
Fundos de hedge estão apostando contra ações de petróleo, em uma reversão de posição que dominou suas estratégias no setor de energia nos últimos quatro anos. Eles vinham operando contra papéis de empresas de energia renovável, como a solar, apostas que têm sido reduzidas.
Uma análise da Bloomberg Green mostra que nos nove meses entre outubro de 2024 e junho deste ano, em sete deles os fundos de hedge focados em ações se mantiveram, em média, vendidos em ações de petrolíferas listadas no S&P Global Oil Index.
Uma posição vendida (ou short position) no mercado acionário é quando o investidor aposta que o preço de uma ação vai cair, em vez de subir.
A análise traz dados históricos para mostrar a reversão de tendência: entre janeiro de 2021 e setembro de 2024, em 37 desses meses esses fundos haviam apostado na alta das ações de petróleo, quando operaram comprados (long position).
O levantamento da Bloomberg avaliou um universo de cerca de 700 fundos de hedge, que tinha cerca de US$ 700 bilhões em ativos sob gestão, com informações fornecidas pela Hazeltree, especializada em investimentos alternativos.
Essa reversão de posições acontece em meio ao aumento da oferta global de petróleo, impulsionado pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e pelos incentivos do presidente Trump para reduzir os preços nos EUA.
A ampliação da produção “historicamente não tem sido positiva” para a indústria, disse Joe Mares, gestor da Trium Capital, fundo de hedge de US$ 3,5 bilhões, em entrevista à Bloomberg. Ele vê sinais de desaceleração nas economias de EUA e China e projeta que os estoques globais seguirão crescendo até o fim de 2025, alimentando o ceticismo em relação ao petróleo.
Nos Estados Unidos, os esforços do presidente Trump para reduzir o preço do petróleo têm incomodado as petrolíferas. A última pesquisa trimestral de energia do Fed de Dallas, publicada em julho, mostra o sentimento negativo em relação à política do governo americano para os combustíveis fósseis.
Um entrevistado no estudo, em anonimato, disse que a meta de preço implícita do governo de US$ 50 o barril é simplesmente insustentável para o setor. Outro falou do “caos” causado pelas atuais políticas comerciais dos EUA, acrescentando que a volatilidade levará as empresas a “abandonar as plataformas”.
Posição em energia verde
Os fundos de hedge também têm se desfeito de suas posições vendidas em ações de energia solar. Ou seja, na média, os gestores deixaram de apostar contra os renováveis.
As posições vendidas no ETF Invesco Solar caíram para 3% em junho, o menor nível desde abril de 2021, quando as ações de empresas de energia renováveis eram negociadas perto de suas máximas históricas. A proporção de fundos com posições compradas líquidas no ETF First Trust Global Wind Energy atingiu a maior alta em 30 meses em fevereiro deste ano.
Um dos fatores por trás do interesse em renováveis é o aumento da demanda por energia por conta do crescente uso de inteligência artificial, favorecendo fontes de rápida instalação como solar e eólica. Segundo relatório da BloombergNEF, energias limpas devem responder por mais da metade da nova capacidade de geração necessária até 2035.
Desde janeiro, quando Trump anunciou cortes de orçamento de políticas de incentivo a energias renováveis, foram cancelados ou adiados cerca de US$ 22 bilhões em projetos, segundo a E2.
Mas investidores de energias renováveis avaliaram que a situação tem sido “menos ruim” do que o esperado. A versão final do projeto de lei orçamentária americano, de US$ 3,4 trilhões, foi considerada mais favorável a alguns setores do mercado de energias renováveis do que os investidores anteciparam.
Na China, as ações verdes também se recuperam. O avanço acontece após ajustes no setor solar frente ao excesso de capacidade. O Índice de Energia Verde Solactive Select China subiu 19% desde abril, após perdas acumuladas de 50% entre 2021 e 2023.
A análise da Bloomberg também aponta que o aumento das vendas de carros elétricos globalmente pode reduzir a necessidade de petróleo. A BloombergNEF estima que cerca de 40% dos veículos nas ruas sejam elétricos até 2040, o que tiraria do mercado 19 milhões de barris de petróleo por dia.
Os tarifaços de Trump também coincidiram com uma forte recuperação das ações verdes. Desde que as tarifas foram anunciadas, em 2 de abril, no “Dia da Libertação”, o principal índice S&P 500 de energia limpa subiu cerca de 18%, enquanto o equivalente para empresas de petróleo recuou aproximadamente 4%.