O iFood é o investidor-âncora no novo fundo lançado pela Yvy Capital, a gestora de Paulo Guedes e Gustavo Montezano. A empresa de entregas se comprometeu a investir US$ 7,5 milhões (cerca de R$ 45 milhões, com base na cotação no momento do acordo) ao longo dos próximos três anos e aposta no veículo como uma maneira de fortalecer a cadeia de valor de motos elétricas no Brasil.
O Fundo FIP Yvy Fábrica de Negócios, como foi batizado, faz parte da tese de transição energética da gestora e é o primeiro na área de desenvolvimento de negócios. O objetivo é captar US$ 50 milhões (pouco mais de R$ 300 milhões) com grandes corporações ao longo do próximo ano e estruturar projetos que contribuam para dar escala à venda de motos elétricas no país.
“Precisamos de um desenvolvimento grande do ecossistema de eletromobilidade no Brasil, de vários elos. Sozinhos, talvez não chegássemos onde queremos chegar”, diz Renata Torres, diretora de logística sustentável e soluções de impacto no iFood. “Com esse fundo de projetos, estão colocando grandes players do mesmo lado da mesa para construir essa cadeia.”
A premissa da Yvy é que faltam projetos bem estruturados no Brasil para receber o dinheiro disponível para a economia verde e, em especial, de transição energética. “Nosso objetivo é desenvolver a cadeia. O investimento será para o desenvolvimento de projetos e vai até a etapa antes deles entrarem em execução”, diz Montezano, sócio e CEO da Yvy Capital.
Além do retorno aos investidores, o fundo tem como objetivo contribuir para que sejam comercializadas 600 mil motos elétricas ao ano no Brasil até 2035 – hoje, esse número gira em torno de 7 mil. A taxa-alvo de retorno do veículo não foi divulgada.
Até que as motos elétricas ganhem as ruas do país, são vários os elos da cadeia que precisam ser desenvolvidos: produção, recarga e reciclagem de baterias, montadoras de motos, instrumentos inovadores de financiamento, e plataformas de comercialização e de aluguel das motos, por exemplo.
“Não adianta pensarmos em cada etapa separadamente. Precisamos que a cadeia produtiva inteira tenha uma escala mínima para que o negócio realmente voe no Brasil. É esse o segredo e é por isso que estamos oferecendo essa abordagem”, afirma Montezano.
Investimentos na cadeia produtiva
O plano da Yvy é criar uma cesta de projetos para investir, simultaneamente, no desenvolvimento de diferentes elos da cadeia de motos elétricas.
Ao fim da captação do fundo de investimento em participação (FIP), a gestora vai se debruçar sobre os projetos que devem ser priorizados e empresas e startups que se destacam como possíveis investidas. O desenvolvimento dos projetos deve levar cerca de dois anos e o período de investimento, outros dois.
“As novas cadeias de valor têm muita correlação com grandes companhias, que querem desenvolvê-las, mas que sozinhas não têm essa capacidade”, diz Bruno Aranha, co-fundador e diretor de novos negócios da Yvy. “Há um conjunto de riscos e uma complexidade muito grande em fazer esses projetos de forma isolada. Com o fundo, congregamos investidores corporativos para compartilhar recursos e conhecimento para a estruturação desses projetos que vão permitir a formação dessas novas cadeias.”
A ideia é que os riscos sejam reduzidos com a estruturação dos projetos por meio do fundo, que manterá o aporte até a decisão final de investimentos, que ocorre após a avaliação de cada projeto. Esses projetos podem, então, ser vendidos e executados, se assim for definido.
Os investidores do fundo terão a opção de exercer o direito de preferência de compra dos projetos, uma vez que sejam desenvolvidos.
Motos elétricas iFood
Hoje, o iFood conta com cerca de 360 mil entregadores ativos. Desses, 50 mil usam bicicletas, 2 mil utilizam bicicletas elétricas e mil entregadores contam com motos elétricas.
O interesse da empresa no fundo da Yvy está atrelado à visão de estruturação do ecossistema, afirma Torres. “Essa foi a primeira vez que investimos num fundo em vez de um projeto específico. É algo muito novo, mas entendemos que é um jeito de movimentar esse ecossistema no Brasil.”
A ideia é a de que a contribuição para a cadeia de valor facilite o acesso de motos elétricas para os entregadores. Segundo a empresa, isso pode gerar mais renda e diminuir custos com manutenção e combustível. Ao mesmo tempo, o iFood caminha em sua meta de descarbonização.
Em 2022, a empresa havia firmado uma parceria com a Voltz, startup de motos elétricas, para permitir o financiamento facilitado por seus entregadores. A Voltz, no entanto, entrou em recuperação judicial e teve diversos problemas de entregas de seus produtos.
A parceria foi encerrada um ano depois, devido à falta de cumprimento de prazos e da qualidade do serviço. Os entregadores que tiveram problemas com a Voltz contaram com o apoio do iFood, afirma Torres.
Nas bicicletas elétricas, a empresa desenvolve, desde 2020, um projeto em que oferece subsídios para o aluguel do veículo, que permite maior conforto e renda para os entregadores, segundo o iFood.
*Atualização às 14h44: O tamanho do fundo em reais foi ajustado de R$ 286 milhões para R$ 300 milhões, devido à cotação no momento do fechamento do acordo. O cargo de Bruno Aranha, diretor de novos negócios na Yvy Capital, também foi atualizado.
*Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil