A Ambipar pretende levantar entre R$ 3,5 bi e R$ 4 bi no IPO que marcará a cisão da sua divisão de ‘environment’, que reúne os serviços de gestão e valorização de resíduos, apurou o Reset.
O tamanho do cheque chamou a atenção de fundos que vêm acompanhando a empresa.
É quase dois terços do valor de mercado de toda a companhia, que conta também com uma divisão de resposta a acidentes ambientais, chamada de ‘Response’, e é avaliada em R$ 6 bilhões.
Esse é o valor que vem sendo testado com investidores pelos bancos que coordenam a operação.
O tamanho do cheque levantou a suspeita de que haveria uma aquisição jumbo engatilhada. Mas o dinheiro deve mesmo ser usado para alimentar a máquina de diversas aquisições que a companhia vem fazendo desde que estreou no mercado, em julho do ano passado, quando levantou R$ 1 bi.
Em sondagens preliminares com o mercado, feitas durante um ‘non-deal roadshow’, os bancos sinalizaram que a Ambipar teria entre 20 e 25 alvos de aquisições em tratativas já avançadas, com memorandos de entendimento assinados, ainda que não necessariamente em regime de exclusividade.
“Mais do que os ativos que a Ambipar já tem na carteira, essa oferta vai depender da capacidade da companhia de mostrar o que pode gerar de valor a partir do dinheiro captado”, aponta um gestor. “Até agora, ela vem mostrando um bom histórico de geração de valor com aquisições, mas essa captação muda a escala do jogo.”
Outro assunto que apareceu na conversa com os investidores foi o potencial de geração de créditos de carbono por parte da Ambipar — uma opcionalidade dentro da companhia que começou a ganhar mais atenção depois da compra da Biofílica, que tem ampla experiência em serviços ambientais e compra e venda de créditos de carbono florestais.
A companhia vem trabalhando para certificar diversos processos de valorização de resíduos industriais (que antes iam para os aterros e agora são transformados em novos produtos) e que geram redução de gases de efeito-estufa, monetizando o serviço por meio de créditos.
Entre as possibilidades mais avançadas estão o Ecosolo, um fertilizante obtido a partir de resíduos orgânicos gerados principalmente nas operações da indústria de papel e celulose, onde a Ambipar é bastante forte. Além de reduzir as emissões pelo aproveitamento do resíduo orgânico, a Ambipar afirma que o produto permite a captura de CO2 pelo solo.
A Ambipar vem sinalizando ainda o potencial de valor a ser criado em cima da Boomera, focada na cadeia de reciclagem pós-consumo — com forte parceria com cooperativas de catadores — como uma plataforma para alavancar os negócios de logística reversa.
Dobrando a aposta
A oferta ainda está fresca no mercado e as reuniões efetivas devem começar nos próximos dias.
Mas a sondagem indica que a empresa agora batizada de Environmental ESG está buscando um valuation entre R$ 7 bi e R$ 8 bi — até para para que a holding, que é a companhia hoje listada, siga no controle da operação. Os múltiplos de aquisição ainda vão ser testados.
Nas contas de gestoras, a holding (que inclui a unidade de Response) é hoje negociada a cerca de 10 vezes o Ebitda, enquanto a companhia sinalizou que aquisições da ESG que estão no pipeline devem ser avaliadas mais perto de 6 a 6,5 vezes o Ebitda. “Essa diferença mostra a capacidade que eles vêem de gerar valor”, aponta um gestor.
Se e quanto o mercado estará disposto a pagar pela aposta redobrada da companhia é a grande dúvida.
A principal incógnita é se a empresa terá capacidade de processar todas as aquisições e manter o ritmo de integração com um pipeline redobrado — ou se está dando um passo maior que a perna.
Desde o IPO, em julho do ano passado, a companhia fez 17 aquisições, sendo oito na divisão de Environment. E sua ação mais que dobrou de valor, saltando de R$ 24,75 para R$ 53, mesmo depois do banho de sangue na bolsa nos últimos dias.
Os bancos têm sinalizado que a nova oferta vem atraindo o interesse de investidores estrangeiros — hoje não tão representativos na base da companhia. E há quem veja o aumento da liquidez com a nova operação como uma porta interessante de entrada para fundos long-only aumentarem a posição, hoje limitada pela liquidez restrita dos papéis.
A parte pelo todo
O novo IPO foi desenhado de forma a capitalizar o negócio ao mesmo tempo em que mantém o fundador Tércio Borlenghi, que tem cerca de 60% das ações junto com outros membros da família, no controle da holding, que por sua vez, deve ter pelo menos 50% da nova subsidiária.
Como em toda operação que envolve holdings, os gestores nas próximas semanas devem se debruçar para avaliar se vale a pena ficar na empresa “mãe” (que será menos líquida e provavelmente negociará com algum desconto em relação à soma das partes), para capturar o prêmio que a subsidiária quer captar na cisão, ou se faz mais sentido entrar na nova companhia.
A oferta está prevista para acontecer no fim de setembro ou começo de outubro, o que, ao menos em tese, pode afastá-la do período de turbulência da bolsa que vem enterrando vários planos de IPO.
O jogo virou
Quando veio a mercado no ano passado, o que mais chamou atenção dos investidores foi a divisão de Response da Ambipar, de resposta a acidentes e emergências ambientais. A companhia é líder no segmento no Brasil.
A Ambipar vendeu não só a possibilidade de ampliar sua liderança no país, mas também de consolidar o mercado americano — ainda hoje fragmentado como era o brasileiro há 15 anos, quando a companhia começou a consolidação por aqui.
Mas, apesar do avanço das aquisições nessa frente, a divisão de Environment, que presta serviços de gestão de resíduos para grandes indústrias, começou a ganhar a dianteira, especialmente depois da compra da chilena Disal, por R$ 800 milhões.
Foi o maior cheque assinado pela Ambipar — acostumada a aquisições de menor porte –, mas um movimento transformacional. A companhia praticamente dobrou sua receita e seu Ebitda no setor de gestão de resíduos, marcando o início da internacionalização também nessa vertical.
A oferta da Ambipar é coordenada por Bradesco BBI, Santander e UBS BB.