A BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, anunciou uma nova política permitindo que fundos com objetivos de investimento explicitamente ligados ao clima e à descarbonização pressionem as empresas de seus portfólios.
Esses fundos poderão acompanhar posições ativistas apresentadas em assembleias de acionistas, como as que pedem a aceleração dos cortes de emissões de carbono, mesmo que outros veículos da mesma gestora tenham posição diferente.
A decisão, que passa a valer no último trimestre do ano, afeta 83 fundos domiciliados na Europa, com US$ 150 bilhões sob gestão, de acordo com comunicação da gestora enviada a clientes hoje. Ao todo, a BlackRock administra US$ 10,5 trilhões.
Fundos baseados nos Estados Unidos ou na Ásia que também têm mandatos climáticos terão a opção de adotar os mesmos critérios ainda este ano.
“Um número crescente de clientes procura minimizar o risco financeiro e maximizar as oportunidades financeiras associadas à transição para uma economia de baixo carbono e, portanto, está interessado em investimentos sustentáveis e de transição, com alguns incluindo a descarbonização como um objetivo de investimento nos seus mandatos com a BlackRock”, diz a gestora, no documento.
O anúncio representa mais uma tentativa da BlackRock de lidar com as intensas pressões políticas que cercam as finanças sustentáveis.
A gestora e seu CEO, Larry Fink, ajudaram a colocar os investimentos ESG no mainstream, especialmente em uma carta pública de 2020 endereçada aos investidores.
Mas a empresa acabou se tornando alvo preferencial de políticos conservadores americanos, que a acusam de se dobrar a uma agenda “esquerdista” e de deixar de lado o interesse dos seus clientes. Do outro lado, a gestora é criticada por fazer menos do que poderia, dados seu porte e influência.
Recentemente, a BlackRock anunciou que sua participação na Climate Action 100+, uma coalizão financeira de engajamento com grandes poluidores, ficaria a cargo de uma subsidiária. A decisão foi lida como um recuo.
A gestora também diminuiu de forma considerável o apoio a propostas de acionistas ligadas ao tema mudança climática, afirmando que elas eram “prescritivas demais” e não eram do interesse financeiro de seus clientes.
A nova política anunciada nesta terça-feira vai na direção oposta. Ela prevê que os fundos europeus com objetivos climáticos possam cobrar das companhias estratégias net zero alinhadas à meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C em comparação com a era pré-industrial.
Isso se traduz em planos com um grande objetivo de longo prazo – a neutralidade em carbono em 2050 –, com marcadores intermediários para medição do progresso.
Também há estipulações para o reporte de emissões, que deve abranger toda a cadeia de valor. As emissões dos escopos 1 (decorrentes da operação direta) e 2 (da energia utilizada) devem ser acompanhadas das respectivas metas de redução. Já no escopo 3 (de emissões indiretas), devem ser consideradas as emissões materiais para aquele negócio, dada a dificuldade de uma contabilidade precisa.
Essas diretrizes serão aplicadas a setores e companhias cujos bens e serviços contribuem para a “descarbonização do mundo, ou que possuem um modelo de negócio altamente intensivo em carbono e enfrentam impactos enormes” em suas transições.