foi assinado o Acordo de Paris, a telefônica Vivo está avançando no seu programa para descarbonizar sua cadeia de valor, onde está concentrada sua maior pegada de carbono.  

Após um piloto realizado em 2021, a companhia deu tração a um projeto para incentivar a redução de emissões de seus fornecedores, com uma campanha de educação e engajamento crucial para atingir a meta de cortar as emissões de dióxido da sua cadeia de valor em 56% até 2030. 

E já estuda dar incentivos para os fornecedores que conseguirem entregar reduções de emissões. 

“Queremos que no futuro essas empresas tenham um diferencial competitivo no processo de concorrência da Vivo. Aquelas que cumprem a meta vão ter preferência na contratação em relação a quem não assumiu o compromisso, por exemplo”, afirma Joanes Ribas, diretora de sustentabilidade da Vivo. 

Outra política que está em avaliação é a possibilidade de adiantar o pagamento àqueles que assumirem compromissos climáticos — uma estratégia que tende a ter bastante apelo entre as empresas de pequeno e médio porte, em que o capital de giro tende a ser mais apertado. 

O perfil da Vivo espelha o de muitas empresas brasileiras: as emissões próprias, de atividades controladas pela própria companhia, são relativamente baixas, enquanto aquelas associadas aos fornecedores ou ao uso de seus serviços e produtos, o chamado escopo 3, representam a maior parte do problema. 

No caso específico da companhia, cerca de 85% das emissões estão na cadeia de valor, com a maior parte delas relacionada à compra de produtos e serviços. 

“Para resolver essa questão, não adianta eu impor uma meta, eu tenho que construir junto com o fornecedor. Ele tem que entender o quanto de valor isso cria para a sociedade, para a Vivo — e especialmente para ele, como potencial de negócio, porque no futuro as empresas vão dar prioridade a quem está comprometido com o meio ambiente”, afirma Ribas. 

O programa

Com uma base de mais de 1500 fornecedores, a Vivo fez um funil para os 115 dos segmentos considerados mais intensivos em carbono, que concentram mais de 90% das emissões de escopo 3. 

Nesse perfil, estão grandes multinacionais, como Huawei, Ericsson, Apple, Samsung e Fedex, que fornecem dos aparelhos celulares vendidos em loja aos equipamentos mais pesados usados em infraestrutura de rede, como antenas e transmissores. 

Nesse caso, o engajamento acontece em parceria com a matriz espanhola, que tem seus compromissos próprios de neutralidade de carbono. 

A maior parte, contudo (mais especificamente, 75%) diz respeito a empresas locais. Essa fatia engloba fornecedores de serviços de informação parrudos listados em bolsa e também parceiros de menor porte, que fazem a instalação e manutenção em empresas e residências — e envolvem os deslocamentos feitos de carro ou caminhões entre um ponto e outro. 

“Aqui é o mais desafiador, pois são empresas com pouca estrutura para esse tema”, afirma Ana Leticia Senatore, gerente da área ambiental da Vivo. 

O trabalho de descarbonização da cadeia está sendo feito pela ERM, consultoria bancada pela Vivo para atuar junto aos fornecedores. 

Num primeiro momento, foram feitos sobre a importância do assunto, seguidos de um diagnóstico das necessidades de cada fornecedor — que podem começar com o inventário de carbono. 

“Nenhum fornecedor com o qual a gente começou a trabalhar estava com essa agenda de economia de baixo carbono, ninguém estava olhando para isso como prioridade”, afirma Joanes. “Mas a maioria teve muito interesse. Só vira prioridade se a gente demandar.” 

Com cerca de um ano de trabalho, e um panorama mais claro do que conseguem entregar, os fornecedores já assumiram metas de descarbonização junto à companhia. 

“Ao longo de 2023 vamos ver como será a implementação desse programa e já esperamos começar a ter resultados mais concretos para apresentar”, afirma a diretora de sustentabilidade. 

O desafio é ainda mais complexo considerando o momento da companhia, com expansão da cobertura, especialmente da rede 5G, que exige um aumento relevante da infraestrutura.

Escopos 1 e 2

A Vivo tem o compromisso de se tornar neutra em carbono até 2040, incluindo a cadeia de valor — em linha com os compromissos assumidos com a controladora Telefónica Espanha. 

Desde 2015, a companhia já conseguiu reduzir em 88% suas emissões de escopo 1, que dizem respeito às atividades controladas diretamente pela companhia, e 2, relacionadas à energia para abastecer as operações da empresa.

No caso da Vivo, isso inclui principalmente a operação das lojas e centrais telefônicas – onde a redução se deu essencialmente com metas de eficiência energética — e os carros da frota própria, que tiveram o combustível substituído. 

Na frente de energia, a Vivo já é neutra desde 2018, por meio da aquisição de i-RECs, créditos de compra de energia renovável. 

Nos últimos dois anos, contudo, a empresa vem avançando nessa estratégia com a contratação de usinas de energia renovável distribuída para abastecer suas operações. 

Hoje são cerca de 50 usinas eólicas, solar ou de biogás, num número que deve chegar a 85 até o fim do ano, suficientes para abastecer uma cidade de 320 mil habitantes. Nessa modalidade, a empresa contrata a geração de energia junto a um parceiro, que injeta a eletricidade na rede da concessionária de distribuição local onde ela é consumida. 

“São vários benefícios: estou reduzindo também o risco de falta de energia, oscilação de preço e gerando impacto na economia, criando emprego, algo que só as i-RECs não me dariam”, afirma Ribas.