Sob nova placa, GK Partners, de Mufarej, vai às compras

Prestes a concluir captação de seu fundo de estreia, gestora de impacto quer acelerar os investimentos com foco em clima e saúde

Sob nova placa, GK Partners, de Mufarej, vai às compras
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Prestes a concluir a captação de seu fundo de estreia, a GK, do ex-Tarpon Eduardo Mufarej, está pronta para ir às compras — agora sob nova placa. 

Em vez de GK Ventures, passa a se chamar GK Partners, mantendo a abreviação de Good Karma, em alusão ao seu viés de investimentos de impacto, mas deixando mais claro o tamanho das empresas que mira no portfólio. 

“Nosso foco é em empresas mais maduras e o nome acabava atraindo muita gente em estágio inicial”, afirma Mufarej. “Teve um fluxo de capital muito grande para empresas de early stage no Brasil, mas ficou um vale para aquelas em fase de crescimento, e é dessa oportunidade que queremos nos apropriar.”

Fundada em 2020, no ano em que estourou a pandemia, a GK fez o primeiro fechamento do fundo em meados de 2021, com R$ 330 milhões e deve concluir a captação até o fim do primeiro trimestre. 

Mufarej não abre números finais, mas a meta era fechar o fundo com pelo menos R$ 400 milhões. “Numa janela de captação ruim, acabamos pilotando bem o processo de fundraising”, diz o gestor, em alusão à disparada na taxa básica de juros que compromete o retorno relativo à renda fixa. 

Pisando no acelerador

Em cerca de dois anos de atuação efetiva, a GK teve um ritmo de investimento mais lento. Até hoje, são quatro empresas no portfólio, que consumiram cerca de 15% do capital comprometido. 

“Investimos pouco porque estávamos num mercado de certa forma desconfortável, com abundância de liquidez”, diz Mufarej. 

O setor de educação, uma das teses principais da casa, está passando por um momento difícil, diz o executivo. “O crescimento hoje está concentrado em alguns poucos segmentos.”

No caso da saúde, a ampla concorrência vinha distorcendo preços, pondera. 

Agora, com o cenário de taxas de juros mais altas, as perspectivas são outras. “Estamos capitalizados e dá para sermos mais assertivos [nos investimentos]”, diz. 

A ideia é ter de oito a doze empresas no portfólio – e quatro aquisições estão no radar em estágio mais maduro, para sair nos próximos seis a 18 meses. 

Além de saúde, uma das teses preferidas é a de clima, com foco em carbono, agricultura sustentável, descarbonização de processos industriais e transição energética. 

“A pauta climática no Brasil ainda é algo que está se consolidando. Isso fez com que a gente fosse muito cuidadoso para ver onde estava nosso diferencial competitivo”, afirma. 

Para a nova fase, a casa está reforçando também o seu conselho consultivo, principalmente na área de clima e agronegócio. 

Entraram Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores e ex-governador do Espírito Santo, e Tasso Azevedo, fundador do Imaflora do  MapBiomas e uma das principais referências em economia florestal e monitoramento das emissões de gases de efeito-estufa no Brasil – cotado, inclusive, para assumir a recém-criada Autoridade Climática do governo federal. 

Passam a integrar o colegiado também Marcos Jank, professor de agronegócio global no Insper, e Pedro Fernandes, head de agronegócio no Itaú BBA. Eles se juntam a Denise Santos, CEO da Beneficência Portuguesa, e Leo Figueiredo, ex-Hedging Griffo e pioneiro na agenda de investimentos de impacto.

Portfólio

No portfólio atual da GK, dois investimentos são ligados ao setor de saúde, um da área de descarbonização e outro fica na intersecção de educação com sustentabilidade. 

O mais antigo é o investimento na Zenklub, uma plataforma de saúde mental que conecta psicólogos e pacientes online e vem se consolidando como benefício corporativo das empresas e seus funcionários. 

Ainda no setor, a GK investiu na Neuralmed, uma startup de inteligência artificial que agrega dados de saúde com foco na identificação e prevenção de possíveis casos que poderiam se tornar crônicos. Com a Intermédica como um dos sócios, a companhia tem um produto forte voltado para diabéticos. 

Na vertical de clima, a gestora investiu na Vertuos, que quer descarbonizar processos produtivos industriais. A atuação hoje é concentrada na transformação da escória da indústria siderúrgica e na transformação de resíduos da indústria de pedras ornamentais, dentro do conceito de economia circular.

Completa a carteira a Rehagro, uma escola voltada para o agronegócio. “O agro está passando por uma revolução digital e sustentável, muito ligado à produtividade, e para acompanhar tudo isso vai ser necessária mão de obra qualificada”, diz Mufarej. 

Dentro do conceito que chama de “mission driven investments”, todos os investimentos passam por uma análise de impacto já na hora da prospecção, diz o gestor. “Não entramos se não vemos tanto possibilidade de retorno comercial quanto de impacto [socioambiental].”

A GK trabalha com uma métrica de impacto que calcula o retorno de impacto de cada real investido, em parceria com o Insper Metricis.

Nas mudanças recentes da gestora, Patricia Nader, sócia responsável pela área de impacto egressa da Vox Capital, agora também assume a posição de relações com investidores.