A fabricante de picapes elétricas Rivian estreou hoje na Nasdaq com uma oferta pública inicial de US$ 11,9 bilhões. Foi o maior IPO nas bolsas americanas em quase dez anos. Em 2012, o Facebook levantou US$ 16 bilhões em sua estreia.
E o que já era uma oferta quente, explodiu logo no início das negociações, com o papel chegando a saltar quase 50%, para US$ 115, o que significa um valor de mercado próximo de US$ 100 bilhões — contra US$ 79 bilhões da Ford.
As ações de fabricantes de carros elétricos em geral protagonizaram algumas das maiores altas nas bolsas neste ano, conforme os investidores aumentam suas apostas na eletrificação das frotas.
Mas tanta euforia também levanta preocupações em relação a excessos. A maioria dessas empresas ainda dá prejuízo, e os analistas se questionam se os investidores não estariam pagando alto demais para se posicionar.
As ações da própria Tesla foram alvo de venda massiva esta semana, em meio a receios de uma bolha elétrica. (A promessa de Elon Musk de vender 10% de suas ações na empresa também não ajudou.)
Mesmo assim, a demanda dos investidores foi tanta que a fabricante de picapes conseguiu fixar o preço de estreia acima do teto indicativo, a US$ 78 no IPO.
A Ford, decana de Detroit, inaugurou a era da produção em massa de carros há mais de cem anos, e vendeu 4,2 milhões de unidades em 2020. A Rivian não pretende entregar as primeiras 55 mil encomendas de seu primeiro modelo, o R1T, antes do final de 2023. Até o fim do mês passado, somente 156 estavam na mão dos primeiros compradores.
A empresa vai investir o dinheiro do IPO na construção de uma segunda fábrica. A expectativa é que rios de tinta vermelha corram por um bom tempo nos balanços trimestrais da startup.
Só nos primeiros seis meses do ano, a Rivian teve prejuízo de cerca de US$ 1 bilhão, quase o mesmo que as perdas do ano passado inteiro. Mas os investidores – que incluem a própria Ford e a Amazon — estão de olho no dia em que carros a gasolina serão relíquias.
Este dia pode chegar mais bem cedo do que se imagina. O Model 3, da Tesla, foi o carro mais vendido na Europa em setembro. A Noruega vai proibir a venda de novos carros movidos a combustíveis fósseis em 2025. Suécia, Irlanda e Holanda, cinco anos depois.
Havia esperanças de que as maiores montadoras do mundo se comprometessem a eliminar as emissões de seus carros até 2040 durante a COP26, mas isso não deve acontecer.
Justificando a não-assinatura de um compromisso, a BMW afirmou que “ainda há incerteza considerável em relação ao desenvolvimento de uma infraestrutura global que sustente uma mudança completa para veículos de emissão zero, com grandes disparidades entre os mercados”.
Mas, como deixa claro o comunicado da montadora alemã, a questão da eletrificação dos carros deixou de ser “se” – o que importa agora é o “quando”.
Empurrão da Amazon
A Rivian nasceu em 2009. Na época, a empresa se chamava Mainstream Motors, e a ideia de RJ Scaringe, o fundador, era vender um carro esportivo.
Mas tentar competir com a Tesla não parecia bom negócio e a companhia passou a se concentrar em utilitários. Mais de dez anos e US$ 11 bilhões depois, a Rivian conseguiu a façanha de ser a primeira empresa a colocar picapes elétricas nas ruas.
Os utilitários são os modelos mais vendidos nos Estados Unidos. A startup vai concorrer diretamente com a Ford, uma de suas investidoras e fabricante do carro mais vendido do país, a picape F150. A versão elétrica, F150 Lightning, deve ser lançada no ano que vem.
Ainda não se sabe quando começam as entregas do Cybertruck, uma picape de design futurista apresentada pela Tesla em 2019.
Outro modelo nos planos da Rivian é uma van movida a baterias. A Amazon, que tinha 22% da startup antes do IPO, se comprometeu a comprar 100 mil desses veículos até 2025 para eletrificar a última milha das entregas.