
A companhia de petróleo britânica BP anunciou nesta segunda-feira (4) sua maior descoberta de petróleo e gás dos últimos 25 anos após perfurar um poço na costa do Brasil. É mais um impulso para a gigante do setor concentrar suas operações em combustíveis fósseis e colocar em segundo plano os investimentos em energias renováveis.
Gordon Birrell, vice-presidente executivo de produção e operações da BP, afirmou em comunicado que a “descoberta significativa” foi a maior da empresa em 25 anos e a décima da companhia ao redor do mundo em 2025.
“Este é mais um sucesso em um ano que tem sido excepcional para nossa equipe de exploração. O Brasil é um país importante para a bp [grafia da própria empresa], e nossa ambição é explorar o potencial de estabelecer um hub de produção significativo e vantajoso no país”, disse Birrell.
A BP planeja aumentar sua produção global para entre 2,3 milhões e 2,5 milhões de barris de óleo por dia em 2030, com possibilidade de novos aumentos até 2035. No ano passado, a produção foi de pouco menos de 2,4 milhões de barris por dia.
O bloco perfurado fica no campo de Bumerangue, na Bacia de Santos, a cerca de 400 km do Rio de Janeiro, e abrange uma área de mais de 300 km². A BP detém 100% de participação no bloco, adquirido em dezembro de 2022 em leilão da ANP, “com termos comerciais muito favoráveis”, segundo a empresa.
A BP não estimou o tamanho ou a qualidade das reservas encontradas. Apenas informou que observou níveis elevados de dióxido de carbono. Segundo o Financial Times, este é um fator que poderia complicar a extração, aumentar os custos de processamento e afetar a viabilidade econômica do projeto. Colocar um campo de águas profundas no Brasil em produção pode levar de quatro a dez anos.
“A bp agora iniciará análises laboratoriais para caracterizar melhor o reservatório e os fluidos descobertos, que fornecerá informações adicionais sobre o potencial do bloco Bumerangue. Outras atividades de avaliação estão planejadas, sujeitas à aprovação regulatória”, diz o comunicado.
Os outros poços perfurados e bem-sucedidos da BP neste ano estão em Trinidad e Tobago, Egito, Líbia e Golfo do México, além de descobertas na Namíbia e Angola por meio da Azule Energy, sua joint-venture com a italiana Eni.
A última grande descoberta havia ocorrido em 1999 em Shah Deniz, um campo de gás natural no Mar Cáspio.
Drill, baby, drill
A descoberta no Brasil ocorre em um momento em que a empresa está mudando sua estratégia. No início do ano, voltou atrás de sua promessa de limitar a exploração de petróleo e gás fora das bacias em que já opera, para reduzir sua produção de combustíveis fósseis como parte de uma transição para energia limpa.
Em fevereiro, o presidente-executivo da BP, Murray Auchincloss, afirmou que a empresa investirá US$ 10 bilhões por ano em petróleo e gás para intensificar a exploração e aumentar a produção, 20% a mais do que o planejado anteriormente.
Inicialmente, a estratégia verde colocou a BP à frente de seus rivais nos esforços para migrar para a energia renovável. Foi quando a companhia mudou a cor da marca para verde e adotou o mote “Beyond Petroleum”.
A companhia derrubou pela metade a produção entre 2019 e 2024: de cerca de 2 milhões de barris extraídos por dia para cerca de 1 milhão. A estratégia era a diversificação dos negócios, com investimentos em energia solar e outras fontes renováveis.
A BP anunciou o objetivo de reduzir a produção de combustíveis fósseis em 40% até 2030, levando ao net zero até 2050. Mas o plano atraiu resistência, principalmente de fundos de hedge, que avaliaram a estratégia agressiva demais. Enquanto a empresa renunciava à expansão da produção de petróleo, o barril chegou a encostar nos US$ 120 após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022.
Isso levou acionistas como o fundo ativista Elliott a questionar a estratégia e a pressionar a BP a cortar gastos com energias renováveis. Algumas metas foram flexibilizadas, como a de redução de combustíveis fósseis.
Agora a BP prevê uma alta de 50% no investimento em óleo e gás, somando os US$ 10 bilhões ao ano, e o corte de 70% nos investimentos em energia renovável. Há ainda a intenção de levantar capital com a venda de ativos verdes, como a empresa de energia solar.