Petrobras dobra aposta no petróleo e ignora transição energética – e o mercado aplaude

Empresa anuncia aumento de 23% na exploração e produção. A mensagem é clara: foco integral no pré-sal e nos dividendos

Petroleo PEtrobras
A A
A A

Não chega a ser surpresa, mas o novo plano estratégico da Petrobras para o quinquênio de 2022 a 2026, anunciado na noite de ontem e detalhado hoje, praticamente ignora investimentos em fontes de energias limpas, na contramão da direção tomada por outras grandes petroleiras mundo afora.

Mais que isso, a empresa está ampliando a aposta nos fósseis. De um total de investimentos previsto em US$ 68 bi para o período, 84% irão para a exploração e produção de petróleo — um aumento de 23% em relação ao plano anterior.

A mensagem contida no plano, ainda mais agora que o preço do barril está de novo na estratosfera, é clara: as prioridades da empresa continuam sendo avançar no pré-sal e remunerar os acionistas até a última gota.

Para a estratégia de baixo carbono o orçamento é pífio: US$ 1,8 bilhão para descarbonizar sua atividade e ainda investir em novas energias, como biodiesel, mas tudo anunciado sem muita granularidade.

A reação do mercado foi de euforia. As ações da empresa estavam em alta de mais de 4% no meio da tarde, turbinadas pelo enorme pacote de dividendos anunciado e ajudando a empurrar o combalido Ibovespa para cima. A reação do mercado sugere que o fato de a empresa ter deixado para trás a situação falimentar da era Lava-Jato interessa mais do que os combustíveis do futuro. 

No evento com o mercado para detalhar os planos, o desinteresse pela agenda verde não poderia ser maior: a imensa maioria das perguntas dos analistas foi sobre o pacote de dividendos anunciado.

Menos CO2

Para a descarbonização das suas atividades, a companhia mencionou diversos projetos, incluindo a possibilidade de usar navios produtores (FPSOs) eletrificados.

A Petrobras acredita que a competitividade da produção do pré-sal, combinada com uma redução das emissões associadas, pode render frutos numa transição energética que deve durar muito tempo.

“O mercado vai começar a se segmentar [entre os] petróleos mais “[ou menos] descarbonizados. Eles terão um prêmio”, afirmou Roberto Ardenghy, diretor de relacionamento institucional e sustentabilidade da estatal. “É nesse ambiente que vamos melhorar nossa performance.”

A meta anunciada da companhia é reduzir as emissões de CO2 das suas próprias operações – escopos 1 e 2 – em 25% até o fim da década. A intensidade das emissões de CO2 deve cair um terço nas atividades de exploração e produção até 2025, bem como as emissões de metano.  

A companhia também reafirmou a importância da inclusão desses objetivos nas métricas que definem a remuneração variável dos executivos, uma decisão anunciada no PE 2021-2025.

Entre analistas, a sensação é que o investimento nas energias do futuro são tímidos, em especial na comparação com as petroleiras europeias. A francesa Total, por exemplo, já anunciou que 15% de seus investimentos vão para energias limpas.

A Petrobras parece mais alinhada com as petroleiras americanas, que têm resistido mais em fazer a transição dos seus modelos de negócios.

Mas sobre essas, sim, a pressão dos investidores tem sido cada vez maior, como mostra o já lendário episódio em que o pequeno fundo ativista Engine No. 1 conseguiu indicar três diretores independentes para o conselho de administração da Exxon Mobil, a maior empresa de petróleo do mundo, com o objetivo declarado de pensar no lugar ocupado pela companhia num futuro pós-combustíveis fósseis.