Curto prazo. Essa é a regra do business as usual. É aqui que está a conferência trimestral para prestar conta aos investidores, o esforço para conseguir pagar os juros e manter algum fluxo de caixa, o foco dos executivos da alta liderança para entregar o resultado. Muitas vezes, é também aqui que estão os principais KPIs para remuneração da liderança.
No curto prazo temos o resultado financeiro como diretriz que reina absoluta. Temos os riscos amplamente conhecidos nas metodologias de gestão de risco corporativo nas caixinhas financeira, operacional, regulatória, de mercado etc. Temos as oportunidades também já conhecidas, aquelas que vão otimizar processos, produtos e serviços existentes – no máximo.
Em 2025, exceto no setor financeiro, é uma opção dos investidores, os donos do dinheiro, instruir os executivos a quem confiam a gestão dos seus negócios manter o business as usual, focando nos resultados financeiros no curto prazo.
É igualmente uma opção aprimorar seus negócios, com a incorporação dos temas de clima e natureza materiais do ponto de vista de riscos e oportunidades, atualizando seu planejamento estratégico e trazendo médio e longo prazo para a agenda, mirando na longevidade.
Mas e quando o core do negócio demanda que o longo prazo seja tão (ou mais) relevante que o curto prazo? Complicando um pouquinho mais: e se temos “inúmeros” donos do dinheiro?
Fundos de pensão. Eis a questão.
Não me parece ser possível levantar qualquer questionamento sobre a essencialidade do longo prazo para fundos de pensão. Os donos do dinheiro gerido pelos fundos querem assegurar sua aposentadoria, no futuro.
Em sendo essa a realidade, custo a entender como podemos aventar a hipótese de riscos (e oportunidades) climáticos e de natureza não serem condição sine qua non a ser avaliada nos investimentos realizados pelos fundos de pensão.
Do ponto de vista de dever fiduciário, esses riscos (e oportunidades) devem ser avaliados na tomada de decisão de alocação de capital pelos gestores. Só assim teríamos a devida diligência executada e o próprio dever de se informar que cabe aos agentes fiduciários.
Do ponto de vista regulatório, hoje, no Brasil, o único segmento do nosso sistema financeiro que não tem normativo mandatório para tal avaliação é o previdenciário. Nele, o máximo que temos é a indicação que temas ambientais devem ser considerados na análise de risco de investimentos sempre que possível; ao passo que bancos, empresas de capital aberto e seguradoras todos têm normativos válidos e em vigor demandando a avaliação e/ou reporte de riscos e oportunidades climáticos e de natureza materiais.
Foi interessante descobrir que essa discussão está na mesa e que fundos de pensão no Reino Unido estão agindo.
No início de março, The People’s Pension, Brunel Pension Partnership e Scottish Widows lançaram uma iniciativa de engajamento assinada por mais 24 proprietários de ativos, visando indicar, de forma clara e consistente, o que esperam dos gestores em relação à avaliação de riscos e oportunidades climáticas, subindo a barra do stewardship em todo o setor de investimentos.
Dever fiduciário é o fundamento da iniciativa. Os proprietários de ativos querem promover diálogo construtivo com os gestores para aprimorar eficiências na cadeia de engajamento, assegurando cumprimento dos seus objetivos como parte do mandato.
Passando do plano das ideias para a ação, o The People’s Pension retirou £ 28 bilhões da State Street e repartiu o montante entre Amundi e Invesco, com esta justificativa: “escolhemos priorizar a sustentabilidade, a administração ativa e a criação de valor a longo prazo para os nossos quase sete milhões de membros”.
Neste contexto de mundo esquisito que estamos vivendo, alguém pode estar questionando quanto tempo a iniciativa irá durar até que haja alguma reprimenda. Só que esta é uma ação dos donos do dinheiro… e com o dono do dinheiro não tem ameaça que valha.
Gestores podem até deletar palavras dos seus sites e manter suas estratégias de investimentos com novo vocabulário para driblar impactos negativos, mas donos do dinheiro não precisam disso – haja vista os £ 28 bilhões que voaram da State Street.
Será que algum de nós seria capaz de argumentar que nosso dinheiro de aposentadoria deve continuar sendo investido sem a devida avaliação de riscos (e oportunidades) climáticos e de natureza materiais? Como o bolso continua sendo o órgão mais sensível do corpo humano, duvido.
E você? Sabe onde sua aposentadoria está sendo investida e quais foram os critérios que embasaram essa decisão? Suspeito que não.
Quem sabe este é o movimento que pode nos ajudar a redirecionar capital para a transição econômica verde, beneficiando nosso próprio bolso, logo ali, no médio e longo prazo.