ENTREVISTA: Plano nacional de hidrogênio focará em baixo carbono

Uma proposta de marco regulatório será enviada ao Congresso, diz o secretário de transição energética e planejamento do MME, Thiago Barral

Ilustração mostra bomba de hidrogênio verde
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(Este texto foi publicado em primeira mão na newsletter Carbono Zero. Inscreva-se aqui.)

O que poucos anos atrás era só uma promessa rapidamente está se tornando realidade: o hidrogênio verde será peça fundamental da transição energética – e as autoridades brasileiras, enfim, parecem ter despertado.

Com sol e vento de sobra e um histórico comprovado em projetos de energia renovável, o Brasil sempre esteve entre os países mais bem posicionados para liderar a nascente economia do hidrogênio.

O que faltava era uma abordagem nacional – e transversal, como gosta de dizer o novo governo – para transformar esse potencial em investimento e desenvolvimento sustentável.

O gigante acordou? Depois de alguns vizinhos sul-americanos e outros emergentes de grandes ambições, como a Índia (veja mapa abaixo), o país deve apresentar nas próximas semanas seu plano de ação para o triênio 2023-2025.

A versão original do documento, divulgada em dezembro, recebeu duas críticas principais. A primeira foi a falta de detalhamento e de medidas práticas. Mas foi outra a mais incisiva: não havia prioridade clara para o hidrogênio de baixas emissões. Todas as tecnologias estavam contempladas, inclusive a que usa gás natural, responsável por mais de 90% da produção de hidrogênio hoje e extremamente poluente.

Thiago Barral, secretário de transição energética e planejamento do Ministério das Minas e Energia, diz ao Reset que a versão final será focada em baixo carbono. “Não tenha dúvidas em relação a isso.”

Estima-se que haja mais de US$ 30 bilhões de possíveis investimentos para produzir esse vetor energético no país. Mas quase todas as iniciativas miram o mercado internacional, e o potencial transformador do hidrogênio vai além da exportação de energia barata, afirma o secretário.

Eis como Barral define os pilares da política nacional de hidrogênio:

  • Descarbonizar a economia. “Temos que aproveitar esse hidrogênio verde para reduzir a pegada de carbono dos diferentes segmentos da economia”, afirma. O hidrogênio é fundamental para descarbonizar produtos como aço, cimentos e fertilizantes – e em 2026 a União Europeia começa a sobretaxar as importações de acordo com sua pegada de carbono.
  • Reindustrializar. Barral afirma que já existem estudos para trazer para o país a fabricação de eletrolisadores, o equipamento que faz a quebra da molécula da água (veja o glossário abaixo). Hoje, o mercado é dominado pelos chineses, mas a UE também quer garantir que pelo menos uma parte do hidrogênio comprado seja produzido usando maquinário fabricado por empresas do bloco.
  • Gerar conhecimento. Agências como Aneel (eletricidade) e ANP (petróleo e gás) vão financiar inovações tecnológicas e programas de formação de pessoal.
  • Regulamentar. Uma proposta de marco regulatório será enviada ao Congresso para “garantir a segurança jurídica dos investimentos”, afirma o secretário.

O regramento deve levar mais tempo, pois uma recém-criada comissão especial do Senado vai justamente propor uma ordenação do mercado de hidrogênio no país. Segundo dizem ao Reset os interessados no mercado de exportação, que deve ser o primeiro a gerar grandes volumes, não há maiores obstáculos à vista. (O que obviamente não afasta a possibilidade de gestação de jabutis.)