Camaçari – A chinesa BYD, maior fabricante de carros elétricos do mundo, vai produzir no Brasil híbridos flex plugin, um modelo que funciona com combustíveis líquidos e também tem uma bateria que pode ser carregada na tomada. A produção começa no ano que vem, na fábrica de Camaçari, na Bahia.
O motor foi desenvolvido por engenheiros chineses e brasileiros. Trata-se de uma solução diferente da escolhida pelas montadoras tradicionais presentes no país. Seguindo o caminho da pioneira Toyota, elas optaram por híbridos convencionais, equipados com uma bateria pequena que é carregada durante a movimentação do veículo.
Um caso de uso típico para um híbrido plugin é rodar na cidade apenas com eletricidade, e usar o combustível tradicional em viagens.
A fábrica está sendo construída num antigo terreno ocupado pela Ford no município baiano, na região metropolitana de Salvador. Pouco deve ser reaproveitado da operação dos americanos, que terminou em 2021.
A companhia fez o anúncio durante uma visita às obras. Um palco foi montado na principal estrutura em construção, um edifício de cerca de 800 metros de comprimento que vai abrigar a linha de montagem.
Segundo a CEO da BYD para as Américas e Europa, Stela Li, será a maior unidade de produção da companhia fora da China. Inicialmente, os carros serão apenas montados com kits de peças importadas. A ideia é começar a fabricação local de partes no ano que vem.
A empresa vai contratar 10 mil funcionários entre janeiro e agosto de 2025. A previsão é que o complexo gere 20 mil empregos diretos e indiretos.
Etanol
O primeiro carro equipado com o novo motor híbrido será o Song Pro, um SUV compacto. A fábrica da Bahia também vai produzir o Dolphin Mini, um veículo 100% elétrico.
Trata-se de uma aposta única da empresa em um dos grandes mercados emergentes. A BYD tem crescido mundialmente com modelos híbridos a gasolina e 100% elétricos.
Sujeita a tarifas de 100% para entrar no mercado americano – que podem crescer ainda mais durante o governo de Donald Trump – e de 27% na União Europeia, a empresa está redobrando os esforços de crescimento em outras partes do mundo.
A estratégia também reconhece uma característica peculiar do mercado brasileiro. A rede de recarga para veículos elétricos é ínfima, mas o etanol está disponível no país inteiro.
Com um “empurrão” da bateria, o motor híbrido da empresa torna o rendimento do etanol mais próximo do da gasolina, diz Alexandre Baldy, vice-presidente sênior da montadora e responsável pela operação brasileira.
O motor será fabricado em Camaçari, e o complexo “posiciona o Nordeste como pólo estratégico de inovação e uma referência para a América Latina”, afirmou Baldy.
Falando a jornalistas e autoridades, entre elas o ministro Rui Costa (Casa Civil) e Jerônimo Rodrigues (governador da Bahia), Stela Li perguntou se a região estava pronta para se tornar o “Vale do Silício” brasileiro.
A montagem carros a partir dos kits deve começar no primeiro trimestre, e a produção local, até o fim de 2025, segundo a companhia. A capacidade será de 300 mil carros por ano.
Maus-tratos
Baldy foi questionado sobre denúncias de maus-tratos a trabalhadores chineses contratados por empresas terceirizadas, reveladas em reportagem da Agência Pública. Eles estariam sendo submetidos a jornadas de 12 horas, sem folgas ou acesso a água.
O executivo afirmou que foi pedido o cancelamento do visto das pessoas envolvidas nas denúncias. Companhias chinesas são responsáveis pelas obras da fábrica, que requer “um tipo edificação muito específico”, segundo nota da companhia.
O Ministério Público do Trabalho abriu inquérito para investigar o caso.
* O jornalista viajou a convite da BYD