Cerca de 400 pequenas e médias empresas com faturamento entre R$ 360 mil e R$ 2 milhões vão receber um alento inesperado para atravessar o deserto de receitas criado pela pandemia.
Um grupo de empresários, executivos, fundações e empresas se juntou para colocar no ar uma instituição sem fins lucrativos que vai conceder crédito para capital de giro em condições bastante favoráveis.
Batizada de Estímulo 2020, é a primeira iniciativa do gênero no Brasil.
Até agora o movimento já recebeu R$ 20 milhões em doações que servirão de funding para a primeira leva de empréstimos. As inscrições estão abertas pelo site do movimento e os desembolsos começarão a ser processados daqui a uma semana.
Serão selecionadas empresas com um mínimo de três anos de operação, nos setores de comércio e serviços, considerados mais vulneráveis à crise. Saem na frente os negócios com histórico de bom pagador.
O valor do empréstimo será equivalente a um mês de faturamento — o tíquete médio por operação deve ficar em R$ 50 mil. Os juros serão de 4% ao ano e o prazo de pagamento de até 18 meses, com três de carência.
A demanda promete ser enorme. Em apenas dez minutos na tarde de hoje o site recebeu 100 inscrições.
Os cerca de 400 empréstimos dessa primeira etapa certamente terão impacto fundamental na vida de um número significativo de pessoas, mas são uma gota no oceano de pequenas e médias empresas.
“Mas esperamos que outros fundos iguais a esse surjam”, diz Eduardo Mufarej, fundador do RenovaBR e da Good Karma Ventures, que concebeu a ideia. Nos EUA já foram criados quase 600 “relief funds” só para combater os efeitos do coronavírus.
Além da Good Karma, o movimento reúne empresários como Abilio Diniz, André Street, fundador da Stone e Daniel Castanho, da Ânima Educação; executivos do mercado financeiro como Daniel Goldberg e Jean-Marc Etlin; a fundação Arymax, da família Feffer, e muitos outros nomes de peso.
Alguns entraram com doações e outros estão prestando serviços gratuitamente, como o escritório de advocacia Pinheiro Neto e a agência de publicidade África.
Segundo Mufarej, além da expectativa de seguir captando de doações espontâneas, o movimento negocia aportes maiores com organismos multilaterais e bancos de fomento, o que pode escalar a iniciativa.
O projeto foi colocado de pé em três semanas e uma das prioridades é liberar o dinheiro rapidamente, em dois dias, usando a estrutura e a tecnologia de fintechs parceiras. “Não pode demorar. A empresa brasileira não tem fôlego para chegar viva”, diz Mufarej.
Há expectativa de alta taxa de calote, justamente porque muitos negócios podem não sobreviver. “Mas não vamos negativar ninguém”, diz.
E qual o incentivo para que os pequenos empresários honrem a dívida? “Se alguém te desse um dinheiro que salvasse o seu negócio, você não pagaria?”