O que pensam os milionários que fazem investimento de impacto

Menos de 20% do portfólio de famílias engajadas vai para impacto na América Latina; falta de "fluência" dos bancos no tema é um dos desafios, aponta pesquisa

Mulher branca jovem com céu azul e nuvens ao fundo e um círculo representando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sobreposto à imagem.
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A The Impact é uma organização sem fins lucrativos criada em 2016 por herdeiros de grandes fortunas, como Justin Rockefeller, tataraneto do magnata do petróleo John D. Rockefeller, e Liesel Pritzker Simmons, herdeira dos Hotéis Hyatt. 

Sua missão: aumentar o fluxo de capital de famílias ricas para investimentos que busquem resolver problemas ambientais e sociais.

Pela primeira vez, o grupo, que hoje reúne mais de 70 famílias em mais de 20 países nos cinco continentes, produziu um estudo do perfil dos portfólios de impacto de famílias da América Latina.

O ecossistema de investimentos de impacto da região é menos maduro e conta com menos capital do que nos mercados europeu e americano e a intenção com o estudo é contribuir para o desenvolvimento.

No total, 65 famílias, sendo 13 do Brasil, responderam a pesquisa. 

Com a amostra pequena e composta de forma aleatória, o mapeamento não tem valor estatístico. Mas fornece boas pistas sobre o que pensam e como atuam esses investidores, além de apontar desafios.

Para começar, 80% das famílias informaram ter investimentos de impacto em seus portfólios e 45% dizem fazê-lo há vários anos. 

Os números impressionam, mas a definição de investimento de impacto utilizada no questionário é um tanto vaga, dando margem para que os números reportados sejam melhores do que a realidade.

Foram considerados quaisquer investimentos que intencionalmente integrem aspectos ambientais, sociais, de governança e/ou éticos no processo de investimento e que gerem um impacto positivo aliado ao retorno financeiro.

Mesmo com uma definição abrangente, o percentual das fortunas alocado para ativos de impacto é pequeno. Juntas, as famílias destinam estimados US$ 1,2 bi para impacto, o que representa cerca de 18% da riqueza reportada (US$ 6,7 bi).

Individualmente, na faixa de famílias com patrimônio superior a US$ 100 milhões, as mais ricas da pesquisa, dois terços relatam destinar até US$ 20 milhões para investimentos de impacto.

No universo todo, o tíquete médio das aplicações se concentra entre US$ 200 mil e US$ 1 milhão, destinados principalmente a fundos de private equity e venture capital.

Um dos achados mais interessantes é que 66% dos participantes dizem buscar investimentos de impacto em resposta a problemas locais em seus países de origem. O segundo motivo mais citado (55%) é o desejo de alinhar os portfólios a seus valores pessoais e familiares, enquanto o terceiro (42%) é o desejo de conseguir envolver as gerações mais novas com a gestão do patrimônio.

Entre os setores de preferência, educação aparece na frente, com 54%, seguida por eficiência energética e de recursos (36%), conservação ambiental (34%), saúde (32%) e alimentação e agricultura (20%).

Falta de fluência dos bancos

A pesquisa também revela o despreparo da indústria financeira para atender à demanda por investimentos de impacto, tanto pela escassez de produtos quanto pela falta de conhecimento dos profissionais de gestão de fortunas. 

Entre os principais obstáculos encontrados para ampliar seus portfólios de impacto, 46% das famílias dizem não ter acesso a oportunidades em quantidade suficiente, enquanto 40% dizem que os profissionais que cuidam do seu dinheiro não têm experiência na área. Só 20% das famílias dizem ter acesso a profissionais especializados.

“No Brasil, é assustadora a falta de fluência dos multi-family offices e private bankings no tema. As discussões são superficiais e marqueteiras”, comenta um dos participantes da pesquisa, que prefere não ser identificado.

Mas 42% das famílias também dizem que os retornos financeiros oferecidos ficam aquém do objetivo de retorno pretendido para os portfólios.

Dinheiro novo

Questionadas sobre os planos de alocação para 2023, 64% das famílias disseram que pretendem destinar até US$ 5 milhões para impacto no ano, 18% entre US$ 5 milhões e US$ 15 milhões, 2% entre US$ 15 milhões e US$ 50 milhões e 6% mais de US$ 50 milhões. Os demais 10% não têm um valor planejado.

Somados todos os planos, seriam mais US$ 352 milhões alocados em investimentos de impacto no ano.