A Suzano acaba de colocar na rua uma emissão de bônus externos ligados a metas de sustentabilidade, ou ‘sustainability-linked bonds’.
A operação foi antecipada pelo Reset na semana passada.
Os papéis terão prazo de dez anos e os recursos serão usados para resgatar bônus antigos com vencimentos mais curtos. O roadshow — virtual — acontece na semana que vem e a precificação do papel, na quinta, dia 10.
“Vai ser uma oferta direcionada a investidores ESG”, disse ao Reset o CFO da companhia, Marcelo Bacci.
O executivo não comenta o valor da operação, mas, segundo fontes de mercado, serão levantados no mínimo US$ 500 milhões — com espaço para atingir valor bem superior, a depender da demanda dos investidores.
Trata-se de uma das primeiras emissões do tipo no mundo. Diferentemente dos ‘green bonds’, em que os recursos têm que ser direcionados a um projeto específico com benefícios ambientais, o dinheiro captado pelos sustainability-linked bonds não são carimbados. No entanto, a operação tem que ser atrelada a uma ou mais metas ambientais, sociais ou de governança.
No caso do título da fabricante brasileira de papel e celulose, a meta escolhida foi a de redução da intensidade das emissões de gás carbônico nos próximos dez anos, prazo que coincide com o do título.
Na virada do ano, a Suzano se comprometeu a cortar a intensidade de suas emissões em 15% até 2030, em relação ao que emitia em 2015, ano em que foi fechado o Acordo de Paris. Se forem consideradas as emissões da empresa em 2019, a redução em dez anos será de aproximadamente 10%.
A meta diz respeito às emissões de escopo 1 e 2, ou seja, as emissões diretas da companhia em todas as suas operações e as emissões relacionadas à compra de energia elétrica, respectivamente. A empresa pretende chegar a uma intensidade de emissão de 0,18 tonelada de C02 para cada tonelada de celulose e papel que sai de suas fábrica. Em 2015 o índice era de 0,213.
Vale lembrar que, por causa da captura de carbono em suas florestas de eucalipto, em seu conjunto a Suzano retira da atmosfera um volume de CO2 equivalente a mais de quatro vezes o que emite, incluindo as emissões de seus fornecedores e clientes (escopo 3). Mas o cálculo da intensidade de emissões não leva em conta a captura do gás realizada.
Como parte da estrutura da emissão do bônus, a empresa fixou uma meta intermediária de redução da intensidade das emissões para 2025, de chegar a 0,190 tonelada de CO2 por tonelada de produto (contra 0,1998 no ano passado).
“Se não atingirmos essa meta em 2025, a partir de 2026 teremos um aumento da taxa paga nos papéis de 25 pontos base”, diz Bacci.
O executivo explica que a empresa decidiu eleger apenas uma das metas ambientais que fixou porque pretende voltar ao mercado. “Como emitimos com frequência, ao longo do tempo usaremos os demais indicadores.”
Bacci diz que a escolha por um bônus atrelado a meta ambiental em vez de um green bond se deveu ao fato de que os recursos serão usados para recomprar outras dívidas.
“E porque acreditamos em ‘skin in the game’, ou seja, passaremos a ter um custo financeiro mais alto se não atingirmos nossa meta ambiental.”
Esse tipo de dívida é uma novidade também no mercado internacional, com poucas outras registradas até hoje. Para a Suzano, será mais uma opção num cardápio crescente de financiamentos ‘verdes’ que a companhia pretende manter à mão.
A empresa emitiu um green bond de US$ 500 milhões em 2016, mesmo ano em que captou R$ 1 bilhão com um Certificado de Recebível do Agronegócio (CRA) verde no mercado local. Agora, está também em conversas com bancos para fazer financiamentos bancários atrelados a metas de sustentabilidade.
Nas interações com os fundos que compram seus papéis na Europa e nos Estados Unidos, tem sido cada vez mais comum a demanda por informações ESG.
“E os investidores agora demandam esse tipo de informação não só para os fundos com rótulo ESG, mas também para os seus fundos principais”, diz Bacci.
No mercado asiático, diz, a preocupação ainda não chegou na mesma intensidade do que nos outros dois mercados, mas ele acredita ser uma questão de tempo.
“Esse mercado ainda é pequeno, mas vai crescer e queremos ter uma posição de protagonismo para ajudar na disseminação e formação de padrões. Acreditamos que, ao longo do tempo, seremos beneficiados com a redução do custo de financiamento.”
Os bancos que coordenam a oferta são JP Morgan, Bank of America, BNP Paribas, Crédit Agricole, Rabobank, Scotiabank e Mizuho.