Janeiro foi o mês mais quente da história. Com uma média global 1,75 °C mais elevada do que o mesmo período do ano passado, e altas temperaturas no Canadá, Alasca, Europa, Austrália e sul da América do Sul, o planeta enfrenta um cenário contraditório. Enquanto os impactos das mudanças climáticas se intensificam e afetam milhões de pessoas, há uma desproporção alarmante na forma como as nações direcionam seus recursos para combatê-las.
A COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, tinha como meta arrecadar US$ 1,3 trilhão por ano dos países desenvolvidos para financiar projetos climáticos, mas o acordo final aprovou apenas US$ 300 bilhões anuais até 2035. Em contrapartida, o gasto global com armamentos ultrapassou US$ 2,4 trilhões em 2024, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos. O volume é 7,4 % superior ao ano anterior e o equivalente a 2,2% do PIB mundial.
Vale observar que, segundo o relatório do National Bureau of Economic Research 2024, os danos causados pelas mudanças climáticas podem ser seis vezes maiores do que o esperado e o PIB global pode encolher até 12% a cada 1°C de elevação na temperatura da Terra.
É neste contexto que a COP30, em Belém, no coração da Amazônia, adquire ainda mais simbolismo e relevância. Há uma grande expectativa e oportunidade de que ela possa concentrar e renovar esforços e levantar os recursos imprescindíveis para conter a progressão da temperatura no planeta. O evento também representa uma oportunidade única para que nosso País lidere o debate global sobre clima.
O Brasil já deu passos concretos rumo a uma economia de baixo carbono com a sanção da Lei 15.042/2024, que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Esta nova regulamentação estabelece regras mais claras para grandes emissores e incentiva projetos de redução de emissões, como reflorestamento e energias renováveis. Um modelo alinhado às diretrizes do Artigo 6 do Acordo de Paris e que posiciona o Brasil como protagonista para uma economia de baixo carbono.
Outro grande movimento está na aprovação da Taxonomia Sustentável Brasileira, que pode tornar o País um exemplo global de integração entre sustentabilidade, desenvolvimento econômico e justiça social. A taxonomia orienta investimentos para setores que geram impacto ambiental positivo e promovem inclusão social, garantindo critérios claros e evitando o greenwashing. Além de mobilizar recursos, ela estimula a competitividade e a inovação, impulsionando avanços socioeconômicos e ambientais essenciais para o futuro do Brasil.
Mas está claro que, além do poder público, a iniciativa privada desempenha um papel essencial na transição para uma economia de baixo carbono. Para as organizações, o chamado à ação para o cuidado com o meio ambiente deve vir embalado de uma efetiva transformação e carregada de intencionalidade.
Segundo o relatório Sustainable Signals 2024, da Morgan Stanley, que analisou mais de 300 empresas, 85% dos entrevistados estavam cientes de que a sustentabilidade impactava a estratégia corporativa de longo prazo. Ainda assim, sete em cada 10 alegaram que o investimento necessário seria um obstáculo significativo para execução.
O Panorama da Sustentabilidade no Brasil, da consultoria alemã Roland Berger, corrobora com esse indicador, já que quase 50% das companhias ouvidas nesta pesquisa afirmaram que a injeção de recursos em sustentabilidade não representa 1% de sua receita. É pouco, tendo em vista os riscos inerentes ao colapso social e econômico gerado pela elevação da temperatura.
Um dado recente do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, reitera o quão vulneráveis estamos: 38 milhões de brasileiros, de 1.561 municípios, são vulneráveis à desertificação e à seca, assim como 1,4 milhão de quilômetros quadrados de terras em 13 estados.
É legítimo encontrar desafios nos modelos de financiamento. No entanto, os líderes empresariais estão cientes que práticas comerciais sustentáveis são um combustível para a criação de valor. O próprio Fórum Econômico Mundial mostrou que incentivar uma economia positiva para a natureza poderia gerar US$ 10,1 bilhões em oportunidades de negócio anualmente e criar 395 milhões de empregos até 2030.
No Brasil, já vemos uma série de iniciativas para reduzir pegada de carbono e promover um impacto socioambiental positivo. Investimentos em energia renovável e eficiência energética, economia circular, projetos de proteção e regeneração de florestas e biodiversidade são frentes em que o setor privado pode liderar na transição para um modelo econômico mais sustentável. E o mais importante, as empresas têm o papel de dar potência e escala às suas ações e mobilizar seus parceiros e fornecedores – suas cadeias de valor – para acelerar essa transformação e garantir que a proteção ambiental esteja integrada ao desenvolvimento social e dos negócios.
O chamado é coletivo, pois a urgência climática não permite esperar. E a bola agora está com o Brasil, que detém a maior biodiversidade do planeta. Com sua riqueza ambiental e potencial de inovação, o País tem tudo para ser um catalisador dessa mudança e contribuir para que a COP30 marque o início de uma nova era de sinergia entre nações, organizações e sociedade.
*Joanes Ribas, diretora de Sustentabilidade da Vivo, presidente da Comissão ESG da Abrasca e membro do Conselho Orientador da Rede Pacto Global – CORB