OPINIÃO

Enviado especial da COP30: Amazônia não é ré, é credora no balanço ambiental do mundo

Soluções para a crise climática passam pela Amazônia, mas é preciso tornar a economia sustentável a escolha mais lógica e lucrativa para os empreendedores locais, diz Denis Minev

Enviado especial da COP30: Amazônia não é ré, é credora no balanço ambiental do mundo

Denis Minev, CEO da varejista manauara Bemol, foi escolhido pela presidência da COP30 para ser o enviado especial para o setor privado da Amazônia. Ele e outros 29 enviados especiais têm a missão de apoiar a liderança da conferência no engajamento e na escuta de setores e regiões prioritárias. O Reset publica em primeira mão a primeira carta de Minev sobre a agenda que pretende fomentar.

As soluções para a crise climática global passam, em grande parte, pela Amazônia. É necessário um mutirão pela conservação e pela abundância, onde os amazônidas, com o apoio do mundo, lideram a transição de um modelo de desmatamento para um de regeneração e prosperidade.

Primeiro, é preciso abordar justiça climática: a Amazônia chega a este debate com um imenso crédito ambiental. Enquanto outras regiões avançaram em seu desenvolvimento à custa de seus biomas, nós preservamos 80% de nossa floresta, muitas vezes sacrificando nosso desenvolvimento. A Amazônia não é ré, é credora no balanço ambiental do mundo.  A solução para a crise climática é conjunta, mas a culpabilidade, não.  

Como claramente delineado na quarta carta do presidente da COP30, André Corrêa do Lago, há 30 objetivos-chave. A Amazônia e seu setor privado, em modelo de mutirão global, tem a capacidade de abordar nove delas. Investimentos para parar e reverter o desmatamento e a degradação florestal (5º); esforços para conservar, proteger e restaurar a natureza e ecossistemas com soluções para o clima, biodiversidade e desertificação (6º); recuperação de áreas degradadas e agricultura sustentável (8º); sistemas alimentares mais resilientes, adaptados e sustentáveis (9º); educação, capacitação e geração de empregos para enfrentar a mudança do clima (18º); finanças climáticas e sustentáveis, com integração sistemática do clima em investimentos e seguros (20º); financiamento para adaptação (21º) inovação, empreendedorismo climático e micro e pequenas empresas (28º) e bioeconomia e biotecnologia (29º).

A responsabilidade do mundo no mutirão é financiar a transformação econômica da Amazônia por meio de três pilares: (1) empréstimos de longo prazo, (2) investimentos em ciência e tecnologia locais, (3) precificação justa e funcional para serviços ambientais, especialmente carbono.

A responsabilidade da Amazônia e de seu setor privado no mutirão é liderar com sua vitalidade empreendedora. A tarefa é escalar a produção sustentável de alimentos e produtos florestais, ao mesmo tempo em que expande o sequestro de carbono, protege a biodiversidade e garante o ciclo da água.

O que o setor privado amazônico espera da COP30, do restante do Brasil e do mundo é pragmático: precisamos de políticas e instituições que tornem a economia sustentável a escolha mais lógica e lucrativa para os empreendedores da região.

A realidade hoje é insustentável. O professor Samuel Benchimol, grande pensador amazônico, defendia um desenvolvimento economicamente viável, socialmente justo, ambientalmente adequado e politicamente equilibrado para a região. Hoje, falha-se nos quatro pontos: na economia, a viabilidade favorece atividades tradicionais; tem-se os piores indicadores sociais e ausência de empregos formais; secas, incêndios, desmatamento ilegal e garimpo se alastram; e políticas federais e externas frequentemente ignoram a vontade e a realidade dos amazônidas, gerando um desequilíbrio que impede o sucesso.

Ações de comando e controle são importantes, mas sem alternativas econômicas viáveis, são vistas localmente como uma ameaça ao futuro e, portanto, resistidas. O que fazer então? É hora de abandonar o maniqueísmo que divide a região entre heróis e vilões e buscar o pragmatismo. O setor privado da Amazônia, como qualquer outro no mundo, responde a incentivos. Hoje, a falta de viabilidade econômica direciona o capital para o lucro rápido da ilegalidade e da degradação.

Como avançar? É preciso um novo paradigma: criar oportunidades para que milhares de empreendedores amazônicos prosperem com negócios sustentáveis. O sucesso pode ser medido por métricas claras: (1) hectares recuperados em modelos produtivos que armazenam carbono, como sistemas agroflorestais; (2) número de empreendedores prosperando; (3) volume de empregos de qualidade gerados; e (4) número de municípios com casos de sucesso para inspirar a região.

Vislumbremos um futuro onde a Amazônia alimenta o mundo e armazena carbono, onde seus cidadãos têm saneamento e conectividade, enquanto produzem ciência de ponta.  Em uma próxima carta tentarei detalhar passos concretos, pragmáticos e factíveis para polinizar a Amazônia nesta direção.

*Denis Minev é economista e CEO da Bemol, além de investidor em projetos sustentáveis na Amazônia. Foi secretário de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Amazonas e cofundador da Fundação Amazonas Sustentável.