Frigoríficos brasileiros avançam em ranking ESG internacional do setor

Marfrig é primeira colocada entre os pares, enquanto Minerva é destaque negativo no índice da FAIRR, iniciativa apoiada por investidores que gerem mais de US$ 25 trilhões

Frigoríficos brasileiros avançam em ranking ESG internacional do setor
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Num ano de forte escrutínio dos investidores a respeito de questões ambientais, medidas tomadas pelos frigoríficos brasileiros fizeram com que avançassem na terceira edição do ranking da FAIRR, uma rede de investidores que avalia empresas que usam a criação intensiva de animais com base em critérios sociais, ambientais e de governança (ESG).

Apesar disso, a organização afirma que as empresas ainda precisam avançar em questões “básicas” de sustentabilidade e faz uma alerta de que a política temerária do governo em relação ao meio-ambiente pode dificultar a atração de capital pelo setor e, em última instância, comprometer até o risco soberano brasileiro. 

“O futuro do setor é altamente ligado à gestão ambiental por parte do governo federal e à sua disposição em preservar os recursos naturais que sustentam o crescimento do setor”, alertam os analistas. “Dada a ligação intrínseca com o capital natural, políticas no nível nacional e regional afetarão as perspectivas e o cenário para o setor e o país.” 

No ranking deste ano, a Marfrig subiu seis posições e ficou em quarto lugar entre 60 empresas de capital aberto avaliadas, destacando-se entre as empresas de carne bovina, suína e de frango. As três primeiras colocadas são dos segmentos de aquacultura e laticínios. 

A companhia de Marcos Molina tomou o lugar da concorrente americana Tyson Foods, que caiu do quarto para o quinto lugar, enquanto o JBS saiu da 17ª posição para a nona. A  BRF foi de 13ª para décima. 

Entre as brasileiras, o destaque negativo ficou para a Minerva, que saiu da 22ª para 33ª posição e foi a única a ser enquadrada na faixa de ‘alto risco’, que engloba cerca de 60% da amostra.  As demais brasileiras foram todas consideradas de ‘risco médio’.

Acrônimo para Farm Animal Investment Risk and Return, a FAIRR é uma rede de investidores que conta com o apoio de gestores globais que administram ao todo mais de US$ 25 trilhões. 

É uma iniciativa da fundação de Jeremy Coller, grande investidor e filantropo inglês, vegetariano desde criancinha, e ativista contra os impactos da chamada ‘factory farming’, que envolve a criação de animais em larga escala, sobre o meio-ambiente. 

O objetivo é fornecer informações para que investidores façam alocações considerando os riscos socioambientais das companhias, dando incentivos (ou penalidades) econômicos para fomentar as melhores práticas. 

O índice leva em consideração dados públicos referentes a dez fatores de risco, ponderados por segmento, de acordo com a sua materialidade. 

São eles: emissão de gases do efeito estufa; desmatamento e perda de biodiversidade;  escassez e uso da água;  uso de antibióticos;  geração de resíduos e poluição; condições de trabalho; segurança alimentar; bem-estar animal; produção de proteínas sustentáveis; e governança. 

Altos e baixos 

Uma das razões para a boa colocação da Marfrig no ranking é sua postura em relação a emissões de gases de efeito-estufa. 

A companhia é a única brasileira que tem um inventário completo de gases de efeito-estufa, incluindo as emissões agrícolas que vêm da ração animal, além de ter metas baseadas em ciência para redução desses gases.

Num momento em que os investidores querem visibilidade sobre as questões ESG das empresas, a transparência tem peso forte sobre a nota atribuída pela FAIRR. 

Outro ponto positivo identificado pela instituição foi que a companhia, ao contrário dos pares, traça cenários relacionados ao clima, de acordo com o que prevê o TCFD, ainda que de forma parcial, discutindo quais riscos e oportunidades relativos a mudanças climáticas há em suas operações. 

A JBS sinalizou à FAIRR que pretende fazer o mesmo tipo de exercício nos próximos dois anos, enquanto não há planos por parte de BRF e Minerva. 

Uma política restrita para usos de antibióticos no rebanho também foi outro fator que contou pontos positivos para a Marfrig. Na mão oposta, a Minerva sequer divulga sua política relativa a antibióticos. 

A companhia também é a única avaliada no país que ainda não tem iniciativas para produzir proteínas à base de vegetais, aponta a FAIRR.  

A BRF e a Minerva performaram mal em relação ao uso e escassez de água por conta “da falta de divulgação e baixa performance na gestão da água utilizada em suas próprias fábricas e no engajamento com a cadeia de fornecimento na questão do estresse hídrico”.

Desmatamento 

No aspecto mais sensível relacionado à cadeia de pecuária no Brasil, o desmatamento, a FAIRR reconhece as políticas dos três principais frigoríficos de carne bovina — JBS, Marfrig e Minerva — no monitoramento da cadeia direta. 

Mas desconta pontos por conta da dificuldade de monitoramento da cadeia indireta, dos fornecedores de bezerros ou bois magros para engorda aos fornecedores diretos, o calcanhar de Aquiles da indústria. 

Recentemente, JBS e Marfrig fizeram compromissos para zerar o desmatamento associado à cadeia indireta na Amazônia até 2025, mas ainda precisam entregar resultados, e não têm compromissos para o Cerrado, outro bioma ameaçado. 

Na metodologia da FAIRR, no item “engajamento com fornecedores, monitoramento e rastreabilidade de gado”, a Marfrig teve nota de 86%, a JBS, de 60%, e a Minerva, de 52%.

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