A Petrobras e a Régia Capital, joint venture da BB Asset e JGP, acabam de criar um fundo de impacto para acelerar projetos socioambientais no Brasil e transformá-los em negócios sustentáveis. O veículo nasce com R$ 100 milhões, metade da estatal e metade de fundos da gestora. Os primeiros desembolsos devem acontecer ainda neste primeiro trimestre.
“Pelo pipeline que temos traçado, não me surpreenderia se chegássemos à COP30 [em novembro] exauridos de recursos”, diz ao Reset José Pugas, sócio e diretor de sustentabilidade da Régia. O portfólio deve abranger de cinco a dez empresas, com volumes diversos de investimentos.
O Fundo Petrobras de Bioeconomia, como foi batizado, é um veículo de crédito que vai buscar empresas com capacidade de pagamento e propostas com impacto positivo. Financiar um projeto específico de uma grande companhia ou as atividades de uma empresa de reflorestamento estão entre as opções.
“Pela capacidade do fundo e seu custo mais competitivo, ele pode atuar como capital concessional e mobilizar recursos para projetos bem maiores”, afirma Pugas. “O tamanho do projeto não necessariamente é um impeditivo para nós.”
Na barra mais baixa, projetos menores, cujo custo da estruturação da operação podem ser um empecilho, têm encontrado alternativas. “Temos visto uma aglutinação de diferentes partes. Um produtor de 2 hectares, por exemplo, se junta a outros 100 e consegue ter acesso ao financiamento.”
Serão priorizadas iniciativas em áreas sujeitas à pressão de desmatamento e críticas do ponto de vista da ação climática e da preservação da biodiversidade. Propostas que impactem positivamente a geração de emprego e renda e que tenham potencial para gerar créditos de carbono e de biodiversidade também estão na mira.
A Petrobras comprometeu seu capital por dez anos, e o retorno de seu investimento será reinvestido no veículo durante o período.
“Embora esses sejam recursos que retornem para a companhia, diferentemente dos não-reembolsáveis, o objetivo é que esse capital seja reciclado e que consiga ampliar cada vez mais o apoio a projetos e aumentar sua escala de impacto”, diz Gregório Araújo, gerente de projetos ambientais da Petrobras.
Outras rodadas de captação devem ser abertas com foco em investidores institucionais, como bancos de desenvolvimento e mecanismos multilaterais.
Dinheiro de impacto
O fundo é um dos poucos do Brasil a usar a estratégia chamada de compensação ligada a impacto (ou impact linked compensation, em inglês), o que, na prática, significa que a taxa de performance da gestora não dependerá apenas do bom desempenho financeiro.
A decisão não é trivial. Por definição, fundos de impacto adotam uma estratégia cujo investimento precisa ter um impacto social e/ou ambiental positivo e mensurável. Mas atrelar esses resultados à remuneração variável é um desafio adicional, dada a dificuldade de mensurar o avanço.
Os investimentos serão feitos com base em 14 objetivos, desdobrados em mais de 90 indicadores.
A taxa de retorno projetada para o fundo é de IPCA + 4,8%. Normalmente, se o retorno financeiro supera o benchmark, o gestor tem uma remuneração de cerca de 20%. No caso do novo fundo, o sucesso do portfólio em provocar impacto socioambiental em linha com os objetivos traçados pode elevar essa porcentagem a 30% para a Régia.
“Falamos sempre de alinhar capital financeiro com capital natural e social. É um belíssimo discurso. Agora, estamos inserindo, na prática, essa ideia na arquitetura financeira do fundo”, diz Pugas.
Os projetos contemplados terão que reportar seus avanços à gestora, que fará o monitoramento dos dados. Os relatórios também deverão ser submetidos à verificação de uma organização apta a emitir uma opinião independente.