No fim de maio, São Paulo será palco de dois eventos que têm a ambição de mobilizar capital privado nacional e estrangeiro para investir em negócios brasileiros com soluções para a crise climática, no que foi batizada de Brazil Climate Investment Week.
Marina Cançado, que organizou a primeira edição da Converge Capital Conference, em 2020, e Tony Lent, que realizou a Cúpula de Investimentos em Soluções Baseadas na Natureza (ou NBS Investment Summit) um ano atrás, decidiram unir os dois eventos debaixo de um só guarda-chuva e somar esforços para catalisar recursos.
“Precisamos criar uma massa crítica de investidores que entenda quais são as oportunidades para o Brasil gerar crescimento, desenvolvimento e empregos a partir da transição para baixo carbono”, diz Marina Cançado. “Não apenas para o nosso próprio consumo, mas também para que o país possa exportar muitas dessas soluções.”
Na leitura dos organizadores, o Brasil está diante de um alinhamento perfeito, que não vai se repetir no futuro, com a presidência do G20 este ano e a presidência dos Brics e da COP em 2025.
Lent elogia o ambiente político ‘sofisticado’ que o governo está construindo em torno da agenda de desenvolvimento verde, com iniciativas como o projeto do mercado regulado de carbono e a taxonomia verde. “Nenhum dos outros grandes países que estão no Sul global fez algo parecido. E isso está preparando uma janela de oportunidade muito específica que permite que o capital privado flua para o clima.”
A Climate Investment Week começa em 21 de maio com a Converge Capital, voltada ao mercado financeiro local e que pretende atrair cerca de 300 investidores, gestores de recursos, family offices e bancos. Em fevereiro de 2020, um mês antes do país parar por conta da pandemia, a primeira edição do evento foi um marco nos investimentos ESG, desbravando um tema até então pouco discutido no mercado financeiro local.
Já o NBS Investment Summit, no dia 22 de maio, mira principalmente investidores estrangeiros profissionais e espera reunir cerca de 200 pessoas.
“São dois eventos com uma complementaridade muito forte”, diz Lent.
Do dia 23 em diante estão programadas visitas de campo para levar investidores estrangeiros a conhecer de perto projetos de reflorestamento e geração de créditos de carbono, um deles da startup Regreen.
Os temas dos dois eventos também são distintos e complementares.
A Converge terá uma programação voltada a dar contexto estratégico e engajar o mercado local, com foco mais amplo em soluções climáticas em geral, como biocombustíveis, hidrogênio verde e outros.
“O objetivo é ajudar a criar uma gama mais ampla de gestores de ativos e family offices que entendam que estamos diante de um momento único para o Brasil”, diz Cançado. O desafio maior, segundo ela, é não reunir apenas o mesmo público que frequenta todos os eventos ESG e climáticos. “Realmente quero trazer pessoas que estão curiosas para aprender mais e se engajar.”
O dia começa com Spencer Glendon, fundador da Probable Futures e pesquisador sênior no Woodwell Climate Research Center, que vai explorar como a instabilidade do clima afeta o mundo empresarial e financeiro.
Também está confirmada a participação de Jonathan Foley, cientista da Drawdown Project, cujo trabalho identifica as soluções mais efetivas para a crise climática e indica para quais delas o capital privado e governamental está sendo direcionado. Representantes da equipe econômica do governo, executivos de empresas e gestores de recursos e de fortunas compõem os demais painéis.
O NBS Summit, como diz o nome, mira exclusivamente investimentos nas chamadas soluções baseadas na natureza, como restauração e preservação de biomas – a abordagem aqui será mais técnica, voltada a atender gestores estrangeiros fluentes no assunto e que precisam entender o funcionamento do mercado local.
Ao menos seis grandes redes financeiras internacionais focadas na natureza estão ajudando a convidar investidores de fora para vir ao evento no Brasil, explica ele. Entre elas, o Clube de Investidores Florestais do Departamento de Estado dos Estados Unidos e o Programa Natureza do Principles for Responsible Investment (PRI).
Na parte da manhã do NBS Summit haverá painéis para discutir o ambiente regulatório e de negócios e o período da tarde é reservado para que 14 empresas e 14 fundos locais apresentem oportunidades de negócios.
Mix desequilibrado
Lent diz que, hoje, há mais capital estrangeiro do que local mobilizado para financiar a transição no Brasil, em grande medida porque as altas taxas de juro brasileiras tornam mais cômodo manter os recursos em aplicações de baixo risco.
Ele calcula que ao menos 70% dos investimentos em soluções climáticas vêm de fora. “Está desequilibrado e o mix deveria ser 60% capital nacional e 40% estrangeiro. Precisamos buscar o equilíbrio, em parte porque os estrangeiros que chegam aqui buscam uma contraparte local, um investidor brasileiro.”
As inscrições para os dois eventos são feitas de forma separada. A programação da Converge Capital e a compra de ingressos (a partir de US$ 300) podem ser acessadas aqui. O NBS Summit é exclusivo para investidores profissionais convidados – informações e inscrições aqui.
O Reset é parceiro de mídia do evento.