Investimentos em renováveis devem superar os de petróleo, diz Goldman. O motivo: custo de capital

Investimentos em renováveis devem superar os de petróleo, diz Goldman. O motivo: custo de capital
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A era do Big Oil parece realmente estar chegando ao fim.

Os investimentos em fontes renováveis de energia no mundo devem superar pela primeira vez os de exploração e produção de petróleo e gás em 2021, nas contas do Goldman Sachs. 

A transição é fruto, principalmente, de uma mudança de paradigma do lado dos investidores e credores, aponta o banco.  

Enquanto os custos para levantar capital para projetos de hidrocarbonetos podem chegar a até 20%, na contramão, os de energia limpa se destacam no extremo oposto, com taxas de 3% a 5%. 

Essa divergência revela que bancos e investidores já estão considerando nas taxas demandadas um preço de US$ 40 a US$ 80 por tonelada de carbono, calcula o Goldman, muitas vezes superior ao que efetivamente vigora.

Hoje, apenas 16% das emissões de carbono são precificadas e o valor médio é de cerca de US$ 3 por tonelada. 

“Os investidores emergiram com um papel de protagonismo em direcionar o debate de mudança climática, pressionando executivos a incorporar a mudança climática em seus negócios, planos e estratégias”, pontua a equipe do banco em um relatório amplo de 37 páginas. 

O número de propostas de acionistas relacionadas ao clima praticamente dobrou desde 2011 e o percentual de investidores votando a favor dessas propostas nas assembleias de companhias listadas triplicou no mesmo período. 

Apesar da pandemia, 2020 é um ano recorde nesse sentido: as propostas de acionistas envolvendo questões climáticas já superaram todas as de 2019, com um aumento mais notável vindo da Europa. 

A mudança de paradigma na indústria já se reflete numa queda de 60% nos investimentos previstos em exploração e produção de petróleo desde o pico em 2014. De lá para cá, a vida útil das reservas de petróleo caiu de 50 para 30 anos. 

Na mesma linha, a transição das grandes petroleiras em direção a outras fontes está acelerando, com 14% de suas orçamentos para o próximo ano dedicados a energias renováveis, contra apenas 4% em 2019. 

“Isso muda, em nossa visão, a questão dos ‘stranded assets’ [os ativos que se desvalorizam na transição energética]  de um problema de demanda para um problema de custo de capital e pode levar a uma transição de energia por meio de preços mais altos para petróleo e gás”, escreveram os analistas do banco.

Nesta semana, a BP fez uma baixa de US$ 17,5 bilhões no seu balanço ao incorporar preços de petróleo mais baixos no longo prazo. O movimento é histórico: trata-se do maior reconhecimento por parte das petroleiras que a exploração parte das reservas pode se tornar economicamente inviável na medida em que o mundo se volta para alternativas mais limpas de energia.

Mais rápido agora, mais devagar depois

Apesar do aumento do engajamento dos investidores, o Goldman Sachs afirma que o coronavírus e a crise econômica causada pela pandemia deve ter dois efeitos antagônicos na curva de descarbonização das economias mundiais. 

Por um lado, os estímulos monetários e financeiros tendem a impulsionar as tecnologias limpas escaláveis e consolidadas, como a energia eólica e solar no curto prazo. 

Mas, por outro, as preocupações com competitividade mais imediata das economias podem atrasar movimentos mais robustos de precificação de carbono, retardando tecnologias nascentes como de hidrogênio limpo e captura de carbono. 

“Um processo de descarbonização em duas etapas pode, portanto, acelerar a descarbonização no curto prazo, mas, em última instância, atrasar o caminho em direção a zerar as emissões líquidas”, disse o Goldman. 

A curva de custo desenvolvida pelo banco e batizada de ‘Carbonomics’ mostra que 50% das emissões globais de CO2 precisaram de um preço de carbono superior a US$ 100 por tonelada para serem neutralizadas com as tecnologias atuais. 

No total, o Goldman calcula uma oportunidade de investimento de US$ 16 trilhões em energia limpa até 2030. A previsão do banco é que o setor pode impulsionar investimentos em infraestrutura de US$ 1 trilhão a US$ 2 trilhões por ano e criar de 15 a 20 milhões de empregos globalmente nos próximos 10 anos.