Tinder dos fretes: startup LogShare capta R$ 12 mi

Empresa faz o 'match' de empresas para otimizar o transporte de carga e evitar que caminhões viajem vazios

Caminhões em rodovia brasileira
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A startup de logística LogShare acaba de captar R$ 12 milhões numa rodada de capital semente para expandir o negócio, que nasceu há apenas dois anos e já tem gigantes como Coca-Cola, Grupo Pão de Açúcar e Pepsico entre seus clientes.

A rodada teve a participação dos fundos Oxygea, veículo de corporate venture capital ligado à Braskem, Seedstars, Valutia, Silence e Rally Cap. ONEVC, Niu Ventures e FJ Labs, que já haviam aportado valores anteriormente, também entraram nessa nova operação.

O negócio da LogShare é uma plataforma de software parecida com a do aplicativo de relacionamento Tinder.

Os matches não se dão entre pessoas, mas empresas: a startup junta a companhia A, cujo caminhão está voltando vazio para a base, com a empresa B, que tem interesse naquela rota.

“Deu o match, os dois têm que aceitar. Quando isso acontece, a gente traz a transportadora deles para o jogo e faz o negócio”, diz Pedro Prado, CEO e cofundador da LogShare. A empresa afirma oferecer uma redução média de 26% no custo de frete.

O problema da ociosidade das frotas é crônico para a área de logística ao redor do mundo e também no Brasil. 

No país, em média, os caminhões rodam vazios 47% dos quilômetros que percorrem, percentual bem mais alto que a média de 25% registrada em países desenvolvidos, segundo um estudo do Banco Mundial.

Movidos basicamente a diesel, os caminhões deixam uma pegada de carbono significativa: hoje, o transporte doméstico e internacional é responsável por cerca de 20% das emissões globais de gases do efeito estufa, também de acordo com o Banco Mundial.

A idade da frota também pesa na conta. No Brasil, os caminhões têm uma média de 14,1 anos, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Antigos, abastecidos com combustíveis fósseis e rodando vazios, eles podem ser um problema para os planos de descarbonização das empresas.

Prado afirma que a LogShare ajuda a reduzir em 40% a quantidade de emissões de seus clientes associadas à logística rodoviária.

“A nossa maior proposta de valor hoje é ajudar os nossos clientes com as metas que eles mesmos desenharam e não sabem como vão resolver. Todos já prometeram não somente reduzir, mas zerar suas emissões [de gases de efeito estufa]”, diz.

“[Os clientes] conseguem ter alguma gestão de redução do escopo 3, que é extremamente relevante”, afirma Livia Hallak, administradora do portfolio da Oxygea. 

O chamado escopo 3 diz respeito ao carbono emitido na cadeia de valor das empresas. O escopo 1 corresponde às emissões da operação, e as de escopo 2 abrangem a energia consumida pelo negócio.

Quer entender melhor o escopo 3? Preparamos um guia com tudo o que você precisa saber

Compartilhamento

Criada por Prado, executivo com passagens por Coca-Cola e pela consultoria McKinsey, e mais dois sócios, a empresa nasceu com um cliente grande, o Grupo Pão de Açúcar, que fez um piloto com a startup ao longo de 2022.

“Antes de ter a LogShare como parceiro, o Grupo Pão de Açúcar abastecia 500 lojas no Brasil diariamente. O caminhão saia daqui de São Paulo, ia para Brasília e voltava vazio, ou ia para o Nordeste e voltava vazio”, diz o fundador.

A ideia é que as empresas possam compartilhar informações de frete, rotas e veículos dentro da plataforma da LogShare, conectando diferentes companhias que querem otimizar suas rotas.

Eis um exemplo: um caminhão que saiu de São Paulo para Belo Horizonte com uma carga de refrigerantes da Coca-Cola pode retornar para a capital paulista com móveis e equipamentos da Leroy Merlin.

Para que o negócio entre as duas empresas aconteça, a plataforma faz uma avaliação prévia de 15 parâmetros. “O Pão de Açúcar vai indicar: meu caminhão que volta é desse tipo, não aceita cargas X, vai voltar dessa origem para esse destino, vai ficar tantas horas nessa origem, tantas horas nesse destino, etc”, explica.

Um algoritmo faz o cruzamento dos dados e dá uma nota para a possibilidade de negócio entre as duas empresas, que vai de 0 a 150. 

“Se a nota vai de 1 a 30, a gente nem apresenta uma empresa para a outra, porque a chance de um match é muito baixa. Mas, a partir de 30, fazemos a conexão”, diz Prado.

A LogShare cobra uma mensalidade das empresas que entram para a plataforma e também um valor variável pela quantidade de matches gerados, ou seja, quanto mais matches o cliente conseguir, mais a LogShare vai receber.

Projetos para o futuro

Desde sua criação, a startup trabalha apenas com grandes empresas, uma estratégia que foi proposital, segundo Prado.

“Demora para você ter uma Pepsico [como cliente], mas quando você consegue , da noite para o dia temos 10 mil rotas a mais [no sistema]”, afirma.

Além de buscar companhias de grande porte, a startup foca em negócios de perfil parecido, como varejistas e bens de consumo.

Com a rodada de investimento, a ideia é buscar setores. Prado diz mirar agronegócio, indústrias de base e indústrias químicas.

“Preciso ter muitas rotas para que os matches tenham eficiência. Se saísse conectando indústrias de perfis diferentes nesse primeiro momento, nunca iria encontrar esse efeito de rede”, diz.

A LogShare também quer alcançar clientes menores e mais regionalizados a partir do ano que vem.

“Hoje tenho a Mondelez, mas agora quero atacar indústrias de chocolates do Nordeste, indústrias de bebidas do Sul. Até porque, se as grandes companhias têm carência de tecnologia, imagine as menores”, diz.

O maior desafio, segundo Prado, estará em convencer pequenos e médios fabricantes a compartilhar informações internas com outras empresas – e eventuais concorrentes.

“A gente está desenhando um processo para a entrada desses pequenos, principalmente do lado dessa segurança de dados. Não é tão trivial virar a chave para os pequenos, a gente tem que garantir toda uma infraestrutura”, explica.