Arábia Saudita compra fatia da Vale Base Metals e põe fichas na transição energética

Mineradora brasileira vendeu 13% do capital do negócio de níquel e cobre em transação que também incluiu o fundo ativista Engine Nº1

Vale fecha venda de 13% do negócio de cobre e níquel para Arábia Saudita e fundo ativista
Dalian (China), 16/04/2013 - Logo da Vale e bandeiras da Vale, do Brasil e da China; na entrada da Vale Nickel Dalian (VND), refinaria de níquel. [Legenda original AFP: View of Vale logo with the main production facility and flagpoles seen from the entrance to the Vale Nickel Refinery in Dalian operated by VALE Brasil]. Foto: Olli Geibel / AFP
A A
A A

No seu maior investimento feito até agora no Brasil, a Arábia Saudita fechou hoje a compra de 10% do negócios de níquel e cobre (metais básicos) da mineradora Vale, numa transação que faz parte da estratégia do reino de usar os abundantes recursos do petróleo para investir na transição energética. Níquel e cobre são metais essenciais na composição das baterias elétricas.

Outros 3% da divisão de ‘base metals’ foram comprados pelo fundo ativista americano Engine Nº1, que entrou no negócio na reta final a pedido da própria Vale, segundo uma pessoa próxima à transação. O fundo se notabilizou por conseguir emplacar conselheiros na Exxon em 2021 e pressionar a petroleira para se mover na direção de energias renováveis.

Também disputaram o ativo o fundo soberano no Catar, a trading japonesa Mitsui e a General Motors.

Os 13% foram vendidos por US$ 3,4 bilhões – US$ 2,6 bilhões dos sauditas e US$ 800 milhões do Engine –, o que avaliou a Vale Base Metals em US$ 26 bilhões, num múltiplo de 10 vezes o ebitda de 2023, superior ao da própria Vale (4X ebitda) e que superou as estimativas de analistas.

O investimento saudita foi feito por meio da Manara, uma joint venture formada no início deste ano para comprar ativos de mineração mundo afora. A Manara tem como acionistas o fundo soberano do reino, o Public Investment Fund (PIF), e a Ma’aden, mineradora listada em bolsa e controlada pelo próprio PIF.

Não por acaso, a transação foi fechada dias antes da chegada a Brasília de uma comitiva da Arábia Saudita. Além do ministro de investimentos, o CEO da Manara também virá ao Brasil.

“A Arábia Saudita é a China de 30 anos atrás. O fundo soberano tem quase US$1 trilhão do petróleo para aplicar em negócios que transformem o país até 2030 num hub de energias renováveis e o Brasil é um destino privilegiado para isso”, diz uma pessoa que participou do negócio pelo lado saudita.

O negócio com a Vale é a maior transação já fechada pelo reino no Brasil e equivale a cinco vezes o investimento feito em maio deste ano na BRF pela Companhia Saudita de Investimento Agrícola e Pecuário (Salic), que também pertence ao PIF.

Voo solo

A estratégia da Vale com a transação foi segregar um negócio que tem potencial de crescimento exponencial diante da demanda crescente por metais da transição energética, mas que estava ofuscado pela gigantesca operação de minério de ferro, e também se capitalizar para acelerar o desenvolvimento dessa frente.

A Vale Base Metals agora ganha vida própria para avançar, com uma equipe de peso. Seu chairman executivo será Mark Cutifani, que era COO da canadense Inco quando esta foi comprada pela Vale em 2006, dando origem ao negócio de metais básicos. Depois disso, Cutifani, que participou da costura da transação fechada hoje, ainda foi CEO da gigante britânica de mineração Anglo American.