Vale quer dobrar produção de cobre até 2035 e considera parcerias na área

Mineradora aposta em mineral da transição energética e quer produzir anualmente 700 mil toneladas do metal em 2035

Operação da Vale em Paraupebas, Pará
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A Vale colocou o cobre, metal importante para a transição energética, no centro de sua evolução estratégica para os próximos anos. Em apresentação aos investidores, durante o Vale Day em Nova York, a mineradora anunciou que quer dobrar sua produção do minério até 2035. 

Neste ano, a produção estimada de cobre da empresa será de 345 mil toneladas. A projeção é que esse volume anual suba para a faixa de 420 mil a 500 mil toneladas em 2030 e chegue a 700 mil toneladas até 2035. A produção no projeto Hu’u, na Ilha de Sumbawa, na Indonésia, não está inclusa na conta, diferentemente de outros anos. 

Os números fazem parte do plano estratégico da companhia até 2030. Nos próximos cinco anos, a Vale deve se concentrar em construir um portfólio mais flexível e orientado ao consumidor e em recuperar a confiança de investidores e diferentes agentes, anos após os desastres de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais.

Questionado sobre uma abordagem mais conservadora neste plano do que em edições anteriores, o CEO da Vale, Gustavo Pimenta, disse vê-lo como mais realista. “Estamos levando em consideração o que sabemos e o que não sabemos para construir um plano de longo prazo. Ele é simples, ainda assim ousado, e muito realista”, afirmou Pimenta, que assumiu o comando da mineradora há dois meses, em entrevista coletiva.

“Me sinto extremamente confortável para dizer que tudo que apresentamos aqui é alcançável.”

No curto prazo, a mineradora deve subir seu nível de investimento global de US$ 6,1 bilhões em 2024 para US$ 6,5 bilhões a partir de 2025. Em ambos os períodos, os metais para transição energética devem receber entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões. Projeções além desse período não foram apresentadas. 

O mercado tem voltado seus olhos para o cobre, e aumentado as projeções de demanda, por conta da sua alta condutividade elétrica. Essa característica será importante na transição energética, à medida que cresce a geração de energia renovável e o número de linhas de transmissão. 

O níquel também é importante para essa transição é um dos componentes essenciais de baterias. Neste caso, a Vale deve aumentar sua produção de cerca de 160 mil toneladas por ano para a faixa de 210 mil a 250 mil toneladas por ano em 2030. 

Corrida do cobre

Para acelerar a produção do cobre, a Vale quer realizar o potencial de projetos que já possui, como as minas Sossego e Salobo na região dos Carajás, no Pará. Entre reservas e recursos minerais, só no Brasil, a companhia acumula potencial de 27,6 milhões de toneladas do metal.

“Temos um enorme potencial de acelerar o negócio de cobre. Estaremos focados em trazer esses volumes para o mercado no nível certo de retorno, no momento certo, porque acreditamos que há uma oportunidade única de aproveitar uma infraestrutura já existente”, disse Pimenta.

CEO da Vale Base Metals, subsidiária canadense da mineradora dedicada aos chamados minerais da transição, Shaun Usmar afirmou que existe a possibilidade de estabelecer parcerias para o desenvolvimento de projetos. “Estamos trazendo lentes bastante comerciais para focar na execução”, disse. 

Há depósitos menores de metais básicos que poderiam ser viabilizados economicamente por meio de parcerias, o que permitiria que a Vale agisse de maneira mais rápida, com capital mais baixo e melhor retorno, segundo o executivo. “Todo mundo quer cobre”, afirmou Usmar. 

Mais flexibilidade

Pimenta reforçou ao longo de suas falas que a companhia quer ter um portfólio flexível, que permita sucesso em qualquer período do ciclo da economia. 

Outra estratégia a ser fortalecida pela empresa é a criação de “mega hubs”, nos quais possa trabalhar próxima à indústria siderúrgica em sua descarbonização. 

Com as mudanças no processo de fabricação do aço, os clientes devem migrar para regiões em que tenham combustíveis mais baratos e que emitam menos carbono, como o gás natural, disse o CEO. “E isso é muito benéfico para a Vale, porque essa transição exigirá minério de ferro de alta qualidade, que é o que fazemos.”

Nos destaques de 2024, o executivo apontou o acordo com autoridades brasileiras para indenização e reparação dos danos do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, como um marco importante para a companhia. A mineradora, junto à BHP, vão pagar US$ 170 bilhões.

Após a aprovação do acordo, gestoras como a Robeco e Régia Capital, joint venture da JGP e BB Asset, derrubaram o veto de investimentos na Vale. Hoje, Pimenta afirmou que a companhia teve melhoras em todos os ratings ESG – em alguns casos, em nível acima do que era registrado em 2018. “Ainda há muito trabalho a ser feito, mas é bom ver algum progresso”, disse.