Apesar de todo o buzz, o caminho para se integrar práticas ESG às gestoras de fundos brasileiras é longo e está apenas no começo.
Uma pesquisa realizada pela XP com 60 casas de renda variável mostra que apenas um quarto delas possui políticas consideradas avançadas sob a ótica da plataforma, nos campos ambiental, social e de governança. E apenas duas casas, JGP e Fama, reuniram condições para serem consideradas referência em ESG no mercado local.
O mapeamento apontou ainda que 35% das gestoras observadas simplesmente não incorporam o ESG na tese de investimentos ou na política interna, enquanto 41% delas têm práticas ainda experimentais, sem uma política clara e transparente.
A ideia foi fazer um retrato do mercado local e ter subsídios para ajudar as assets a evoluir.
“Não adianta eu oferecer um portfólio ESG para o cliente se eu não tenho fundos no qual alocar”, diz Marina Cançado, chefe de sustainable wealth da XP Investimentos.
Mas a tendência é que a pesquisa tenha consequências práticas também na hora de selecionar casas e produtos para indicação aos clientes.
Atualmente, fundos de pensão, por exemplo, já são atendidos pela corretora com um portfólio formado apenas por gestoras classificadas como avançadas ou referências em práticas ESG.
O levantamento foi feito entre outubro de 2020 e julho deste ano, considerando gestoras locais com estratégias de investimentos em ações e que já tivessem recebido investimentos via a XP Advisory, o braço voltado para clientes da corretora com patrimônio elevado, ou distribuídas na plataforma da XP.
Todas responderam um questionário sobre como abordavam a questão em suas carteiras e nas operações internas. Um terço das gestoras (as que possuem peso maior na carteira da XP) foi convidado para entrevistas individuais.
Foram feitos questionamentos sobre os processos práticos para inserir o ESG no negócio, as classes de ativos ou produtos que fazem parte da política, as instâncias de governança adotadas, entre outras. As gestoras também foram perguntadas sobre a diversidade no quadro de funcionários e as práticas adotadas para fomentar a redução de emissões de CO2.
A partir das respostas, a XP ranqueou as gestoras em notas de 0 a 5 e as dividiu nas seguintes categorias: sem práticas ESG, iniciante, avançada e referência. Os resultados gerais foram divulgados num relatório produzido pela corretora e enviado a clientes do private.
Na lanterna
Se apenas duas casas somaram pontos para serem consideradas referência, na outra extremidade do ranking, as assets com notas mais baixas se dividiram em dois grupos.
Aquele considerado ‘mais crítico’, segundo Cançado, é formado por gestores céticos em relação ao benefício da integração de fatores ESG à gestão das carteiras e à empresa.
“Tem gestor que não acha que isso vai impactar no valor da empresa, diz que é modismo e que a prática vai trazer restrições ou limitações ao negócio.”
No outro grupo, parte das gestoras que tiveram notas baixas até desenvolve algum trabalho nessa frente, mas sem dar transparência a ele.
Nesse primeiro levantamento, apenas gestoras que atuam com renda variável foram selecionadas. Nos próximos anos a ideia é levar a pesquisa para outras classes de fundos, como de crédito e de private equity.
“Queremos fazer com todas as gestoras da XP e estamos fazendo isso de uma forma escalável, mas ainda falta braço”, diz Marina.
Por ora, a XP foca nas 60 analisadas, para ajudá-las a subir alguns degraus. Neste processo, a plataforma realiza a devolutiva das notas, pontua os pontos problemáticos e faz o meio de campo da gestora com especialistas em diversas áreas. O acompanhamento será anual.