Para evitar acusação de greenwashing, empresas ficam ‘na moita’

Pesquisa com executivos aponta que quase um quarto prefere não falar de suas iniciativas net zero, prática batizada de 'greenhushing'

Para evitar acusação de greenwashing, empresas ficam ‘na moita’
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Com medo das acusações de greenwashing, muitas companhias estão evitando divulgar o que vêm fazendo para reduzir seu impacto climático. A prática foi batizada de ‘greenhushing’ — algo como “ficar na moita”, por falta de uma tradução mais exata.

O termo foi cunhado pela consultoria e desenvolvedora de projetos de créditos de carbono South Pole, que publicou uma pesquisa com 1.200 executivos de 12 países sobre os compromissos de descarbonização assumidos por suas empresas.

Quase um quarto dos entrevistados afirmou que os esforços não são comunicados publicamente por medo de que sejam considerados maquiagem verde.

Mesmo que 72% dos executivos tenham declarado que seus planos corporativos são baseados na ciência mais atual, muitos preferem o silêncio ao risco de vê-los associados ao greenwashing.

Essa reticência pode ser problemática, escrevem os autores do levantamento: pois sem comunicação pública é mais difícil analisar as metas e cobrar responsabilidade de quem as propôs.

“Também há menos compartilhamento de conhecimento, o que pode levar a oportunidades perdidas para setores que poderiam trabalhar juntos na descarbonização.”

Sob o microscópio

Embora a pesquisa não tenha perguntado os motivos que levam ao “greenhushing”, são oferecidas algumas suposições. Uma delas diz respeito ao medo das críticas por parte da mídia, de ONGs, de consumidores e também de reguladores.

No começo do ano, dois centros de estudo independentes analisaram em detalhes os compromissos climáticos de grandes companhias globais, incluindo o frigorífico JBS e a mineradora Vale.

As promessas foram consideradas vagas, ambíguas e insuficientes. Sobrou até para a iniciativa Science Based Targets (SBTi), que fornece o selo mais respeitado para metas corporativas de descarbonização à luz da ciência.

A entidade estabelece os padrões e depois cobra das companhias para oferecer as certificações dos planos individuais, o que representaria um potencial conflito de interesse.

Controvérsias sobre o que se diz e o que se faz também têm ganhado destaque no mundo das finanças.

No final de maio passado, a polícia fez uma batida na sede da DWS, uma das maiores gestoras de recursos da Alemanha, para investigar acusações de fraudes ou exageros nas credenciais verdes de seus produtos financeiros.

O caso levou à demissão do CEO da companhia, Asoka Woehrmann, e tornou-se um símbolo do fechamento do cerco contra o greenwashing nos mercados financeiros globais.

A Securities and Exchange Commission (SEC), que regula os mercados de capitais dos Estados Unidos, está propondo regras mais estritas para os termos usados no marketing de fundos.

Mais ou menos divulgações

Essa tensão contém um paradoxo que por enquanto não foi equacionado.

De um lado, existe uma pressão cada vez maior para que entidades privadas divulguem tudo o que fazem para mitigar as mudanças climáticas. Quanto mais informação, mais se cobram responsabilidades e mais aumenta uma competição saudável entre as empresas.

Por outro, existem temores de que o tiro saia pela culatra em termos de marketing e também eventuais flancos jurídicos. 

Grandes instituições financeiras estariam repensando sua presença numa aliança global net zero, entre outras razões, por medo de que certos comprometimentos possam ser entendidos como violações de leis da concorrência.

O estudo da South Pole sugere que as explicações podem ser mais prosaicas que se suspeita. Talvez o estabelecimento de metas alinhadas à ciência esteja se tornando algo corriqueiro, que não merece grandes anúncios.

Ou então os temas são técnicos demais, e os executivos não se sentem à vontade para falar.

O que o levantamento mostrou é um inegável movimento das companhias rumo à descarbonização: 87% dos entrevistados afirmaram ter definido um prazo para atingir a neutralidade de carbono.

Dos que ainda não o fizeram, 40% pretendem estabelecer uma data até o fim do ano que vem. E dois terços das empresas vão fazê-lo seguindo recomendações científicas.

Foram entrevistados representantes de 1.220 companhias com mais de 1.000 funcionários e que têm uma área de sustentabilidade ou responsabilidade social corporativa.