EB Capital cria plataforma de R$ 600 milhões para investir em biogás

Batizada de Bioo, nova empresa em parceria com a gaúcha Sebigás Cótica vai focar em resíduos industriais, e já tem três unidades previstas

Desenho da planta da Bioo a ser construído em Triunfo (RS).
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Após ter levantado um fundo de cerca de US$ 1 bi para investir em teses de impacto socioambiental, a EB Capital está reforçando sua vertical de soluções verdes com uma plataforma de R$ 600 milhões para investimento no setor de biogás. 

Batizada de Bioo, a nova empresa vai começar com três unidades de produção do combustível renovável a partir de resíduos industriais, a primeira delas a ser construída ao lado do polo petroquímico de Triunfo, no Rio Grande do Sul. 

Sua parceira no novo negócio será a Sebigás Cótica, uma empresa brasileira especializada no segmento e com quase 10 anos de atuação que já fez o projeto técnico para grandes plantas do biocombustível, como a unidade de Bonfim, da Raízen, uma das maiores do país, que gera biogás a partir da vinhaça da cana. 

A companhia é uma joint venture entre a italiana Sebigás e a gaúcha Cótica, que tem mais de 45 anos de experiência em engenharia e montagem de unidades industriais de diferentes setores. 

“Só poderíamos entrar nesse investimento tendo a convicção de que estamos com o melhor parceiro, com a experiência necessária para que os riscos de execução estejam sendo mitigados da melhor maneira possível”, afirma Pedro Parente, sócio da EB Capital. 

Dos R$ 600 milhões necessários para erguer as três primeiras unidades, R$ 300 milhões virão na forma de capital, divididos entre a EB – que levantou um veículo específico para a empreitada – e outro coinvestidor, que ainda não pode ter o nome revelado. “É um escritório de investimento do mesmo perfil do nosso”, limita-se a dizer Parente. 

Os R$ 300 milhões adicionais virão na forma de alavancagem, com estruturas de dívida que estão sendo negociadas. A Sebigás Cótica entra com a expertise e o capital intelectual. 

Biogás industrial 

Ainda nascente, o setor de biogás brasileiro vem ganhando bastante tração nos últimos anos. O combustível é um substituto perfeito do gás natural e pode ser transportado pelos mesmos gasodutos para aquecer fornos industriais, além de poder ser usado em veículos que aceitam gás natural veicular (GNV). 

Os investimentos para produção de biogás e biometano, no entanto, tipicamente se concentram em resíduos de aterros sanitários ou de usinas sucroalcooleiras – que têm matéria-prima abundante na vinhaça, um dos subprodutos da moagem da cana. 

A Bioo será pioneira em utilizar resíduos industriais, que serão obtidos num primeiro momento principalmente de agroindústrias. 

“Estamos falando de transformar um passivo ambiental em um ativo. As empresas hoje pagam para transportar e para alguém receber e dar a destinação final a esses resíduos”, afirma Maurício Cótica, CEO da Sebigas Cótica.

Com um modelo de transformação dos resíduos e venda dos produtos obtidos a partir dele, o executivo afirma que a Bioo vai cobrar uma taxa menor que aquela praticada por agentes como aterros sanitários, ainda que o investimento necessário nas duas plantas seja muito maior. 

O biogás e o biometano constituirão a principal linha de receita da nova companhia, mas a Bioo também vai fabricar fertilizantes orgânicos e produzir CO2 voltado para a indústria de alimentos e bebidas. 

Diversificação 

Ao contrário das plantas sucroalcooleiras, que geram isoladamente uma grande quantidade de matéria-prima para biometano, no segmento industrial é preciso unir diversas fontes geradoras. 

Trata-se de um quebra cabeça para juntar ao mesmo tempo as unidades geradoras dos resíduos com os potenciais clientes, considerando os desafios na malha de transporte, já que boa parte do país não é coberta por gasodutos. 


Ao longo da sua experiência, a Sebigás fez um mapeamento de geradoras e diz que, hoje, consegue erguer uma planta sem depender de um único fornecedor. 

“A planta está preparada para receber mais de 40 tipos de resíduos diferentes, que vão desde o processamento da proteína animal até, no outro limite, resíduos de estações de tratamento de saneamento”, afirma Cótica. Outra fonte de matéria-prima são resíduos de restaurantes e lotes vencidos de supermercados. 

A unidade de Triunfo, com conclusão prevista para o começo de 2025, já nasce com um contrato fechado com a Sulgás. A Sebigás venceu uma chamada pública para entregar biogás para a distribuidora de gás natural, antiga estatal que teve o controle vendido para a Compass, do grupo Cosan, no começo do ano passado. 


Ao todo, serão 30 mil metros cúbicos de biogás por dia que serão injetados na rede – o que equivalente a uma planta de médio a grande porte, mas ainda pouco perto dos 2 milhões de metros cúbicos de gás natural que passam pelos dutos da distribuidora. “Isso mostra o tamanho do potencial que temos na região”, diz Cótica. 

Há espaço ainda para ampliação para atendimento de contratos bilaterais com clientes. O foco, num primeiro momento, é o próprio polo petroquímico. 

Novas regiões 

A Bioo está em fase final de negociação para as próximas duas plantas. 

“Vamos seguir esses polos de produção agroindustrial. O Sul é um dos produtores mais concentrados, assim como temos oportunidades em desenvolvimento no Centro-Oeste e no Sudeste”, afirma Cótica. 

Com a oferta de gás natural concentrada no litoral do país por conta da capilaridade da rede de transporte e distribuição, Parente ressalta ainda que o biogás e o biometano são oportunidades de trazer o segmento energético para o interior do país. “É onde está a oferta [de matéria-prima] e ao mesmo tempo existe um grande gap de demanda”, diz. 

Em termos de preço, ele afirma que os contratos de biogás não são sujeitos a variação das cotações internacionais e do câmbio, como é o caso do gás natural, o que traz mais previsibilidade para os compradores. Mas, como se trata de um combustível renovável, a ideia é que ele tenha um prêmio em relação ao equivalente fóssil. 

O plano é que as três unidades já em andamento sejam apenas o começo de um investimento mais amplo no setor. “Existe um potencial muito maior e é para isso que estamos trabalhando no longo prazo”, afirma Parente.