Não durou nem um mês a posição da Anheuser Busch Inbev (ABI) como dona da maior linha de crédito ligado a metas de sustentabilidade do mundo.
O empréstimo de US$ 10 bi assegurado pela dona da Ambev com um sindicato de 21 bancos em meados de fevereiro foi desbancado hoje pela italiana Enel, de energia elétrica — num movimento que confirma a consolidação da tendência da dívida ‘sustainability-linked’, que emergiu no ano passado.
A Enel, que controla a distribuidora de energia da região metropolitana de São Paulo, conseguiu uma linha de crédito de € 10 bilhões com 35 bancos, cujos juros variam de acordo com metas ligadas à sustentabilidade, com prazo de cinco anos.
Diferentemente dos títulos verdes, que têm recursos carimbados para projetos específicos com benefícios socioambientais , os sustainability-linked bonds (SLB) — ou, nesse caso, loans — permitem o uso mais geral dos recursos, mas empresas se comprometem com metas ambientais que afetam a remuneração dos títulos.
Os SLBs vêm avançando rapidamente e emissões públicas feitas por Suzano e Klabin sugerem que os investidores estão dispostos a receber menos por esse tipo de título, que fala bem a língua de incentivos do mercado.
A operação da Enel vai substituir, com juros mais baixos, uma linha do mesmo valor que a Enel tinha a seu dispor desde 2017.
A companhia se comprometeu a reduzir sua emissão de gases de efeito-estufa diretas, ligadas à produção de eletricidade, até o fim de 2023.
Caso o objetivo seja alcançado, caem os juros das retiradas subsequentes da linha de crédito, bem como as taxas cobradas pelos bancos para manter o dinheiro à disposição.
A Enel foi uma das primeiras empresas a testar o mercado com títulos ligados a metas de sustentabilidade, com uma emissão de US$ 1,5 bilhão lançada no fim de 2019.
A linha de crédito anunciada hoje foi feita com base no framework de sustainability-linked bonds lançada à época, e que conta com o parecer de segunda opinião da VigeoEiris.
Na linha de crédito multibilionária garantida pela ABInbev, o custo da dívida varia de acordo com quatro fatores: melhora na eficiência do uso de água nas fábricas, aumento da reciclagem de PET e uso de energia renovável, além da redução de emissões de CO2.