Carbono, metano e redução de emissões com certeza estiveram entre os termos mais falados nas últimas semanas, em meio à COP 26. Mas os termos como ‘equilíbrio’ e ‘justiça social’ continuam faltando.
A pauta climática é sobretudo uma questão de justiça social — e essa discussão precisa ganhar escala. Temos que adotar uma visão holística para entender o efeito das soluções no longo prazo, tal como propõem as políticas econômicas mais modernas e o investimento de impacto.
Embora seja fácil apontar o dedo e dizer que deveria ter sido diferente, o fato é que o desenvolvimento dos países do norte se deu pela indústria movida a carvão e lenha retirados do solo e das florestas desmatadas há anos.
A China, nação emergente de maior destaque, tem replicado esse modelo de crescimento e em poucas décadas tornou-se uma das principais economias do mundo, além de uma das maiores nações vilãs do clima, como mostrou reportagem recente da Bloomberg.
Ou seja, para o planeta e para nós mesmos, esse modelo tradicional é insustentável e está fadado ao fracasso, como evidencia a própria existência da COP.
Hoje, além de desigualdade econômica e no acesso à tecnologia, há uma pressão por novos meios de produção e novas fórmulas de crescimento. E os países e empresas mais pobres que lutem para reinventar a roda do desenvolvimento, sem emissão de CO2 e com o uso de tecnologia que ainda lhes sai cara.
É justo? Claramente não.
Então, o que seria justo?
Novos vetores de crescimento
Enquanto os países desenvolvidos têm capital, os emergentes têm mais áreas preservadas, e é neles que está o potencial de desenvolvimento de negócios e tecnologias que regeneram a natureza e estimulam o equilíbrio socioambiental.
Sim, é justo que os esforços relacionados a preservação e regeneração sejam financiados pelos países ricos e industriais. A redução de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera beneficiará a todos, ricos e pobres, do Ocidente e do Oriente, e por isso os esforços nessa direção precisam ser combinados e em certa medida regulados, como prevê o Artigo 6 do Acordo de Paris.
E aqui vale celebrar o avanço nos acordos para mitigação e compensação das emissões de GEE entre os países realizado na reta final da COP 26.
A regulação global do mercado de carbono e do pagamento por serviços ambientais – como o da preservação, adaptação e regeneração, que naturalmente é feito por países com grandes áreas conservadas, como o Brasil – muda o balanço entre o mundo desenvolvido e o mundo emergente.
Mas preservação e regeneração só serão possíveis em grande escala e no longo prazo se forem acompanhadas de desenvolvimento econômico regional. Sim, isso é possível. O avanço gradual em tecnologias e as inovações nos modelos de negócios já permitem tal conciliação, como o ecossistema de impacto socioambiental tem acompanhado de perto.
Precisamos, porém, de um tripé: direcionamento de programas para uma economia verde, pesquisa e capital.
Novos vetores de desenvolvimento para uma economia verde não serão possíveis sem pesquisa e capital. E o capital sem uma diretriz embasada em pesquisas pode ser desperdiçado. Enquanto sociedade e em prol da justiça social, não é o que deveríamos querer.
Economia verde na prática
Mas, afinal, o que seria um programa de economia verde?
● Matriz energética limpa ou neutra em carbono;
● Infraestrutura verde — novos materiais e tecnologias para tornar elementos como aço e cimento neutros em carbono;
● Agricultura de baixo carbono e proteínas alternativas, com novas tecnologias para fertilizantes e defensivos agrícolas, biotecnologia para cultivos adaptados a novos climas, e redução do impacto da proteína animal no clima;
● Cidades sustentáveis, com novas formas de transporte de pessoas e bens, além de maneiras de aquecer ou resfriar ambientes.
Se na teoria o programa parece claro, na prática a execução ainda é complexa no Brasil e no mundo.
Governo, empresas, bancos
É dos governos a tarefa de formular políticas públicas que estimulem os novos vetores de crescimento, agora de uma economia verde e de baixo carbono. E cabe às empresas e ao setor financeiro o desenvolvimento e financiamento das tecnologias e inovações que tornarão essas políticas possíveis.
O caminho é cheio de desafios. No caso da energia, por exemplo, o setor de combustíveis fósseis tem subsídios, o que joga para baixo os preços cobrados do consumidor. Enquanto isso, a energia neutra em carbono depende de tecnologias ainda caras e dificilmente um subsídio na mesma proporção dos combustíveis fósseis poderá ser aplicado imediatamente.
Ou seja, se for feita agora, a transição integral para a energia neutra vai encarecer os produtos em grande escala. Há um risco inflacionário brutal e, de novo, uma questão de (in)justiça social.
Precisamos de uma ativa cooperação entre setores público e privado para combinar esforços e entender o momento certo de ajustar subsídios ou dar tração a um ou a outro tipo de desenvolvimento. É combinando planos, operações e expertises públicas e privadas que vamos alcançar a sustentabilidade econômica, social e ambiental necessária.
O investimento de impacto tem tudo para ser o parceiro-chave nesse processo, pois tem uma visão holística e de longo prazo, além de saber gerenciar o impacto das soluções.
Lembra dos termos ‘equilíbrio’ e ‘justiça social’ que trouxe no início do texto? Eles são chave para os novos vetores de crescimento econômico. Afinal, um planeta saudável não significa que as pessoas e a economia não sejam importantes.
*Gilberto Ribeiro é sócio e COO da Vox Capital.