Um raio-X (positivo) dos fundos ESG no Brasil, segundo o Itaú BBA

Relatório mostra crescimento de número de fundos e ativos sob gestão, com destaque para a renda fixa, mas segmento ainda engatinha

Um raio-X (positivo) dos fundos ESG no Brasil, segundo o Itaú BBA
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Os fundos de investimento sustentáveis ensaiaram uma decolagem no mercado brasileiro nos anos de 2020 e 2021, embalados pela hype global e local em torno da agenda ESG. Mas não demorou muito para a categoria nascente perder fôlego e ser deixada de lado pela maior parte do mercado, apesar de avanços na autorregulação e também nas regras da CVM. Os juros altos dos últimos anos, que tiraram a atratividade de ativos de maior risco e fundos alternativos, ajudam a explicar o movimento.

Mas um relatório que acaba de ser produzido pela equipe de analistas do Itaú BBA mostra que há boas notícias e, talvez, um ponto de inflexão para os fundos sustentáveis no Brasil

Em suma: o número de fundos tem crescido, a captação está positiva e a performance média das carteiras bate o mercado de fundos no período analisado. Tudo isso fazendo-se a ressalva de que o segmento ainda é minúsculo no país – ou, como dizem os analistas, está em sua infância.

Em abril, o mercado brasileiro alcançou 120 fundos ESG, geridos por 40 casas diferentes. É um crescimento de 36% em relação aos 88 fundos que existiam ao fim de 2022 – no fim de 2023 existiam 114 fundos.

O volume de dinheiro nesses fundos totalizou R$ 12,8 bilhões (49% em ações e 49% em renda fixa), R$ 4,5 bi a mais do que os ativos sob gestão ao fim de 2022. 

Só nos primeiros quatro meses deste ano, o avanço dos ativos sob gestão foi de R$ 2,1 bilhões. Uma parte disso deveu-se à valorização das cotas, mas a entrada de dinheiro novo mesmo (net new money) foi de quase R$ 2 bi de janeiro a abril, praticamente o dobro de toda a captação vista em 2023.

Os números são particularmente interessantes quando se leva em conta que a indústria de fundos como um todo teve resgates líquidos de R$ 108 bi no ano passado.

Mas, apesar dos bilhões captados, o segmento representa apenas 0,15% dos ativos totais da indústria de fundos no país, uma gota no oceano. “Os fundos ESG têm muito espaço para crescer”, escreve a equipe.

Os analistas usam como data de corte para início do estudo o ano de 2022, quando a Anbima (associação das instituições do mercado de capitais) passou a reclassificar os fundos ESG seguindo a padronização criada meses antes. Os fundos foram divididos em duas categorias: os fundos sustentáveis, que têm a sustentabilidade como objetivo central e são identificados pelo sufixo IS, de investimento sustentável, e os fundos que integram métricas ESG à sua análise de investimento. Pelas regras, apenas os fundos classificados como IS podem carregar em seu nome expressões como “ESG”, “green”, “sustentável” ou “impacto”.

O levantamento mostra que os fundos IS têm ganho protagonismo no mercado local e são os responsáveis por puxar o crescimento do segmento.

Hoje os fundos IS são 69% do número total de fundos ESG. Os ativos sob gestão dos fundos IS cresceram 77% nos últimos 12 meses ou R$ 3,8 bilhões, enquanto os fundos de ações tiveram aumento de apenas R$ 335 milhões no período. 

Os analistas acreditam que o fato de os fundos IS poderem carregar em seus nomes expressões que remetem ao universo ESG pode explicar o maior apelo desses produtos. 

Em termos de classes de ativos dentro do universo ESG, a renda fixa, que representava 40% do total de recursos no fim de 2022, tem crescido mais que as ações e ganho fatia de mercado, atingindo 43% no fim de 2023 e 49% em abril.

As carteiras de ações ainda têm larga vantagem em termos numéricos – são 83 dos 120 fundos ESG –, mas têm avançado mais lentamente e perdido participação. 

E a performance?

O número de fundos cresce e a captação é positiva. Mas como anda o desempenho dessas carteiras?

Segundo o relatório, os fundos de ações do tipo IS tiveram um retorno médio de 20,7% de abril de 2022 a abril de 2024, enquanto os fundos que fazem a integração ESG tiveram rendimento de 15,3%. Ambos superaram a performance da indústria de fundos de ações no período, que foi de 9,4%.

Veja a íntegra do relatório aqui