A Eletrobras tem um “poder de fogo” de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões para expansão até 2027, tanto via crescimento orgânico quanto em fusões e aquisições, conforme apresentado ontem por executivos no encontro anual com investidores.
Privatizada no ano passado, a empresa analisa 11 oportunidades de aquisição no setor, considerando energia eólica, solar ou hidráulica, que podem adicionar 18 GW ao seu portfólio, de acordo com apresentação arquivada na CVM. Há ainda quatro ativos de transmissão na mira.
Além das fontes com que já trabalha, a Eletrobras mira novos canais de receita, como armazenamento de energia, hibridização de fontes renováveis e entrada em fontes não convencionais, como eólica offshore – na qual já estuda um projeto em conjunto com a Shell – e fotovoltaica flutuante.
Mas é o hidrogênio verde que a companhia vê como o principal vetor de crescimento da demanda elétrica no Brasil. Para o CEO da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., o movimento de empresas globais se organizando para ter metas de descarbonização individuais ou setoriais é uma oportunidade para o Brasil, dada suas vantagens competitivas.
Com a busca de setores industriais pelo hidrogênio de baixo carbono, a expectativa é que a demanda se concretize no “curto ou médio prazo”.
“Quando falamos de planta de hidrogênio, estamos falando de coisas muito grandes, já com disputa importante, do mundo inteiro. Então é uma realidade pensar projetos entrando em operação em 2026 ou 2027 com certeza absoluta, que já vai haver demanda importante para esse hidrogênio”, disse Ferreira, a jornalistas, após o encontro.
Questionado sobre a possibilidade de parcerias com outras empresas que estudam entrar no ramo, como a estatal Petrobras, o CEO afirmou que “Talvez nessa linha, a Eletrobras não precise de parceiros porque ela tem volume grande de energia para ser alocada e pode ser alocada nesse novo mercado”.
Compromisso net zero
No primeiro encontro com investidores pós-privatização, a antiga estatal atualizou o mercado sobre os seus planos de expansão e reforçou seu posicionamento como uma empresa “verde”.
Segundo Ferreira, a Eletrobras quer ser “a primeira empresa de energia do mundo” a alcançar a neutralidade de emissões de gases de efeito estufa. Nesta semana, o CEO assinou o compromisso da Eletrobras com o Science Based Targets Initiative (SBTi), que define parâmetros científicos para a trajetória net zero de empresas.
A maior parte das emissões da Eletrobras se concentra no chamado escopo 1, ou seja, aquelas relacionadas à atividade direta da empresa. Segundo a companhia, 97% da energia que gera já provém de fontes limpas – na conta, não entram na conta Itaipu e Eletronuclear, nas quais detém participação, mas não é controladora.
“A Eletrobras talvez seja a companhia que se movimentou mais fortemente no que o mundo espera em energia – ou seja, com mais [participação em] energia renovável e menor emissão por MWh”, afirmou Ferreira.
A principal iniciativa para o net zero é a saída das operações de térmicas. Na última sexta-feira, 7, a companhia informou a mercado estar iniciando a estruturação para o lançamento do processo de venda de 2 GW do portfólio de termelétricas a gás, que inclui as UTEs Mauá 3, Aparecida, Santa Cruz e o conjunto chamado “Complexo Interior” (Anamã, Caapiranga, Codajás e Anori).
Com mais de 5,6 milhões de toneladas de CO2 equivalente (tCO2) emitidas em 2022, a projeção é que esse número seja reduzido em um terço até 2025 e depois caia pela metade até 2027.
“Os volumes das reduções correspondem às saídas ou, em alguns casos, até o desposicionamento que a gente possa ter de usinas [térmicas] que tenham um prazo de concessão terminando”, disse o CEO.