Elon Musk não é conhecido exatamente pela moderação com as palavras. Mas uma entrevista sobre como andam as novas fábricas da Tesla dá a dimensão do desafio de toda a indústria de carros elétricos em meio à quebra das cadeias de produção das principais matérias-primas das baterias – e também da encrenca da própria montadora.
“As fábricas de Berlim e Austin são gigantescas fornalhas de dinheiro neste momento. É como um rugido gigante, o som de dinheiro pegando fogo”, disse Musk em entrevista a um clube de proprietários de carros da Tesla no Vale do Silício. (Embora as declarações tenham sido feitas em 31 de maio, elas vieram a público apenas agora.)
As duas unidades foram inauguradas no começo deste ano e seriam chave para cumprir a previsão de vender 1,5 milhão de carros em 2022, 50% a mais do que em 2021, e manter a promessa de exibir essa taxa de crescimento anual no médio prazo.
Agora Musk disse que a fábrica do Texas está produzindo um número ínfimo de carros por causa dos problemas para conseguir produzir um novo – e mais barato – modelo de baterias e também porque os maquinários necessários para fabricar as baterias convencionais ficaram presos em portos chineses.
A fábrica da Alemanha, que já vinha de um atraso de dois anos para finalmente entrar em produção agora, estaria numa situação ligeiramente melhor, segundo o empresário, porque já começou usando as baterias convencionais.
E não são só essas duas fábricas novas que estão com problemas. O lockdown da cidade de Shangai por causa da grande onda de covid que atinge a China prejudicou a produção de carros na unidade chinesa da montadora e também na fábrica da Califórnia, que usa algumas peças de origem chinesa.
“Os últimos dois anos foram um total pesadelo de interrupções na cadeia de suprimentos, uma coisa após a outra, e ainda não terminou”, disse.
Segundo um memorando interno obtido pela Reuters, a produção da fábrica em Shangai deve levar um tombo de mais de um terço neste trimestre. Além disso, a produção na unidade deve ser completamente interrompida nas duas primeiras semanas de julho para que possam ser feitas melhorias para ampliar sua capacidade de produção.
Tudo isso contrasta com o desempenho do ano passado. Apesar dos problemas de fornecimento dos dois anos de pandemia, a Tesla havia conseguido navegar relativamente bem pelos desafios e no ano passado graças a um modelo mais verticalizado que o de seus concorrentes.
No ano passado, a empresa chegou a registrar lucro recorde de US$ 5,5 bilhões, o segundo de seus 13 anos de história.
Mas agora as coisas mudaram e parecem ter ficado realmente feias.
No começo do mês Musk disse que estava com um pressentimento muito ruim em relação à economia e que a empresas precisaria cortar cerca de 10% do seu pessoal e interromper as contratações globalmente. No início desta semana, ele disse que uma redução de 10% nos salários dos colaboradores vai acontecer no curso dos próximos três meses.
“[A maior preocupação é] como mantemos as fábricas operando para que possamos pagar as pessoas e não falir?”, disse Musk.