“Bateria” é a palavra mais mencionada ultimamente quando o assunto é a indústria automotiva, mas nem todas as montadoras estão prontas para abandonar o hidrogênio como uma alternativa para zerar as emissões dos carros de passeio.
A BMW apresentou na segunda-feira o piloto do iX5 Hydrogen, um SUV que será produzido em pequenas quantidades na fábrica da empresa em Munique, Alemanha.
“O hidrogênio é a peça que falta no quebra-cabeças” da mobilidade limpa, disse o CEO da empresa alemã, Oliver Zipse, em comunicado. Uma única solução – os carros 100% elétricos – não será suficiente para tornar realidade a descarbonização, segundo ele.
A previsão da companhia é fabricar cerca de cem unidades, para uso em testes e demonstrações da tecnologia. O carro não será colocado à venda.
Mas a insistência da BMW e de concorrentes como a japonesa Toyota e a coreana Hyundai na tecnologia sugere que o hidrogênio possa ter lugar nas ruas das cidades, ainda que em minoria.
Quando ainda havia incerteza sobre a autonomia das baterias, muitos apontavam o hidrogênio como a alternativa óbvia. Em vez de esperar longos períodos com o carro plugado na tomada, bastaria encher o tanque.
Mas tanto a duração quanto a velocidade de recarga das baterias melhoraram muito nos últimos anos.
Hoje, parece ser consenso na indústria que essa vantagem do hidrogênio faz mais sentido no transporte de cargas. Além do peso excessivo da bateria, todo tempo parado para recarga significa perda de produtividade.
Caso os caminhões a hidrogênio de fato ganhem as estradas, com eles surgirá uma rede de abastecimento, e esse é um potencial motivador para não abandonar a ideia dos carros de passeio movidos a H2.
Hoje, a Alemanha tem cerca de 100 postos capazes de abastecer com hidrogênio, e a expectativa é que o número quintuplique até o fim da década.
Caso haja um esforço para implantar postos que atendam os dois tipos de veículo, o mercado de carros a hidrogênio poderia representar até 30% das vendas da BMW, afirmou o CEO da companhia em entrevista recente.
Um potencial mercado, por exemplo, seriam motoristas que fazem longas viagens e não querem lidar com longas paradas de recarga.
Água no escapamento
Assim como um Tesla, os carros que levam hidrogênio também são tecnicamente “carros elétricos”, porque seus motores são movidos a eletricidade. A diferença está na fonte.
Um Tesla precisa ser carregado na tomada para carregar uma bateria enorme. Já o iX5 Hydrogen gera a eletricidade no próprio veículo de forma constante para acionar o motor.
Isso acontece num equipamento chamado célula de combustível, que combina o hidrogênio com o oxigênio do ar. O que sai do escapamento é vapor d’água.
Apesar de comprovada, a tecnologia ainda tem uso muito restrito. No ano passado, os carros movidos a hidrogênio representaram somente 0,1% do total das vendas, contra 10% dos elétricos.
Um motivo é a minúscula rede de abastecimento. O outro é a fonte do hidrogênio. Para contribuir com a descarbonização, as células de combustível têm de ser alimentadas com hidrogênio verde, ou seja, produzido com fontes renováveis.
Apesar dos investimentos em curso, a produção do H2 verde ainda é muito pequena globalmente, e o pouco que está disponível é disputado por indústrias pesadas que também querem reduzir sua pegada de CO2.