Com um mercado que ainda engatinha no Brasil, a demanda corporativa vem ajudando a puxar a fila dos veículos elétricos. O Mercado Livre acaba de anunciar que vai incorporar 400 veículos movidos a eletricidade à sua frota no país, mais que dobrando o número atual, de 272 automóveis deste tipo.
Outros 400 veículos serão adicionados à frota no México e no Chile, fazendo com que a companhia rompa o patamar de 1000 veículos elétricos em toda a América Latina.
Os recursos para expansão elétrica vêm de uma emissão de títulos de dívida sustentáveis, de US$ 400 milhões, feita em 2021. Transporte e logística são uma das maiores fontes de gases de efeito estufa da cadeia de valor da companhia.
Atualmente, os veículos elétricos – que são utilizados para fazer a chamada ‘última milha’, conectando os centros de distribuição aos pontos finais de entrega – estão concentrados principalmente na região Sudeste, com destaque para a região metropolitana de São Paulo e do Rio de Janeiro, afirma Raquel Keiroglo, gerente de sustentabilidade do Mercado Livre.
Mas o plano é aumentar essa abrangência para todo o país. O principal desafio, afirma, é conseguir ampliar a rede de carregamento das baterias.
“A estrutura de recarga é onde colocamos mais esforços, porque para operar 700 carros elétricos, precisamos de estrutura para carregá-los. Isso envolve não só a infraestrutura física – de carregadoras, pontos, espaços de garagem —, como uma oferta de energia limpa para suprir tudo isso”, diz Keiroglo.
Atualmente, há cerca de 200 pontos de carregamento na América Latina, a maior parte deles no Brasil, localizados nos centros de distribuição.
O Mercado Livre, no entanto, quer ir além da sua própria estrutura e está trabalhando com “alguns parceiros” para ampliar essa capilaridade, garantindo estações em outros pontos das cidades – atuando como uma espécie de indutor para o serviço, que poderá ser utilizado também por carros que não fazem parte da sua frota.
“Estamos em vias de fechar contrato, mas temos três parceiros em vista, em que eles montam a infraestrutura de carregamento em determinados pontos das cidades e a gente aluga esse serviço”, afirma a executiva.
Segundo ela, após dois anos de disponibilidade restrita de veículos elétricos pelas montadoras em meio à carestia de componentes pós-covid, a oferta não é mais um gargalo.
O Mercado Livre faz a negociação de grandes pedidos junto às montadoras, mas a compra é feita ou por empresas de locação de veículos ou pelos próprios operadores logísticos parceiros da companhia. Os carros atendem apenas a empresa de ecommerce, no modelo de frota dedicada. A maior parte são vans da Renault e da JAC Motors, mas não há contratos de exclusividade.
O custo ainda é bem mais alto do que o dos veículos tradicionais, mas quando computada a diferença de preço do combustível, esse valor cai — especialmente em momentos mais críticos como o da disparada do petróleo no ano passado com a guerra da Ucrânia.
“Mas, na essência, é uma visão de longo prazo. Inevitavelmente esses veículos vão cair de preço e a gente já vai ter uma infraestrutura pronta para operá-los de maneira mais rápida”.
Gás natural e biometano
Para a logística de distâncias mais longas, onde está concentrada a maior parte das emissões, o Mercado Livre está apostando em caminhões movidos a gás natural, que emitem 15% menos gases de efeito estufa que aqueles a diesel.
Ao todo, são 139 unidades que rodam com esse combustível, numa das maiores frotas do país. Aqui, o desafio é ainda maior por conta da restrição da malha de gás no Brasil, restrita às regiões Sul e Sudeste, afirma Keiroglo.
“Uma das nossas principais rotas é a que liga São Paulo a Recife, por exemplo, e não tem gás disponível ao longo de toda a extensão.”
Uma das alternativas mais limpas para o transporte por caminhões é o biometano, produzido a partir de resíduos tanto agrícolas quanto de aterros sanitários, e que pode chegar a emitir até 95% menos que o diesel ao longo de todo seu ciclo de vida. A molécula do biometano é equivalente à do GNV e ele pode ser utilizado como substituto perfeito do gás natural.
A alternativa está disponível para algumas rotas pontuais, especialmente no Estado do Rio de Janeiro, que tem uma planta de biometano de maior porte na região de Seropédica. Mas ainda está engatinhando em outros locais.
“As plantas que estão surgindo em geral atendem diretamente a indústria. E elas precisam estar próximas do local de abastecimento ou de gasodutos porque não faz sentido transportar biometano com caminhões a diesel. Mas acreditamos que a disponibilidade deve aumentar cada vez mais”, diz Keiroglo.