Fundada em 2016, a gestora de fundos Quasar se dedica exclusivamente a investir em crédito corporativo. Nada de ações e nada de títulos públicos. Agora, a casa, que tem R$ 3 bilhões sob gestão, quer incorporar o filtro ESG à análise de investimento de todos os fundos da casa até 2023 e acaba de estruturar sua política interna de investimento socioambiental.
“Esse ainda é um tema recente no Brasil e não queremos ter 100 ‘Naturas’ nas carteiras”, diz Carlos Lima, sócio, gestor dos fundos líquidos e responsável por implantar a política ESG na Quasar. “O mais importante é sabermos onde as empresas estão [no processo de integração ESG] e fazer um engajamento para forçá-las a ir na direção correta. A visão é evolutiva.”
Cada novo ativo que os fundos da casa analisarem como potencial investimento passará por um raio-x preliminar de critérios ESG como impacto na biodiversidade, emissões de gases de efeito-estufa, gerenciamento de resíduos, satisfação do cliente, cadeia de fornecedores e estrutura de governança. A lista não é exaustiva, diz Lima, e vai incluir questões específicas de determinada empresa ou setor.
Depois, a análise passa pelo comitê de crédito e, por fim, pelo comitê de investimento, que decide se o negócio vai em frente ou não.
Nesse primeiro momento, a gestora não atribuirá notas às empresas ou ativos e também não delimitará o universo investível. “Ainda não chegamos nesse corte. Mas acredito que o nosso processo de investimento colegiado evita o risco de papéis de empresas detratoras.”
Mas há um filtro negativo, que barra alguns negócios. Esse filtro funcionou recentemente no caso da oferta pública de debêntures da Usina Pampa Sul, um projeto totalmente movido a carvão da francesa Engie. “Nem chegamos a analisar a oferta porque o comitê vetou logo de saída”, diz Lima.
O monitoramento dos fundos, a supervisão das análises e o engajamento com as empresas ficará a cargo de Bruno Bacchini, sócio da gestora que já integrava a equipe jurídica e que assumiu o posto recém-criado de ESG Officer.
A integração ESG ocorrerá de forma paulatina. Os fundos abertos, com patrimônio de R$ 1,2 bilhão, que são mais líquidos e têm papéis de empresas de maior porte na carteira, devem ser enquadrados na política ESG antes do prazo de 2023.
Mas as carteiras fechadas ou com prazo de investimento mais longo devem consumir mais tempo, porque demandarão informações não imediatamente disponíveis,
É o caso, por exemplo, do fundo imobiliário Quasar Agro, de R$ 500 milhões, que adquire ou constrói armazéns agrícolas, ou do Quasar Direct Lending, de R$ 464 milhões, que foca na desintermediação financeira para médias empresas.
Uma das principais frentes de negócio dessa nova fase da Quasar precisou ser adiada por causa da pandemia. Nos primeiros dias de março, a casa colocou na rua a oferta de um fundo de infraestrutura de R$ 500 milhões com o selo verde, conferido pela Sitawi.
Boa parte dos projetos já estava mapeada, mas o vírus espantou os investidores, que ficaram ressabiados em comprometer os recursos pelo prazo de 25 anos. A ideia é voltar à carga em 2021.