FINANÇAS

BNDES prepara fundo catalítico para financiar projetos verdes

Avaliação é de que falta recursos para investimento via participação acionária; governo quer buscar recursos com estrangeiros 

BNDES prepara fundo catalítico para financiar projetos verdes

O BNDES e o Ministério da Fazenda estão preparando um fundo catalítico para destravar o financiamento a projetos estratégicos de transição energética, apurou o Reset. A ideia é criar um fundo de participação acionária (equity) para mobilizar recursos para projetos que têm dificuldades para atrair capital.

Conhecido como capital paciente, o recurso catalítico pode ser filantrópico ou subsidiado e entra na estrutura de financiamento para reduzir custos ou mitigar riscos, atraindo recursos privados em maior escala. 

O plano é que o fundo seja lançado ainda este ano e busque recursos com investidores multilaterais, soberanos e privados. Já há conversas iniciais, segundo uma pessoa com conhecimento das negociações. 

Um dos objetivos do veículo seria atrair recursos para os projetos da Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP, na sigla em inglês). Anunciada em outubro do ano passado, ela cadastra projetos verdes e os conecta com fontes de financiamento público e privadas. 

O BNDES dá suporte administrativo à plataforma e é responsável pela coordenação com as instituições financeiras. A avaliação do banco de desenvolvimento é que o Brasil consegue mobilizar recursos via dívida, mas que falta dinheiro para participação acionária para a estrutura de capital desses projetos – que, no geral, demanda uma composição de 70% de dívida e 30% de equity. 

Hoje, a BIP reúne projetos de investimentos de cerca de US$ 17 bilhões. Entre eles estão uma fábrica de fertilizantes à base de hidrogênio verde da Atlas Agro em Minas Gerais, uma planta da Acelen para produzir combustível verde de aviação feito de óleo de macaúba e polos industriais da Vale para descarbonizar a siderurgia.

Outro fator identificado pelo BNDES como uma barreira à atração de capital é o  amadurecimento de marcos regulatórios. Entre eles o do hidrogênio verde e a legislação do Combustível do Futuro.

Ponte com capital

A iniciativa do fundo faz parte de uma série de programas do governo federal para reduzir as barreiras para investimentos na transição para uma economia de baixo carbono. No caso do capital estrangeiro, há ainda os riscos associados a países emergentes, como a volatilidade cambial.  

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, definiu 25 prioridades para a agenda econômica do governo Lula entre 2025 e 2026, até o fim do mandato. Delas, oito estão ligadas ao plano de transformação ecológica e a ferramentas das finanças sustentáveis. 

Entre elas, estão iniciativas que envolvem capital catalítico. É o caso do programa Eco Invest, que além de oferecer recursos subsidiados a bancos privados, traz opções de hedge cambial. O primeiro leilão do programa ofereceu R$ 6,8 bilhões a 9 bancos para que eles busquem outros R$ 37,6 bilhões no exterior para projetos verdes.  

A estimativa da Agência Internacional de Energia (IEA) é que o investimento em energia limpa na América Latina precisa atingir mais de US$ 200 bilhões por ano até o início da década de 2030 para que as metas de emissão do Acordo de Paris sejam cumpridas. Cerca de 60% dos recursos precisam partir do setor privado.