Se os investidores institucionais têm um interesse cada vez maior em investimentos ESG, a agenda ainda avança a passos lentos quando se trata de famílias mais endinheiradas que contam com estruturas próprias para gerir seu patrimônio.
Uma pesquisa realizada pela consultoria INEO com 32 family offices — já constituídos ou em processo de implementação — mostrou que 76% deles não adotam nenhum tipo de análise do impacto social e ambiental dos seus investimentos, olhando apenas o retorno financeiro.
Uma outra parte ainda está no meio do caminho: 12% realizam tanto investimentos tradicionais quanto com ótica ESG. E apenas 12% afirmam aplicar filtros ESG em todo o seu portfólio.
O mesmo é verdade para os investimentos de impacto, aqueles que não só visam evitar ou minimizar os impactos negativos da alocação de capital, mas têm a intenção de gerar impacto positivo.
A maior parte dos family offices ainda não realizou algum aporte que considere investimento de impacto, sendo que 35% dos entrevistados sequer começaram a estudar o tema.
Cerca de 30% dos respondentes dizem que já começaram a estudar e estão buscando oportunidades, mas ainda não realizaram qualquer aporte. Somente 18% se consideram investidores de impacto atuantes — sendo que só 6% (ou seja, duas casas) consideram o impacto como primeiro critério na análise.
Um olhar em evolução
Apesar do baixo conhecimento sobre os temas de investimento sustentável, o sócio da INEO Marcelo Ehlers afirma que há uma evolução em curso no mercado.
“Desde a primeira edição da nossa pesquisa de family offices no Brasil, há três anos, a gente tenta abranger o assunto de ESG, mas não havia nenhum conhecimento dos participantes”, diz. “Nessa última edição, já conseguimos trazer alguns insights interessantes.”
Trata-se de uma mudança, sobretudo, geracional.
“As famílias que tinham o desejo de colaborar viam a filantropia como a saída mais convencional. A grande mudança de perspectiva é que elas agora estão vendo que, por meio de suas empresas, de seus investimentos, também podem ser responsáveis”, diz Ehlers.
Dos entrevistados pela pesquisa, apenas 3% da geração atual que comanda family offices estão ativamente engajados com a agenda ESG, enquanto 16% se engajam com filantropia.
Mas quando falamos da próxima geração, os herdeiros do patrimônio, esses números sobem para 16% e 22%, respectivamente.
Retorno vs Impacto
Outro obstáculo que precisa ser superado rumo à adoção mais ampla de uma ótica ESG, é a quebra do paradigma de que para alocar capital nesse tipo de ativo o investidor terá que aceitar um retorno menor.
Essa questão é vista pela maioria dos entrevistados (65%) como o maior desafio para o setor nos próximos três anos.
Ao mesmo tempo, dos family offices que já investem utilizando critérios ESG, 47% apontam um melhor retorno financeiro como um dos principais motivos para isso.
A contradição pode ser explicada por uma falta de conhecimento do tema, que também é considerada um dos grandes desafios por 41% dos que responderam a pesquisa.
Ehlers explica: “Quem não conhece acha que tem que abrir mão de retorno para fazer ESG, mas quem começou a estudar o assunto já vê que portfólios ESG no longo prazo tendem a ter melhor rentabilidade.”
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