
Produzir energia a partir de fontes renováveis, como eólica e solar, segue como a opção mais barata no mundo, com custos menores que os vistos em projetos de combustíveis fósseis.
A conclusão é de um novo relatório da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês), que fornece estudos técnicos a formadores de políticas públicas. Em 2024, a vantagem financeira foi verificada em 91% dos novos projetos de energia limpa do mundo.
Na liderança do ranking está a energia eólica produzida em terra. Os projetos custaram em média US$ 0,034 por kilowatt/hora, uma redução de 70% em relação a 2010. Mesmo as opções fósseis mais baratas custaram mais: pelo menos US$ 0,073 kw/h no caso do carvão e US$ 0,043/ kWh no caso do gás natural.
A energia solar, hidrelétrica e a eólica em alto-mar também são opções renováveis mais competitivas que os fósseis.
Essa forte competitividade das energias renováveis acelerou de 2023 para 2024, numa tendência de redução de custos constante. No ano anterior, o percentual de projetos mais vantajosos que as alternativas fósseis foi também expressivo, mas ainda em 81%.
Os dados foram apresentados pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, na manhã desta terça-feira (22) em discurso sobre transição energética. O texto foi intitulado como “Um Momento de Oportunidade: Impulsionando a Nova Era da Energia”, e é uma continuação de uma fala do ano passado, “Momento da Verdade”.
“Energia limpa é economia inteligente e o mundo está seguindo o dinheiro”, disse Guterres. “Os líderes devem remover barreiras, construir confiança e liberar financiamento e investimentos.”
A queima de combustíveis fósseis é a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa no mundo – menos no Brasil, onde o principal emissor é o desmatamento. Para impedir grandes mudanças climáticas, os países precisam interromper as emissões líquidas de carbono até 2050, atingindo o chamado net zero. Para isso, é necessário mudar como se produz energia.
As novas plantas de geração de energia renovável adicionadas em 2024 somaram 582 gigawatts (GW), uma alta de 20% em relação à capacidade entregue no ano anterior. A maioria foi de projetos de energia solar, seguida da fonte eólica. Com o acréscimo, a capacidade instalada mundial de energia renovável chega a 4.443 GW. Na União Europeia, por exemplo, o volume de energia solar ultrapassou pela primeira vez a gerada pelo carvão.
Entre as renováveis, apenas a energia solar concentrada, de biomassa e a geotérmica custaram mais caro que o carvão e o gás natural. As três ainda precisam ganhar escala.
Com a diferença de custos, o setor energético economizou US$ 467 bilhões no ano, de acordo com estimativas da Irena. Só no Brasil, a economia foi de US$ 28,3 bilhões.
Apesar dos avanços – e dos diferenciais financeiros – combustíveis fósseis seguem recebendo investimentos. Em 2024, foram destinados US$ 869 bilhões a projetos ligados aos combustíveis poluentes, segundo o levantamento “Banking on Climate Chaos”, realizado por uma coalizão de organizações não governamentais de mesmo nome.
Brasil na liderança
O custo de produzir energia renovável fica ainda mais barato no Brasil e na China, ambos países em que os projetos de eólica têm custo de US$ 0,030 kWh, abaixo da média global de 0,034 kW/h. O menor custo se deve ao potencial natural dos países, produção interna de componentes e desburocratização.
No caso brasileiro, a vantagem permanece mesmo com a verificação de um aumento do custo em relação a 2023, quando era de US$ 0,025 kW/h.
O país também têm custos baixos de energia solar na comparação com Estados Unidos e Europa, a US$ 0,048 kW/h, mas está um pouco acima da média mundial de US$ 0,043 kwh, o que é reflexo da dependência por importação de placas. A China é líder em custos baixos dessa matriz devido à grande capacidade industrial de produção.
Em 2024, a matriz elétrica brasileira foi composta por: 55% de hidrelétricas, 14% de eólica, 9% de solar e 6% de gás natural. O restante foi gerado por fontes diversas como bagaço de cana e nuclear.
O relatório da Irena prevê que há espaço ainda para redução dos custos no Brasil, assim como em outros países da América do Sul, África e Ásia.
Custos de capital
O relatório alerta, porém, para os ainda altos custos de capital para viabilizar a energia renovável em mercados emergentes.
Como exigem investimentos altos, os projetos dependem de financiamento de longo prazo. Isso deixa a atratividade da energia renovável dependente das condições financeiras, como taxas de juros, câmbio e apetite a risco.
Na Dinamarca, apenas 20% do custo do investimento em renováveis em 2024 estavam ligados aos chamados custos de capital. No Brasil, a fatia beirou os 50%. Na África, chega perto dos 70%, assim como na Argentina.
Para manter a atração de investimentos, o relatório recomenda que o país tenha estruturas regulatórias claras, com mecanismos de contratação confiáveis e ambientes de investimento previsíveis.
Também aponta que é necessário tornar a rede de distribuição mais flexível e ampliar sistemas de armazenamento, evitando a intermitência das fontes quando há cessação de ventos e durante a estiagem.
Esse é um gargalo que precisa ser endereçado em todos os mercados, com opções como grandes sistemas de baterias estabilizadoras plugadas à rede. Apesar do alto custo, o preço dos equipamentos também têm caído nos últimos anos.