Em novo fundo de impacto, MOV põe o foco na Amazônia

Gestora captou R$ 70 milhões e quer dobrar valor para investir em teses que vão da floresta preservada às cidades da região

MOV Investimentos capta fundo para investir na Amazônia, dizem Paulo Bellotti e Martin Mitteldorf
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Criado com recursos dos fundadores da Natura dez anos atrás, o primeiro fundo de impacto da gestora MOV tem uma boa história para contar, com rentabilidade de 25% ao ano. 

Agora, em seu segundo fundo, a casa ganha uma base de investidores mais diversificada e volta o foco 100% para a Amazônia.

Foram levantados R$ 70 milhões no primeiro closing; e a intenção é até dobrar esse volume em futuras rodadas.

“Vamos investir em soluções para o desenvolvimento da bioeconomia, baseada na preservação e regeneração da floresta e com bem-estar social”, diz Paulo Bellotti (à esquerda na foto), um dos sócios da gestora. 

“A floresta é estratégica para o mundo e para o Brasil e é uma grande oportunidade para investimentos de impacto.”

Isso não quer dizer que a gestora só vai apostar em empreendedores da região. “Mas a preocupação é gerar valor na região e dividir os benefícios com as comunidades locais.”

No pipeline em análise há startups amazônidas, mas também outras com sede em outros locais e que operam na região e algumas que querem passar a atuar na Amazônia, diz o gestor.

Esse é o caso da primeira investida do fundo. A Symbiomics, empresa que pesquisa microrganismos para desenvolver insumos e defensivos biológicos, acaba de fechar uma rodada de R$ 15 milhões – sendo R$ 5 milhões da MOV, R$ 4 milhões da Baraúna Venture Capital e mais dois investidores não revelados.

Criada por dois cientistas da Unicamp, a startup foi acelerada em Florianópolis, onde pretende construir o primeiro laboratório próprio e, até aqui, os produtos em desenvolvimento saíram de fungos e bactérias do Cerrado. 

Em breve, no entanto, a empresa fará uma expedição para iniciar pesquisas no bioma amazônico.

Criada há dois anos, a empresa tem seis linhas de produtos em pesquisa. Sua atividade se concentra no desenvolvimento da tecnologia, que então é patenteada e vendida a um fabricante de bioinsumos que paga royalties a ela. 

O primeiro contrato já foi fechado, com uma empresa mantida em segredo, e o produto deve entrar no mercado até 2025. 

Várias Amazônias

A intenção da MOV é fazer entre 7 e 8 investimentos no fundo, com tíquete inicial de R$ 5 milhões, e guardar espaço no bolso para participar do crescimento daquelas que se mostrarem mais promissoras.  

Bellotti diz que a gestora enxerga várias amazônias diferentes para investir: a floresta totalmente preservada, a floresta em degradação, a floresta antropizada (alterada pelo homem) e abandonada e, por fim, as cidades, que concentram a maioria da população. “Para cada uma delas, temos teses diferentes.”

No caso da floresta preservada, o foco são produtos florestais não madeireiros e de maior valor agregado, biotecnologia, serviços ambientais e turismo sustentável. A Symbiomics se encaixa neste eixo.

Já nas áreas desmatadas ou antropizadas, as oportunidades estão na restauração. “Uma possibilidade está em sistemas agroflorestais em escala, com plantio de espécies que geram renda para a população local, como cacau, café e macaúba”, cita. 

Soluções para uma pecuária sustentável e rastreável também são analisadas.

Nas cidades, um dos focos está na educação para o futuro do trabalho, com a busca de escolas de tecnologia interessadas em explorar o mercado da região. 

“Muitos trabalhos hoje em dia são remotos, com possibilidade de gerar renda que fica na região, e o mercado para isso é global”, diz Martin Mitteldorf, também sócio da MOV.

Conectividade, logística e geração e armazenagem de energia também são carências estruturais da região que podem gerar oportunidades.

Os gestores dizem que a intenção é atuar como um capital catalítico. “Queremos identificar os ativos, ajudar a co-criar essas empresas, e mostrar para o mercado que é possível fazer”, diz Bellotti.

Histórico da MOV

Eles exemplificam a ideia com o caso da Órigo, empresa de geração de energia solar distribuída que está na carteira do primeiro portfólio.

O aporte inicial foi feito em 2012, quando o segmento sequer tinha um marco legal no Brasil. Passados dez anos, a empresa já atraiu R$ 1 bi só em capital de outros investidores – a gestora investiu R$ 29 milhões no total.

A Órigo é o caso de maior retorno financeiro do primeiro fundo, que se encerra em 2025 e deve dar uma rentabilidade de 25% ao ano, segundo as estimativas dos executivos.

Na carteira, também com bom desempenho, está a Biofílica, pioneira em projetos de preservação de floresta e geração de créditos de carbono, que teve o controle vendido para a Ambipar. A gestora vendeu parcialmente sua participação e terá uma segunda saída até 2025, provavelmente, por um valor mais alto.

Nos dois casos, não só as empresas foram bem sucedidas em seus negócios como participaram da estruturação dos respectivos setores no país, algo que a MOV gostaria de repetir. 

“Em todo investimento que fazemos levamos em conta o potencial de ajudar a definir políticas públicas estruturantes”, diz Mitteldorf.

Fazem parte do primeiro portfólio Sollar, de energia renovável; Terra Nova, de regularização fundiária em áreas urbanas; Triciclos, de reciclagem de lixo; Por A mais B (antiga Tuneduc), de educação; e Audsat, que faz monitoramento por satélite de propriedades rurais para mitigar o risco de crédito e de seguro (vendida integralmente em dezembro). 

Nascida dentro da gestora de patrimônio Pragma, que geria a fortuna dos fundadores da Natura, a MOV ganhou vida própria em 2012. O primeiro fundo, com 8 cotistas, tinha uma predominância de recursos de Guilherme Leal, Luiz Seabra e Pedro Passos. Neste segundo fundo, a captação foi distribuída entre 24 investidores.

Os gestores dizem que, apesar de terem sentido um interesse bem maior em investimentos de impacto, a captação, iniciada em 2020, demorou mais que o esperado. “Sentimos que o nível de compromisso com a Amazônia ainda é pequeno.”