A SulAmérica foi uma das primeiras gestoras brasileiras a se tornar signatária do Principles for Responsible Investment (PRI) da ONU, lá nos idos de 2009 — quando ESG era uma sigla pouco conhecida até fora do país e investimento sustentável parecia papo de bicho-grilo.
Para transformar o discurso em prática, determinou que os gestores tinham que desenvolver scorecards de fatores sociais, ambientais e de governança para as empresas e projetos analisados. Quem falhasse na missão, tinha um corte no bônus no fim do ano.
Logo, o que era obrigação virou cultura e o critério de remuneração passou a não ser mais necessário.
Agora, 12 anos depois, a asset vai voltar a incorporar ESG na política de remuneração do seu time de investimentos, que gere ao todo R$ 46 bilhões. E de uma forma mais sofisticada.
Dessa vez, o indicador que vai balizar o bônus é a pontuação ESG total da carteira sob a responsabilidade de cada gestor versus a performance de 24 meses.
“Queremos chegar em carteiras que tenham scores elevados de ESG, com performances destacadas. A ideia é deixar explícita a questão de que eventualmente posso ter um ano em que até abri mão da rentabilidade, mas que a carteira que tenho é sustentável para o longo prazo”, diz Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos, previdência e vida da SulAmérica.
O movimento faz parte de uma agenda ESG 2.0 da firma de investimentos, que contratou no ano passado a consultoria Resultante para acelerar a jornada.
O trabalho parte da conclusão de que a SulAmérica foi bem em incorporar o ESG no modo “moderado”, mas que há necessidade de se aprofundar mais nos diversos temas que compõem cada uma das letrinhas do acrônimo.
A Resultante está fazendo um pente-fino no trabalho que já havia sido realizado internamente pela SulAmérica e tem como missão e dar mais robustez à avaliação ambiental, social e de governança que foi construída ao longo da última década.
“É muito bom toda essa discussão que estamos tendo de ESG no mercado, mas temos uma preocupação muito grande com a legitimidade dela. Às vezes, a gente percebe um grau de superficialidade grande por parte dos investidores num tema tão complexo. A gente que começou em 2009 está longe de estar maduro na jornada”, diz Mello.
Produtos temáticos
O novo sprint ESG da SulAmérica veio com o lançamento de um fundo rotulado, o Crédito ESG.
Tendo como alvo CDI mais 2% líquido para o investidor, o fundo investe em debêntures, CRIs, CRAs, CDBs, FIDCs e outros produtos de renda fixa. A diferença para outros produtos é que, para entrar na carteira, os papéis têm que ser duplamente bem avaliados: pelo score ESG da própria SulAmérica e também pelo score da Resultante.
“O recado que eu quero passar para o investidor é: sabemos que a questão ESG é subjetiva e queremos dar um peso muito grande para o ESG nesse fundo de crédito. Por isso, para além do meu processo, os ativos passam por um double check de um terceiro especializado no assunto”, diz Mello.
O produto, lançado em fevereiro, tem quase R$ 80 milhões sob gestão e está disponível tanto para investidores institucionais, quanto para pessoas físicas via plataformas de investimento, com tíquete mínimo de R$ 1 mil.
A taxa de administração é de 0,60% sobre o que está alocado em ativos de crédito. Sobre o recurso que não está trabalhando — no caixa ou em títulos públicos –, a taxa é de 0,15%. A taxa de performance é de 20% sobre o que exceder o CDI.
Must have
Com 70% dos recursos vindos de clientes institucionais, como fundações, empresas e seguradoras, a SulAmérica tem visto uma demanda cada vez maior e mais sofisticada por critérios ESG.
“Nos processos de diligência, os investidores querem entender muito como você está nessa jornada ESG. Nos últimos 12 meses isso ganhou muita tração e já vemos algumas fundações com critérios de exclusão de quem não tem essa agenda”, afirma Mello. “No passado, era um ‘nice to have’, agora é um ‘must have'”.
Ainda que de forma mais incipiente, os clientes pessoa física, que perfazem 30% do passivo da gestora, também têm prestado mais atenção ao tema, puxados principalmente pelo grande impulso ao tema dado pelas plataformas de investimento.
“Quando lançamos o fundo de crédito ESG, pensamos muito na pessoa física, que tem essa coisa mais do calor do produto”, diz o executivo, para quem os fundos temáticos são uma boa porta de entrada no tema para investidores individuais.
A ideia é vir com outros produtos temáticos com a pegada ESG, mas sem deixar de lado a integração geral da carteira. “Queremos sempre deixar claro para os investidores que o produto é consequência de um processo muito maior, dos R$ 46 bilhões, uma coisa não existe sem a outra.”