A companhia de petróleo BP, um dos grandes nomes do setor, apostou em uma transformação dos negócios. Mudou a cor da marca para verde, adotou o mote “Beyond Petroleum” e se comprometeu em reduzir investimentos na produção do combustível fóssil.
A missão do presidente do conselho de administração (chairman) Helge Lund, na cadeira desde 2019, era redesenhar a petroleira como empresa de energia e atuar na transição energética. Entre erros e falta de sorte, porém, os ventos mudaram e a empresa voltou atrás.
A reviravolta está levando a uma nova queda de braços entre acionistas, com fundos de pensão de um lado e hedge funds do outro.
A liderança de Lund está na berlinda. Um dos principais acionistas da BP, o fundo de pensão Legal and General (L&G) vai votar contra a reeleição do chairman na reunião anual de acionistas que acontece nesta quinta-feira (17), em um sinal de descontentamento com a mudança de estratégia.
Com 1,8% de participação na empresa, a L&G disse estar “profundamente preocupada” com a decisão da BP de retornar ao petróleo e gás e se afastar dos investimentos em renováveis, além da falta de uma votação no conselho sobre o assunto.
“Acreditamos que as mudanças climáticas representam um risco financeiro substancial e sistêmico de longo prazo para os portfólios de nossos clientes”, disse o fundo de pensão em comunicado publicado em seu site, ao anunciar planos de rejeitar a reeleição de Lund.
Outros acionistas também planejam votar contra a recondução na Assembleia Geral Ordinária (AGO) de amanhã, entre eles a gestora holandesa Robeco e os fundos de pensão Border to Coast e Nest. A liderança de Lund vinha sendo questionada por eles desde 2023, quando a empresa já dava sinais que estava sob pressão e começou a flexibilizar as metas.
Ambos mantêm as críticas e vão votar contra na assembleia. Na avaliação do Nest, o redirecionamento da estratégia “minou a confiança” do comando. A BP disse recentemente que Lund deixaria o cargo “provavelmente em 2026”, mas a L&G avalia que a saída precisa ser acelerada para reduzir incertezas.
Questionada pelo Financial Times, a BP afirmou que tem se reunido com acionistas institucionais e que três quartos deles apoiam a recondução do conselho. Têm ao seu lado a Elliott Management, hoje o terceiro maior acionista da BP, um hedge fund ativista cuja participação é estimada em 3,8 bilhões de libras entre ações e derivativos. O montante é equivalente a quase 5% do capital da empresa.
As gestoras BlackRock e a Vanguard detêm as maiores participações na BP, de 9% e 5%, respectivamente.
Mudança de rota
Inicialmente, a estratégia verde colocou a BP à frente de seus rivais nos esforços para migrar para a energia renovável. Ela derrubou pela metade a produção da companhia entre 2019 e 2024: de cerca de 2 milhões de barris extraídos por dia para cerca de 1 milhão.
O alvo por trás da estratégia era a diversificação dos negócios, com investimentos em energia solar e outras fontes renováveis. A meta era reduzir a produção de combustíveis fósseis em 40% até 2030, levando ao net zero até 2050.
Mas o plano também atraiu resistência. Investidores avaliaram que a estratégia foi agressiva demais. Enquanto a empresa renunciava à expansão da produção de petróleo, o barril chegou a encostar nos US$ 120 após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.
Isso levou acionistas como o Elliott a questionar a estratégia e a pressionar a BP a cortar gastos com energias renováveis. Algumas metas até foram flexibilizadas, como a de redução de combustíveis fósseis, mas isso não foi suficiente. O hedge fund elevou a participação no capital da BP para 5% e exigiu o abandono da estratégia.
A BP abandonou o plano de transição oficialmente em fevereiro deste ano.
Agora a BP prevê uma alta de 50% no investimento em óleo e gás, somando US$ 10 bilhões ao ano. Já o corte nos investimentos em energia renovável será de 70%. Há ainda a intenção de levantar US$ 20 bilhões com a venda de ativos, como a da fabricante de lubrificantes Castrol e a da empresa de energia solar Lightsource.
Apesar da retomada, que envolvem 27 novos projetos de petróleo e 16 bilhões de barris em reserva, a companhia ainda assim não deverá retomar seu nível de produção de 2019.
Ao explicar o recuo no começo do ano, o diretor-executivo (CEO) da BP Murray Auchincloss afirmou em um comunicado ao mercado: “Nosso otimismo por uma rápida transição estava fora do lugar e foi longe demais. Óleo e gás serão necessários por décadas.”
Efeito dominó
A BP não estava sozinha – em nenhum dos dois movimentos. A holandesa Shell e a norueguesa Equinor (onde Helge Lund foi CEO quando ela era Statoil) aumentaram os investimentos em energia renovável, mas anunciaram também um recuo nos últimos meses.
A Equinor reduziu em 50% os investimentos em renováveis previstos para este ano, enquanto a Shell decidiu suspender todos os novos investimentos em eólicas offshore e hidrogênio verde. O motivo foi o alto custo dos insumos dessas tecnologias.
Apesar de lucrativa, a retomada dos investimentos tem novos riscos à vista. As tarifas impostas pelos Estados Unidos aos parceiros comerciais têm potencial de gerar uma recessão global, o que tem feito os preços do barril do tipo brent caírem para a casa dos US$ 60, metade do valor de três anos atrás.
O UBS rebaixou sua recomendação para as ações da BP de “compra” para “neutra” na semana passada, dizendo que a incerteza do mercado tornava sua estratégia mais difícil de ser executada.