O HSBC está pisando no freio em seu compromisso climático e anunciou que a meta é tornar suas operações e cadeia de valor net zero em carbono até 2050 – não mais 2030. O atraso de 20 anos foi induzido principalmente pelo “passo mais lento da transição em toda a economia real”, segundo o banco britânico nesta quarta-feira (19).
Há cinco anos, a instituição havia se comprometido a atingir emissões líquidas zero de gases de efeioi estufa até 2050, o que se refletiria na redução (ou compensação) de financiamentos e investimentos de projetos ou empresas altamente poluentes. Para isso, parte das metas precisaria ser atingida até 2030. Na metade do caminho até lá, porém, o HSBC perdeu a confiança de que conseguiria entregar o resultado.
O progresso na redução das emissões de CO2 no escopo 1 (de emissões diretas) e 2 (geradas pelo uso de energia) foi considerado positivo, com o banco posicionado para cortar 90% delas até 2030. No entanto, o grande desafio está no escopo 3, cuja redução é mais lenta do que o antecipado.
Em instituições financeiras e na maioria das empresas, a maioria esmagadora do carbono está concentrada no escopo 3. No caso de um banco, é onde são contabilizadas operações como o financiamento para uma distribuidora de combustíveis fósseis ou o investimento em uma fábrica de cimento.
Para cumprir com a meta prevista, grande parte do volume de CO2 emitido ao longo de toda a cadeia do HSBC teria de ser compensado com o uso de créditos de carbono, em desacordo com as diretrizes da Science Based Targets Initiative (SBTi), principal conselho para validar os planos de transição de companhias mundo afora.
“Assim, revisitamos essa ambição para levar em conta as últimas orientações de melhores práticas. Agora estamos focados em cortar emissões em nossas operações, viagens e cadeia de suprimentos para atingir o net zero até 2050”, afirma o HSBC em relatório.
Até 2030, o banco prevê reduzir suas emissões em 40% nas próprias operações, viagens de negócios e cadeia de valor.
No documento, o banco afirma ainda estar comprometido com soluções de descarbonização, mas que sua capacidade de financiar essa transição é limitada.
“Medidas políticas governamentais ambiciosas e confiáveis também continuam sendo pré-requisitos fundamentais para a descarbonização da economia real em ritmo suficiente”, escreve a instituição, que afirma não poder superar sozinha o atual atraso de políticas públicas e o ritmo geral mais lento da transição.
Emissões financiadas
Também em 2020, o HSBC estabeleceu a meta de prover e facilitar de US$ 750 bilhões a US$ 1 bilhão em investimentos e financiamentos sustentáveis ao longo dos dez anos seguintes.
O plano ainda não foi alterado, mas metas e políticas para sete setores poluentes estão em revisão.
A capacidade de direcionar recursos para a transição verde tem sido impactada por fatores fora de seu controle, afirma o banco. A lista inclui avanços tecnológicos, diversificação da matriz energética, demanda do mercado por soluções climáticas, evolução das preferências dos clientes e liderança governamental e política eficaz.
A combinação dessas frentes no cenário atual levou a uma transição mais lenta do que o previsto para um alinhamento ao Acordo de Paris, e setores altamente poluentes não estão posicionados para limitar o aquecimento global a 1,5ºC.
“Até que a economia real faça progressos significativos na descarbonização, nosso próprio avanço em direção às metas para 2030 e à ambição de net zero para 2050 será limitado”, diz o HSBC.
Atualizações da revisão dos setores – que envolvem grande volumes de dados e metodologias complexas, como ressalta a instituição – serão publicadas ainda este ano.
Revés dos bancos
A decisão do HSBC vem em meio ao afastamento de Wall Street das metas climáticas.
Nas primeiras semanas do ano, Bank of America, Citi, Goldman Sachs e Wells Fargo saíram de mãos dadas da Net-Zero Banking Alliance (NZBA), uma aliança internacional de bancos pela descarbonização de seus portfólios.
Pouco depois, a Net Zero Asset Managers (NZAM), aliança-irmã que reúne gestoras com o mesmo objetivo, suspendeu suas atividades na sequência da saída da BlackRock.
A debandada se deu próxima à posse da presidência por Donald Trump, que rechaça políticas climáticas e orquestrou rapidamente o desmonte da transição energética dos Estados Unidos.
A repórteres, o CEO do HSBC, Georges Elhedery, afirmou que o banco segue como membro da NZBA, mas não comentou se a instituição seguirá comprometida com a aliança futuramente.