Startup de cirurgias oftalmológicas de baixo custo busca R$ 10 mi

Central da Visão usa infraestrutura ociosa de clínicas privadas para expandir acesso a operações de catarata

Startup de cirurgias oftalmológicas de baixo custo busca R$ 10 mi
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Operar a catarata de um único olho, um procedimento comum que não dura mais que 20 minutos, pode custar até R$ 10 mil no atendimento particular. Na startup Central da Visão esse valor é reduzido entre 15% e 50%, segundo estimativas próprias.

A healthtech consegue oferecer cirurgias oftalmológicas a baixo custo ao conectar clínicas particulares com horários ociosos a pacientes de baixa renda que não poderiam arcar com o custo total dos procedimentos. Do faturamento, 70% vêm das operações de catarata, que lideram a fila geral de espera do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Com mais de 200 médicos parceiros em 13 Estados e no Distrito Federal, a Central da Visão realiza, em média, 500 cirurgias por mês. 

Para levar seu modelo mais longe, a empresa acaba de dar início à sua terceira rodada de captação. A expectativa é levantar R$ 10 milhões até o fim do ano, diz o fundador e CFO Guilherme de Almeida Prado. 

Os planos de expansão incluem inaugurar a primeira clínica parceira no Maranhão ainda neste ano e oferecer outras especialidades, como otorrinolaringologia e urologia.  

Se bem sucedida, a nova rodada representará um salto em comparação aos R$ 3 milhões captados ao fim de 2021, com os grupos de investidores anjo Gávea Angels, Hangar 8 Capital e 4am Capital.

Em 2022, a empresa também fez uma captação subsequente de R$ 1,6 milhão, que atraiu o Columbia Ventures, formado por ex-alunos da Universidade de Columbia, e a Sororitê, comunidade de investidoras anjo.

A Central da Visão contratou a boutique de M&A VoxPak e as conversas devem se concentrar em fundos voltados para saúde, tecnologia e impacto.

Do primeiro contato à cirurgia

A startup é voltada para pacientes das classes C e D. Um dos seus diferenciais, diz a sócia e CEO Marta Luconi, é o atendimento humanizado e o uso de linguagem descomplicada – e isso é essencial para o modelo de negócios. 

A empresa só fatura se a cirurgia acontecer. A startup recebe 25% da receita que o paciente encaminhado gerou para a clínica. 

A comunicação é um ponto-chave, e os clientes são informados do valor do procedimento logo de saída, incluindo eventuais consultas extra ou exames necessários.

“Toda vez que crescemos, consumimos caixa no curto prazo. Nossa jornada [com o paciente] é longa e só recebemos o retorno no quarto ou quinto mês, quando a operação é realizada”, diz Prado, que fundou a companhia em 2017. 

Nos últimos 12 meses, 68% dos pacientes que deram início ao processo com a Central da Visão para tratar de catarata acabaram fazendo a operação. É uma taxa de conversão alta em comparação às concorrentes, afirma Luconi.

“Isso ocorre porque muitas healthtechs são apenas geradoras de leads. Somos especialistas na jornada inteira e, com isso, conseguimos uma participação [no valor pago pelo paciente] 2,5 vezes maior que a média do mercado”, diz a CEO. 

Os desafios na jornada

Até que médico e paciente estejam frente a frente, no entanto, o caminho é longo. “Começamos a entender que metade do nosso trabalho é fazer o agendamento da consulta e outra metade é garantir que o paciente vá a consulta”, afirma Prado, o fundador.

A expertise da empresa envolve entender o nível de interesse e propensão dos pacientes para realizar a cirurgia e adequar a comunicação pelo site ou por telefone. O público é composto majoritariamente por idosos e pessoas menos digitalizadas.

“Um paciente com plano de saúde já está acostumado aos processos e a fazer exames periódicos. O de menor renda às vezes não sabe por onde começar”, diz Prado. Um dos trabalhos da empresa junto às clínicas parceiras é sensibilizar médicos para instruírem também sobre a burocracia envolvida.

Para estender o serviço também a pessoas com demais limitações financeiras, a Central da Visão fechou uma parceria com duas fintechs: na Finanzero, é disponibilizado um empréstimo pessoal para pessoa física, e no Creditas, o modelo é por crédito consignado privado. 

*Atualizada às 11h32: O valor da operação da catarata foi alterado de R$ 15 mil para R$ 10 mil, de acordo com o tipo de materiais e procedimento realizados pelas clínicas parceiras da Central da Visão.