Alicerce e Terra Nova se unem para levar educação à periferia

Iniciativa quer chegar a mais de 20 mil famílias em 40 comunidades em ocupações irregulares; empresas de impacto social fazem piloto em São Paulo

O distrito de Perus, em São Paulo
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As startups de impacto social Alicerce Educação e Terra Nova acabam de fechar uma parceria para expandir o acesso à educação em regiões periféricas.

Cada uma das empresas vai contribuir com sua especialidade.

O Alicerce oferece aulas de reforço e desenvolvimento pessoal no contraturno escolar, fortalecendo a educação das crianças – e também dando oportunidade para que mães e pais dos alunos tenham com quem deixar seus filhos durante parte do dia.

Já a Terra Nova trabalha com uma metodologia própria de regularização fundiária urbana, fazendo a mediação de conflito entre donos de terras e famílias que construíram habitações irregulares em propriedades que não eram suas. Os posseiros pagam parcelas de valores módicos e, ao fim de todo o processo, se tornam proprietários dos terrenos. (Entenda como a Terra Nova trabalha)

Juntas, elas pretendem levar as atividades educacionais do Alicerce para as 40 comunidades onde a Terra Nova atua, nos Estados de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia e São Paulo. A intenção é chegar a mais de 20 mil famílias.

As crianças e jovens que participarão do projeto não vão pagar nada. A ideia é que filantropos e empresas banquem a iniciativa.

Um piloto está sendo desenvolvido com 40 pessoas em uma comunidade do distrito de Perus (foto), a cerca de 30 quilômetros da região central da capital paulista.

A partir de julho, o projeto deve ser expandido para outras localidades, começando por Araucária, na região metropolitana de Curitiba, no Paraná, Estado onde nasceu a Terra Nova.

Expansão

A intenção é levar o projeto para pelo menos mais três comunidades até o fim deste ano, segundo o diretor-presidente e sócio-fundador da Terra Nova, André Albuquerque.

Para ele, a parceria das duas empresas representa uma forma importante de integração social e urbanística para as populações.

“Existe um ganha-ganha nesse processo. Ações como essa são importantes para que a gente trate essas áreas, que são muitas vezes apartadas da cidade formal”, diz ele.

Iniciativas como essa contribuem para mitigar a falta de infraestrutura básica no espaço urbano, um problema que o Brasil ainda não conseguiu resolver.

Em metrópoles ou cidades médias do interior, muita gente mora longe do trabalho, do colégio, dos serviços e do lazer – ou as estruturas da área estão longe de atender à demanda da população local.

Mesmo com o lançamento de projetos habitacionais públicos ou financiados via programas governamentais, como o Minha Casa, Minha Vida, ainda é comum que esses empreendimentos não estejam acompanhados de uma infraestrutura adequada.

“A educação faz parte de uma estratégia de regularização fundiária. A educação e as ocupações ilegais e das invasões são as duas grandes dores do Brasil”, resume Paulo Batista, CEO do Alicerce. 

Perus

A ideia de unir as duas startups veio de uma inquietação do empresário e empreendedor Luís Alexandre Chicani, CEO e fundador das empresas BenCorp e ClubSaúde, de benefícios corporativos e saúde ocupacional.

A família da ex-esposa de Chicani possuía uma área de 64 mil metros quadrados na região de Perus que foi sendo invadida ao longo dos últimos 30 anos.

Inicialmente, tentou-se o modelo convencional de reintegração de posse via ação judicial. Mas isso acabava sendo pouco efetivo, uma vez que a comunidade crescia sem parar. Chicani percebeu que precisava de outra abordagem.

Há pouco mais de uma década, ele começou um trabalho de regularização fundiária dos terrenos com a Terra Nova.

No ano passado, o empresário resolveu inserir o componente educacional e conectou as duas startups – ele integra o conselho de administração do Alicerce.

“Tudo isso significa devolver para a sociedade um pouco do que a gente construiu”, afirma Chicani.

Financiamento

O financiamento dessas empreitadas não passa apenas pela filantropia. A ideia das startups é que o dinheiro venha tanto de pessoas físicas, quanto jurídicas.

No projeto de Perus, por exemplo, a família dona da área assumiu os custos. Mas Alicerce e Terra Nova querem trazer também as companhias presentes nos entornos das comunidades.

“A gente vai dizer para essas: ‘Estou regularizando a área, tem esse número de famílias, tem uma demanda de crianças que a gente poderia estar atendendo com o projeto. Nós precisamos de tanto recurso para poder começar”, diz Albuquerque, da Terra Nova.

Paulo Batista, do Alicerce, atenta para o fato de que as empresas estão inseridas no cotidiano das comunidades e podem exercer um papel relevante de transformação social em suas vizinhanças.

“Elas eventualmente sofrem os riscos da submoradia instalada na comunidade. E também tendem a se beneficiar do capital humano que está ali, pois as crianças são filhas de seus colaboradores”, afirma ele.

O Alicerce atende 30 mil alunos em 23 Estados brasileiros, o que garantiria a operacionalização do projeto, segundo Batista. “Nosso modelo é totalmente escalável.”

A ambição do empreendedor é que a iniciativa tenha alcance maior que o sentido diretamente nas comunidades. “Se a gente conseguir o impacto que espera, vai ser um case global do capitalismo de impacto.”