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Do crédito à bolsa, como bancos são ponte no financiamento climático

Em evento do Reset, Bradesco, Santander e ABC Brasil avaliam que é preciso ir além do papel de credores tradicionais

Do crédito à bolsa, como bancos são ponte no financiamento climático

Sustentabilidade deixou de ser obrigação de compliance para se tornar um quesito estratégico no tipo de financiamento que empresas podem acessar. O Reset convidou três bancos – um grande internacional, um grande nacional, e um de nicho – para debater o papel das instituições financeiras na transição para uma economia de baixo carbono. 

Santander, Bradesco e ABC Brasil estiveram no segundo painel do evento “ClimaCorp: Liderança empresarial na era da transição climática”, promovido pelo Reset na quarta-feira (13). O evento teve o patrocínio de Natura, Itaú, BRF Marfrig, Bradesco, Suzano, Banco ABC Brasil, Eletrobras e Santander.

“Não é apenas uma questão de pagar mais barato ou mais caro no futuro. Quem não olhar para essa agenda, vai ter dificuldade para acessar a bolsa e fazer captações”, disse Caio Andrade, head de ESG do Bradesco BBI. 

Ele destaca que empresas com boas práticas ambientais, sociais e de governança acessam mais “bolsos”, o que leva a maior probabilidade de conseguir melhores condições de preços e volumes em suas captações. 

Foi consenso de que bancos precisam ir além do papel de credores tradicionais – é preciso atuar como facilitador e catalisador da transição. “Esse trabalho é muito sobre inovação, porque vai além da concessão de crédito e oferece outros tipos de valor aos clientes”, disse Leonardo Fleck, diretor de sustentabilidade do Santander Brasil.

Nessa direção, é preciso pensar em produtos para ajudar na transição de setores intensivos em emissões de gases de efeito estufa. “Nosso ponto de partida é o cliente, para que a gente possa, de fato, ofertar uma solução personalizada”, explicou Fabiana Silva, head ESG e de finanças sustentáveis do ABC Brasil. 

Focado em empresas, o banco lançou uma linha de crédito, chamada CDC Carbono Neutro, voltada para o transporte logístico, especificamente de carga pesada – de grande relevância para a economia brasileira e intensiva em emissões. 

Soluções 

Entre as iniciativas do Santander está um produto que antecipa recebíveis de clientes com seus fornecedores atrelados a indicadores de sustentabilidade. Para o varejo, o banco tem uma linha de financiamento para carros elétricos, em parceria com a chinesa BYD. Para mostrar ao cliente os benefícios, o Santander criou uma landing page que faz as contas da economia de substituir a gasolina pela energia elétrica para abastecer o carro. 

Mas não só de crédito vivem as empresas. É preciso que os bancos de investimentos façam a ponte e assessorem as companhias nas captações de mercado de capitais. 

O hed do Bradesco BBI contou da carta-fiança que o banco concedeu à Re.green, empresa de reflorestamento, para que ela pudesse acessar os recursos do Fundo Clima, gerido pelo BNDES. Recentemente, o banco também fez uma operação de debêntures para a EcoRioMinas, em conjunto com o BTG Pactual, que inclui uma série com rotulagem de transição.

Um caso citado que reúne um esforço conjunto do setor privado com o público é o Eco Invest, programa do governo federal para atrair capital estrangeiro privado para a descarbonização da economia. Nove bancos, entre eles Santander e Bradesco, foram contemplados no primeiro leilão do programa no ano passado. 

“A linha Eco Invest abre oportunidades porque permite que bancos captem recursos com um custo subsidiado e apresentem um diferencial de custo muito significativo para as empresas”, diz Andrade, do Bradesco BBI. 

Da porta para dentro

Os três bancos têm metas de redução de emissões financiadas. Para isso, é preciso engajar clientes e criar sistemas internos de medição de emissões, com políticas de descarbonização. 

No ABC Brasil, o caminho escolhido foi automatizar o cálculo de emissões de financiamentos. Assim, o banco mensura as emissões de CO2 financiadas em tempo real e incluiu meta de crescimento do crédito sustentável nos bônus de seus executivos. 

“Temos acompanhado as mudanças climáticas há bastante tempo com um olhar de risco, mas, em 2023, o banco definiu o tema como estratégico, passando a incorporar também um olhar de oportunidade”, diz Silva.

Ela aponta que a regulação brasileira tem ido nesse sentido, ao fazer as empresas a quantificar as oportunidades que a transição climática também traz. A head do ABC Brasil citou as novas regras de reportes de sustentabilidade, conhecidas como IFRS S1 e S2, que podem impactar a avaliação das empresas. “Nosso papel é apoiar o cliente, não só o preparado para o regulador, mas para aproveitar as oportunidades relacionadas”, disse. 

O Santander, que tem compromisso público net zero até 2050, foram definidas metas de descarbonização para setores-chave, com prazos para 2030 e 2050. O banco monitora as emissões financiadas e adora, desde 2022, a taxonomia da União Europeia adaptada à realidade brasileira, para guiar as operações verdes. 

“Temos metas de descarbonização tanto de intensidade de emissões quanto, em alguns casos, de emissões absolutas. No Brasil, o agronegócio é onde temos uma concentração grande de emissões no portfólio, como qualquer banco grande”, diz Fleck. 

No banco de investimentos, o Bradesco criou uma equipe ESG em 2022 focada em impulsionar a estruturação de operações verdes O banco tem como meta mobilizar R$ 350 bilhões em negócios sustentáveis até 2025 –  em março deste ano estava em R$ 320 bilhões. 

“Há um caminho grande para setores intensivos em emissões, que vão demandar muito financiamento para aprimorar processos produtivos ou desenvolver tecnologias que hoje ainda não têm viabilidade financeira”, afirma Andrade.