Para esse pioneiro dos investimentos sustentáveis, comprar green bonds não é mais suficiente

Fundador de fundo soberano da Noruega defende apostar contra empresas que poluem — e concentrar esforços no mercado de dívida

Para esse pioneiro dos investimentos sustentáveis, comprar green bonds não é mais suficiente
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Knut Kjaer é um ícone na indústria de fundos soberanos — e de  investimentos sustentáveis. 

Ele criou o fundo soberano para gerir a fortuna do petróleo da Noruega, que hoje administra US$ 1 trilhão, participou da gênese do mercado de green bonds, os títulos de dívida que financiam projetos que beneficiam o meio-ambiente, e dos Princípios para Investimento Responsável (PRI, na sigla em inglês) da ONU, o guia para os investidores que querem incorporar questões sociais e ambientais à carteira.

Em entrevista à Bloomberg, ele alerta que, para gerar impacto ambiental positivo e em escala, não é mais suficiente comprar green bonds. É preciso ‘shortear’ os títulos das maiores emissores de carbono, isto é, montar operações para apostar na queda do preço dos papéis de dívida de companhias que poluem.

Há duas razões fundamentais para que ele defenda essa estratégia: o tamanho reduzido do mercado de títulos verdes e o fato de que boa parte dos grandes poluidores do mundo não negocia ações em bolsa. 

Ou seja, o volume de negócios que pode mover o ponteiro está no mercado de dívida. 

“Apenas fazer o bem ao comprar green bonds não é suficiente. É um mercado muito pequeno, que representa apenas 0,5% do total de bonds em circulação”, disse Kjaer em uma rara entrevista. 

“A maior parte da produção de carvão vem de companhias não listadas [sem ações em bolsa] que estão no mercado de dívida”, afirmou. “Ao shortear esses títulos, você aumenta o custo de captação dessas empresas, e ao longo do tempo vai ganhar pela redefinição de preço desses bonds”. 

Segundo ele, das 100 empresas mais intensivas em combustíveis fósseis, apenas 40 ou 41 têm ações listadas. Todas, no entanto, estão no mercado de dívida. 

Kjaer vem defendendo, por exemplo, a aposta contra os títulos do Adani Group, o conglomerado indiano que está erguendo uma mina de carvão colossal no meio da Austrália.

“O caso Adani é crítico porque se a mina de carvão for adiante, pode ser um poluidor massivo”, disse. Mas, como o projeto tem uma margem de lucro baixa, shortear de forma bem sucedida os bonds da Adani aumentaria o custo de captação e poderia fazer o projeto descarrilhar. 

No Brasil, o mercado de green bonds ainda engatinha. Mas os conselhos do economista, que partem de um dos mercados mais sofisticados de títulos verdes, dão a medida do caminho que esses produtos podem seguir. 

Hoje, além de conselheiro para fundos soberanos e empresas de private equity, Kjaer é chairman da Sector Asset Management, um hedge fund de US$ 2,5 bi e que abriga a Diem Green Credit, uma estratégia de renda fixa voltada para gerar retorno e reduzir as emissões de carbono. 

Apesar de ser um entusiasta do papel dos investidores para conter as mudanças climáticas, ele reconhece que as estratégias de investimento são apenas uma parte da solução.

“O que precisamos é de uma mudança completa das políticas governamentais”, disse à Bloomberg. “Eu tenho que ser otimista: por trás desses governos há pessoas reais, com filhos e netos, que verão mais e mais provas [da mudança climática] e isso os forçará a agir”.