
Ao terminar de alocar os recursos de seu primeiro fundo, a gestora de impacto Rise viu que mais da metade dos investimentos foram feitos em empresas que endereçam questões climáticas. Ao desenhar o segundo veículo da casa, a escolha da tese foi quase natural: transição climática. E já fez seu primeiro investimento.
Em fase de captação, o fundo de private equity ganhou o nome de Biomas e o objetivo é levantar R$ 500 milhões. Desse valor, 20% foi captado com investidores do primeiro fundo da casa, entre eles famílias e institucionais.
“A maior parte dos investimentos do fundo anterior foi ligado ao clima, tanto em valor quanto em número de empresas. Além disso, há uma demanda do capital internacional direcionado”, diz Pedro Vilela, co-fundador e CEO da Rise (na foto, o segundo à esquerda).
O primeiro aporte foi feito na semana passada na Solinftec, em uma rodada de investimentos junto com a Yvy. A gestora de Paulo Guedes e Gustavo Montezano entrou com R$ 260 milhões e a Rise com os outros R$ 40 milhões.
A startup de tecnologia para agricultura de precisão se encaixa em um dos oito setores focos do fundo: agricultura sustentável; energia renovável; gestão de água; gestão do lixo e economia circular; construção sustentável e novos materiais; transportes sustentáveis; e bens de consumo sustentáveis.
Segundo Vilela, esses são os setores em que a gestora é pró-ativa na busca de bons investimentos, mas estão abertos a qualquer coisa que faça sentido dentro do escopo de transição climática. “Temos próximo de 600 empresas com essa temática no pipeline.”
“Pensamos nas três verticais de soluções para o que julgamos ser a raiz dos problemas: descarbonização, gestão sustentável de recursos e biodiversidade. Disso derivam os oito setores nos quais construímos as teses de investimentos”, diz Isabella Godoy, sócia e diretora de captação e relações com investidores da Rise (na foto, primeira à direita).
A gestora busca empresas de médio porte, com faturamento entre R$ 50 milhões e R$ 300 milhões e que tenham atingido o break even – ponto de equilíbrio em que as receitas cobrem os custos e despesas. Para a compra de participação acionária, vai assinar cheques entre R$ 25 milhões e R$ 75 milhões.
E aqui uma pausa para explicar exatamente como o impacto entra na conta da escolha das empresas: “São negócios que conciliam impacto social e ambiental com retorno financeiro, ou seja, o produto ou serviço que a empresa vende beneficia diretamente as pessoas ou o meio ambiente”, explica Amanda Oliveira, sócia e diretora de sustentabilidade da Rise (na foto, primeira à esquerda).
“Então quanto mais o negócio cresce, maior o impacto pelo simples fato de vender o que ele vende, sem ter que fazer nada a mais para isso.” É, em linhas gerais, a definição de investimento de impacto.
O segmento ainda é relativamente novo e é comum que haja confusões conceituais com aplicações ESG, por exemplo – uma polêmica recente entre gestores foi prova disso.
Captação
O foco da captação do segundo fundo está no exterior. Para ajudar nessa tarefa, a gestora contratou um placement agent – empresas que auxiliam gestores de fundos de investimentos alternativos e empresas a levantar recursos.
“Tem muito capital intencionado para esse tema lá fora, e o Brasil é muito relevante nesse contexto”, diz o CEO da Rise.
O plano é fazer road shows no segundo semestre nos Estados Unidos, Europa e Ásia para ampliar conversas que já estão acontecendo com fundos de pensão, fundos patrimoniais (endowments), fundos de fundos, family offices e private banks.
“Vamos priorizar investidores que estão procurando impacto. Quando ele tem a intencionalidade clara, as conversas para driblar as dificuldades do Brasil, como câmbio, acabam ficando menos difíceis – não vou dizer mais fáceis”, afirma Vilela.
Primeiro fundo
O primeiro fundo da casa acabou de alocar todos os seus recursos. Lançado em 2021, ele tem R$ 150 milhões sob gestão e investiu em nove empresas. Sua abordagem é agnóstica, como são conhecidos fundos que olham para vários setores, sem um direcionamento específico para educação ou fintechs, por exemplo.
Os investimentos foram realizados na Alba, de energia renovável; na Okena, de tratamento de água; na Eureciclo, startup de créditos de reciclagem de embalagens; na Jeitto, de microcrédito; na Alicerce e Rede Decisão, ambas de educação; e por fim na Gênica, de agricultura regenerativa que atua com biofertilizantes.
“No Brasil, é importante diversificar e essa postura agnóstica nos dá muita flexibilidade”, diz o CEO da Rise.
Nos cinco primeiros anos são feitos os investimentos e nos cinco últimos, os desinvestimentos. A expectativa é que as saídas comecem em 2026. A oportunidade mais comum no Brasil é a venda da participação para investidores estratégicos, empresas do mesmo setor ou de setores em que há sinergia.
No fundo houve dois write-offs, quando o fundo devolve as ações para os fundadores e
contabiliza o investimento como zero no balanço do fundo – na prática, registra um prejuízo. Ainda assim, o fundo tem um bom desempenho, garante Vilela.
A regulação do setor não permite a divulgação da valorização da cota do fundo, uma vez que os ganhos ainda não foram realizados. O executivo dá outros dois indicadores de performance, um financeiro e um de impacto. A receita combinada das empresas investidas cresceu de R$ 160 milhões para R$ 1,3 bilhão em três anos e o número de empregos diretos gerados saltou de 200 para 2 mil.
“A gente vem dobrando a receita e o número de funcionários a cada ano do portfólio agregado”, diz o CEO da Rise.
Aprendizados
Em um balanço do primeiro fundo, a equipe da gestora avalia que acertou em diversificar e escolher setores resilientes. Também considera que foi rápida em melhorar o processo de investimento, ajustando rotas e aprimorando a análise da história dos fundadores das empresas.
“Isso é uma coisa que faz muita diferença, onde está 80% do sucesso do investimento. Avaliamos muito profundamente o perfil do fundador e da liderança”, diz Daniel Madureira, co-fundador e diretor de investimentos da Rise (na foto, segundo à direita).
Um dos critérios é determinar o compromisso com o impacto positivo do negócio. “Não escolher um fornecedor mais barato que tem controvérsias na sua cadeia, por exemplo.”
Entre os aprendizados ficou evitar negócios de nicho e fazer investimentos em empresas que já superaram a fase de desenvolvimento inicial (early stage). “Se eu entro num negócio que ainda está muito pequeno, por mais que eu e a liderança da empresa façamos um excepcional trabalho, pode ser que ela termine num ponto que ainda não é atrativo para o mercado de capitais. Faltam fundos de early-growth no Brasil para dar saída para esse tipo de investimento”, explica Vilela.