A Temasek, holding de investimentos controlada pelo governo de Cingapura com US$ 214 bilhões sob gestão, deu um autêntico salto à frente.
Acaba de assinar um cheque de US$ 500 milhões para a LeapFrog, no maior aporte já feito até hoje numa gestora de fundos de impacto — e num claro atestado de que espera retornos relevantes de negócios que se propõem a resolver os grandes problemas sociais e ambientais da atualidade.
O dinheiro chega para dar mais escala ao negócio e potencializar o impacto.
O aporte será usado para ancorar vários novos fundos da casa, ao mesmo tempo em que a Temasek assumirá uma participação minoritária na gestora, fornecendo capital para crescimento da equipe e da capacidade de investimento nos dois mercados de atuação da casa, África e Ásia.
A gestora e seu processo de investimento continuarão a cargo de seus sócios, com a Temasek assumindo um assento sem funções executivas no conselho.
Desde a fundação, a LeapFrog já levantou três fundos focados em investimentos em estágio de crescimento em serviços financeiros e empresas de saúde que combatem a pobreza na Ásia e na África, e hoje tem US$ 1,8 bilhão em ativos sob gestão.
A empresa diz já ter levado esses serviços para 212 milhões de pessoas nos mercados em que atua e planeja impactar 1 bilhão de pessoas até 2030.
Além do impacto, o negócio vai bem, obrigada. As empresas do portfólio da LeapFrog tiveram um crescimento anual médio de 32,8% entre 2009 e 2019.
Dentre elas, está a Goodlife Pharmacy, uma rede de farmácias e serviços de saúde focada em clientes das classes baixa e média em que a LeapFrog investiu US$ 22 milhões em 2016 e que hoje lidera o mercado na África Oriental. Ou ainda, a WorldRemit, uma processadora de pagamentos internacionais que está presente em mais de 130 países.
O interesse de investidores institucionais por investimentos que aliam lucro e propósito é crescente. E há quem espere que o recorde estabelecido pela Temasek seja superado rapidamente.
“Há uma necessidade urgente e esmagadora de abordar os desafios sociais e ambientais críticos que o mundo está enfrentando. Acreditamos no potencial do investimento de impacto para destravar o capital para enfrentar tais desafios”, afirmou Benoit Valentin, Head de Impact Investing do Temasek.
Do apartheid para o impacto
Andy Kuper, CEO e fundador da LeapFrog, cresceu na África do Sul sob o regime do apartheid e frequentou a única escola que não segregava brancos e negros. Ele conta que o contato com os efeitos da desigualdade desde cedo e a posse de Nelson Mandela como presidente, em 1994, foram decisivos para o que viria a construir em sua carreira.
Kuper fundou a LeapFrog em 2007, uma das primeiras casas a adotar o termo “lucro com propósito”. A ideia era usar capital e empreendedorismo para apoiar projetos que as organizações sem fins lucrativos e a filantropia não poderiam, disse ele à Forbes.
“Minha frustração constante era que a escala de exclusão e pobreza não era acompanhada pelas soluções ”, disse. “Se você está tentando servir bilhões de pessoas, precisará de trilhões de dólares. A caridade é extremamente importante e a ajuda ao desenvolvimento é extremamente importante, mas está longe de ser suficiente.”