O mundo ainda não viu o pior em relação ao coronavírus, disse hoje o CEO da Blackrock, Larry Fink, na Expert, evento promovido pela XP Investimentos. Para ele, as taxas de infecção no mundo hoje são maiores do que qualquer dia em março, e a única mudança foi psicológica: “Mudou-se do mundo com medo e compaixão para um mundo mais pragmático”.
Segundo o executivo, que comanda a maior gestora do mundo, com US$ 7 trilhões em ativos, a mortalidade nos Estados Unidos hoje está em cerca de 0,5%, cinco vezes maior que a da gripe sazonal, mas nada comparado com surtos anteriores, como os da SARS ou da MERS.
“A pergunta que precisa ser feita é: as democracias podem sobreviver com essa taxa de mortalidade?”, questionou.
Para Fink, a liquidez sem precedentes no mercado por conta dos enormes estímulos fiscais e monetários conteve de alguma forma o desemprego e deu fôlego para as empresas com acesso ao mercado de capitais.
A grande questão, contudo, é como vai se comportar a economia da Main Street. Para ele, se houver uma reincidência mais forte do vírus, as pequenas e médias empresas podem levar mais tempo para se recuperar — e isso, na prática, significa que os mercados financeiros ‘andaram demais’ na frente da economia real.
“Qual a viabilidade das PMEs? Dos restaurantes, dos setores que dependem totalmente do turismo? São perguntas sem resposta e que serão respondidas nos próximos dois a três meses”, disse.
“Se os números da doença continuarem crescendo e com crescente mortalidade, então veremos uma reversão nas economias. Se tivermos uma reversão, as PMEs estarão muito encrencadas. Se não tivermos uma recuperação das pequenas, eu diria provavelmente que os mercados de capitais andaram demais”.
‘Risco climático é risco de investimento’
Fink afirmou que a Covid só reforçou a tendência de que as empresas tenham um papel cada vez mais forte nas questões da sociedade — um ponto que vem reforçando em suas icônicas cartas aos CEOs das investidas da Blackrock.
“Um cidadão médio no Brasil, nos Estados Unidos, está mais frustrado do que nunca com seus governos, há mais pressão da sociedade nas empresas e isso vai se acelerar”, afirmou.
“E as empresas que focam nessas questões, no S [de social], em tecnologia, nos clientes e que veem as necessidades deles e dos colaboradores serão as grandes companhias do amanhã.”
O executivo afirmou que é um defensor das causas ambientais, mas suas recomendações partem de sua posição “não de ambientalista, mas de capitalista”. “Uma coisa clara que escrevi na carta e reforço é que risco climático é risco de investimento. Quem não focar nisso, terá problemas sérios no portfólio”, afirmou.
Nesse sentido, destacou a cobrança de que as companhias reportem seus resultados de acordo com os padrões do Sustainability Accounting Standards Board (SASB) e do Task Force on Climate-Related Disclosures (TCFD). Tratam-se de dois padrões para quantificação e divulgações de impactos ESG nos balanços.
“Muitos setores terão baixas contábeis e outros terão oportunidades. Com uma transparência cada vez maior poderemos avaliar efetivamente isso”, pondera. ”Pouco a pouco estamos vendo realocações de capital e como as questões ambientais estão trazendo riscos financeiros. Isso está crescendo num nível micro e vai criar uma mudança macro, que só vai se acelerar”